Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Índice de desempenho socioeconômico no Brasil cresce 12,8% entre 2008 e 2018, diz IBGE

As perdas, mensuradas pelo IPQV, é uma consequência das dificuldades que as famílias têm para transformar os seus recursos e aquisições.

Postado em: 23-06-2023 às 13h24
Por: Matheus Santana
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As perdas, mensuradas pelo IPQV, é uma consequência das dificuldades que as famílias têm para transformar os seus recursos e aquisições. | Foto: Divulgação / Prefeitura de Boa Vista

O IBGE divulgou nesta sexta-feira (23/6) uma atualização dos indicadores que medem a qualidade de vida da população brasileira. Os dados foram divulgados pela primeira vez em 2021, com os resultados da última edição da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2017-2018. Agora, os cálculos foram estendidos para as informações da edição anterior da pesquisa realizada entre 2008-2009. Enquanto o Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS) avalia o progresso socioeconômico a partir da renda, o Índice de Perda de Qualidade de Vida (IPQV) identifica as privações que as pessoas enfrentaram.

As perdas, mensuradas pelo IPQV, é uma consequência das dificuldades que as famílias têm para transformar os seus recursos e aquisições de bens e serviços em qualidade de vida. Esse índice alcança temas como bem-estar, desigualdade, exclusão social e pobreza, além de trazer recortes variados. O estudo identificou que entre os principais fatores que afetam essa conversão estão as próprias características das famílias, os aspectos da sociedade e os locais onde vivem.

Os indicadores foram realizados a partir de nove temas: renda, moradia, acesso aos serviços de utilidade pública, saúde, educação, acesso aos serviços financeiros e padrão de vida, alimentação, transporte e lazer e viajem. Algumas dessas características que foram consideradas na identificação das perdas foi a ausência de banheiro no domicílio, pouco espaço na residência e a avaliação sobre o próprio lazer da família.

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“A partir dos indicadores de cada dimensão, é possível calcular a perda que cada pessoa tem (na qualidade de vida), como ter um lazer considerado ruim ou passar tempo demais no transporte”, explica o analista da pesquisa, Leonardo Oliveira. De acordo com esses cálculos, e do total dos elementos, é estimada a função de perda de cada pessoa.

IDS aumenta no Brasil

De 2008-2009 a 2017-2018, tanto o Brasil como todas as Unidades da Federação tiveram aumento na qualidade de vida e bem-estar, medido pelo Índice de Desempenho Socioeconômico (IDS), passando de 5,452 para 6,147, com uma variação de 12,8%. Ao incluírem-se as aquisições não monetárias de serviços, captadas apenas na edição 2017-2018, o IDS passa para 6,212.

Os maiores acréscimos no IDS ocorreram em Roraima (32%), e Sergipe (25,8%) onde a renda disponível familiar per capita (RDFPC) é mais baixa que a média nacional, já no Rio Grande do Sul (9,1%) e Rio de Janeiro (5,6%) tiveram os menores acréscimos.

Segundo o analista, Leonardo Oliveira, o IDS d estados com rendas muito elevadas, pequenos incrementos do IPQV podem anular os benefícios gerados pelos crescimentos de renda. Por outro lado, áreas com renda mais baixa, ao apresentarem aumento real na RDFPC e/ou melhoria no IPQV, conseguem ter um impacto mais significativo no IDS.

De acordo com o IBGE, O Distrito Federal registrou o maior valor de IDS nos anos de 2017-2018: 6,923 contra 5,969 no período anterior, com alta de 16,0% e ultrapassando São Paulo, que ocupava o topo em 2008-2009. O crescimento do IDS de São Paulo no período foi de 10,3%.

Já Roraima obteve o melhor desempenho, tendo um acréscimo de 32,0% do IDS. O estado também teve uma redução bastante significativa no IPQV (-47,0%), acompanhado do maior aumento da RDFPC, 70% (de 674,65 para R$ 1.148,39).

Em situação oposta está o Rio de Janeiro, sendo a UF com menor incremento no IDS no período (5,6%). O Estado carioca teve o menor aumento de renda real do período, apenas 3,1% (de R$1.645,97 para R$1.696,88), ele também teve a menor queda no IPQV (-22,2%). Outros Estados com destaque foram Maranhão e Pará, que embora tenham mostrado crescimento nos seus respectivos IDS, 18,3% e 16,8%, permaneceram como os mais baixos do país.

Perda de qualidade de vida foi maior em famílias com a pessoa de referência preta ou parda

Entre o estudo realizado nos anos de 2008-2009 e a edição mais recente da pesquisa (2017-2018), houve redução na perda de qualidade de vida da população, passando de 0,227 para 0,157 no período de quase dez anos. Isso representa uma retração de quase 30%. O índice (IPQV) vai de 0 a 1: quanto mais perto de 0, menor a perda da qualidade de vida.

Na análise por cor ou raça da pessoa de referência da família, a pesquisa mostrou que a desigualdade nas perdas de qualidade de vida entre os grupos analisados. Nas duas edições da pesquisa, o IPQV era maior para os domicílios em que a pessoa de referência era preta ou parda, ou seja, havia mais privação de elementos que garantem melhor qualidade de vida. Já na edição de 2017-2018, o IPQV foi de 0,183 quando a pessoa de referência era preta ou parda, enquanto foi de 0,122 quando ela era branca. Para todos os grupos, houve redução frente à POF 2008-2009. Apesar disso, a contribuição para o IPQV para o Brasil como um todo foi distinta, uma vez que a população que vivia em famílias de pessoa de referência preta ou parda respondeu por mais de 60% das restrições para o país.

Conforme a pesquisa realizada pelo IBGE mostra, quando a pessoa de referência da família era mulher, o IPQV foi maior nas duas edições. Assim como no critério de cor ou raça, também houve redução no valor de perda de qualidade entre os quase dez anos. Nesse período, o número de famílias em que a pessoa de referência era mulher aumentou, por isso, a contribuição dessa população para o IPQV passou de 28,2% para 43%. Como as famílias que tinham um homem como pessoa de referência eram maioria no país, esse grupo contribuiu com mais de 50% do valor do IPQV total.

Entre os dois períodos da pesquisa (2008-2009 e 2017-2018), houve redução nos valores de IPQV de todos os grupos de idade. Na edição de 2008-2009, o IPQV foi de 0,247 para as pessoas que viviam em famílias com pessoa de referência de até 24 anos. Já entre as famílias com pessoa de referência de pelo menos 65 anos, o índice chegou a 0,217. A diferença entre os grupos reduziu quase dez anos depois: com valores de 0,167 e 0,155 na edição 2017-2018.

Segundo o IBGE as perdas na qualidade de vida caem à medida que aumenta a idade da pessoa de referência. Nas famílias em que a pessoa de referência tinha 65 anos ou mais, os valores para o IPQV foram menores que os dos demais grupos de idade.

Também foi realizado a medida da perda de qualidade de vida, quando há criança na família. Em ambas as edições da pesquisa, o IPQV era maior quando a família era composta por mais de um adulto com ao menos uma criança. O valor nesse caso ficou acima do estimado para o total do país.

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