Festas juninas aumentam número de lesões por acidentes com fogos

Rosto e mãos são as áreas mais atingidas pelo manuseio incorreto dos fogos de artifício nessa época do ano. As lesões podem ser de moderadas a graves, com casos de amputação

Postado em: 25-06-2018 às 09h40
Por: Kamilla Lemes
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Rosto e mãos são as áreas mais atingidas pelo manuseio incorreto dos fogos de artifício nessa época do ano. As lesões podem ser de moderadas a graves, com casos de amputação

Por causa das comemorações das festas juninas, nessa época do ano ocorre aumento nas vendas de fogos de artifício. Porém, apesar de deixarem as festas mais coloridas e divertidas, é preciso muito cuidado, pois o mau uso dos fogos pode trazer graves consequências à saúde, como surdez, queimaduras e até amputações. Em ano de Copa do Mundo, a competição também contribui para o aumento da compra desses materiais e, claro, aumenta os riscos que envolvem essa prática.

Segundo o ortopedista e cirurgião de mão do Centro de Ortopedia Especializada (COE Goiânia), Henrique Bufáiçal, as lesões por fogos têm uma grande variedade e podem ser desde uma lesão simples até uma lesão complexa e grave. “Na grande maioria das vezes são lesões, pelo menos, moderadas. Devido ao mecanismo da explosão e, por causa da queimadura que o fogo provoca, essas lesões podem levar à laceração grave e profunda dos tecidos da mão e, algumas vezes, também evoluem com queimaduras por conta do calor local”, explica.

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Segundo o médico, as festas juninas e o réveillon aumentam muito o número de atendimentos a esses casos nos prontos-socorros. “As lesões assustam muito pela gravidade e são classificadas como lesões ‘complexas’, quando atinge duas ou mais estruturas de um segmento. O fogo artifício, por exemplo, atinge quase sempre pele, osso e pode acometer tendão, artéria e nervo. Quando muito grave pode levar à amputação do segmento acometido. As cirurgias são muito complicadas, tecnicamente sempre muito difíceis e, na grande maioria das vezes, o paciente terá algum tipo de sequela”, ressalta.

As vítimas desses acidentes provavelmente precisarão se acostumar com uma adaptação, pois raramente vão conseguir realizar suas atividades como faziam antes do acidente. Na grande maioria dos casos, a pessoa perde movimentos e pedaços das mãos, o que leva a prejuízos funcionais e laborais no futuro.  “Sempre tentamos evitar a amputação na cirurgia, seja de um dedo ou mais ou mesmo da mão toda, mas invariavelmente isso acaba acontecendo devido à gravidade. A cirurgia pode ser uma simples sutura da pele lacerada pela explosão do artefato ou, às vezes, precisa de fixação de fraturas e reparação de tendões ou reimplante quando o paciente perde pedaço dos dedos”, diz.

Números

Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2008 a 2016, 4.577 pessoas foram internadas por acidentes com fogos de artifício, com destaque para os estados da Bahia (961 hospitalizações), São Paulo (850) e Minas Gerais (640). Goiás é o 15º, registrando 82 acidentes no mesmo período. Roraima, com 16, Tocantins e Acre, ambos com apenas 13 internações, são os que registram menor número de lesões.

Apesar da venda proibida para menores, quase 25% dos feridos por fogos de artifício no Brasil têm menos de 18 anos. Dos casos registrados, 45% das pessoas têm entre 19 e 59 e quase 30% têm mais de 60 anos. Os ferimentos mais comuns são no rosto e nas mãos. Quando acometidas, as lesões nas mãos apresentam 10% de mutilações graves e levam a uma grande deficiência motora do membro, o que causa afastamento do trabalho por incapacidade e dificuldade na realização de atividades cotidianas.

Dermatologia

Na maioria dos casos de acidentes com fogos o paciente é tratado por uma equipe multidisciplinar pois além do trauma e das queimaduras, podem ocorrer comprometimento dos olhos, etc. “Quando existe um acidente com fogos de artifício primeiro são avaliados os traumas de potencial risco de morte, que são as amputações de dedos, de mãos e a avaliação dos olhos no rosto. Mas cabe ao dermatologista a parte da queimadura e o reestabelecimento das funções da pele porque, muitas vezes, a queimadura é tão grave que a retração da pele impossibilita movimentos”, afirma a médica dermatologista Paula Azevedo Costa.

A abordagem do dermatologista começa focando a diminuição dos riscos de contratura de pele, de falta de mobilidade e acompanha o paciente até os momentos finais em que a pele já está cicatrizada, pois podem ficar restos de pólvora dentro do tecido. “Já atendi um caso de um rapaz que fez sessões de laser para tentar retirar o pigmento escuro que tinha na região da testa que eram restos de pólvora. Em acidentes urbanos podem ficar restos de asfalto cicatrizados junto com a pele e nesses casos, a pólvora forma uma sombra escura que deve ser tratada com laser”, finaliza Paula.

Orientações do Corpo de Bombeiros para queima de fogos de artifícios:

– Comprar em locais de venda autorizados e checar a data de validade

– Jamais segurar nas mãos

– Apesar acender explosivos em locais abertos, manuseados por adulto que não tenha consumido bebida alcoólica

– Bombinhas devem ser acendidas e lançadas em local seguro sem pessoas ou animais

– Fogos maiores não devem ser segurados, mas sempre acesos em bases seguras de ferro ou nas plataformas que vêm nas embalagens

– Caso não haja explosão, mesmo depois de acionar o foguete, o produto precisa ser descartado

– Quando falha, deve-se colocar em um recipiente com água até ficar encharcado para evitar uma explosão tardia 

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