Contratados na construção civil crescem em maio, mas em nível insuficiente para suprir demanda

Segundo a CNI, o índice de evolução do nível de número de empregados da construção ficou em 50,7 pontos em maio de 2023

Postado em: 28-06-2023 às 08h00
Por: Redação
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Em Goiás, a falta de incentivos, à migração dos trabalhadores para a informalidade e o estigma de que o setor da construção civil é pesado dificultam as contratações | Foto: Divulgação/Senai

Por Ícaro Gonçalves e Sabrina Vilela

A indústria da construção civil brasileira aumentou sua capacidade operacional e está empregando mais. É o que apontam os dados da pesquisa Sondagem da Indústria da Construção, divulgada na última semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

De acordo com o levantamento, o índice de evolução do nível de número de empregados da construção ficou em 50,7 pontos em maio de 2023. O resultado é melhor do que o registrado em maio de 2022 (48,9 pontos) e em abril de 2023 (50 pontos).

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“A alta chama mais atenção por estar acima da média histórica para o período. Maio é um mês de queda no emprego, com média de 45,1 pontos”, informou a CNI. Segundo a entidade, dados acima da linha divisória de 50 pontos indicam crescimento do emprego; e abaixo sugerem queda.

Nível de atividade

O boletim também avaliou o índice de evolução do nível de atividade da indústria da construção e a utilização da capacidade operacional, que apresentou o melhor resultado para maio desde 2014.

No primeiro caso, foi observado aumento de 0,1 ponto na comparação entre abril e maio de 2023, passando de 49,7 para 49,8 pontos – variação que, do ponto de vista da CNI, representa “estabilidade”, por estar muito próximo da linha de 50 pontos. Em maio de 2022 este índice estava em 49,5 pontos.

O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, destaca que o resultado obtido em maio “é maior que a média histórica para o mês”, que é de 46,3 pontos. “Isso significa que a quase estabilidade da atividade em maio de 2023 é exceção, pois usualmente temos queda da atividade na passagem de abril para maio”, explicou.

Cenário goiano

Os dados da CNI mostram uma leve reação da indústria civil em nível nacional, mas em Goiás, a análise em período mais amplo mostra o contrário: o setor tem apresentado dificuldades de encontrar mão de obra qualificada nos últimos anos.

No mês de março deste ano, o Conselho Temático de Relações do Trabalho (CTRT) da Fieg, juntamente com o Sebrae Goiás e o IEL Goiás, com o apoio do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás (Sinduscon) e Senai, elaboraram uma pesquisa sobre a escassez de mão de obra na construção civil. Por meio do Observatório Fieg Iris Rezende, o IEL avaliou o desempenho das atividades do setor e as dificuldades que precisam ser corrigidas a fim de encontrar subsídios para enfrentar os desafios.

Entre 2011 e 2020, a construção civil em Goiás registrou uma queda no número de empresas (9%) e emprego (33%). No entanto, a partir de 2019, foi observado uma recuperação do saldo de empregos, mas que ainda eram insuficientes diante da perda de mais de 20 mil postos de trabalho.

Somando-se a esse fato, há o cenário de aquecimento do mercado, que também provocou um aumento considerável no número de registro de obras nos últimos anos (2019 a 2022) – um total de 1.787 registros, três vezes maior que o período de 2011 a 2018 (522).

Questionadas a esse respeito, as empresas e profissionais do setor apontaram como sendo as principais causas da escassez de mão de obra o baixo número de novos ingressantes no mercado de trabalho, a migração para a informalidade, a ampliação dos registros de MEI (microempreendedor individual) – que segundo a Receita Federal teve crescimento médio anual de 35% em 10 anos (entre 2011 e 2021) –, além da falta de interesse diante do estigma de trabalho pesado na construção. 

Entre os trabalhadores que participaram da pesquisa, 87% disseram ser melhor trabalhar na informalidade – para 13%, o trabalho registrado é melhor. Em relação à opinião dos trabalhadores formais e informais, foi identificado que um dos problemas está relacionado aos baixos salários, o que os desmotivam na busca por trabalho registrado, bem como a falta de mecanização nas obras, levando muitos trabalhadores a reclamarem do trabalho pesado nos canteiros de obra.

Em entrevista ao O Hoje, o presidente da Câmara da Indústria da Construção (CIC/Fieg), Sarkis Nabi Curi, afirma que a redução da mão de obra ocorre pela falta de campanhas de incentivos, à migração dos trabalhadores para a informalidade e o estigma de que o setor da construção civil é pesado e desgastante.

“O poder público precisa fazer campanhas para que a pessoa que recebe benefícios sociais busque um emprego, com que essa pessoa almeje crescer na vida. O Senai pode capacitar esse contingente grande de pessoas que vivem do benefício e fazer com que elas tenham uma profissão. É uma mudança na vida dessas pessoas. Esse é um projeto que nós da Federação e da Câmara da Construção estamos propondo às prefeituras”, disse.

“Além disso, existe uma necessidade de industrializarmos o setor da construção. A impressão dos trabalhadores entrantes é que este é um setor de esforço humano muito pesado. Mas isso é passado, hoje nós temos máquinas, equipamentos e ferramentas que já agilizou muito isso. O que nós queremos é fazer um projeto de inovação tecnológica visando a industrialização do setor para que ele possa visto com bons olhos aos novos profissionais, uma vez que a cadeia da construção já paga bons salários, tem auxílio médico para o profissional e sua família, entre outros benefícios”, ressalta Sarkis Nabi Curi à reportagem.

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