Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Casa de Vidro não ‘decola’

Obra foi anunciada inicialmente em 2008 e já passou por mudanças radicais no projeto e no orçamento

Postado em: 30-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Obra foi anunciada inicialmente em 2008 e já passou por mudanças radicais no projeto e no orçamento

Gabriel Araújo*


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Dois meses depois do anúncio do retorno da construção da Casa de Vidro, um centro cultural localizado no Jardim Goiás, a obra segue parada e serve apenas de estacionamento, acumulando lixo e pessoas em situação de rua. O Hoje entrou em contato com a Secretária Municipal de Infraestrutura (Seinfra) questionando o início das obras, mas não obteve retorno até o momento do fechamento desta edição.

A obra foi anunciada há cerca de 10 anos, após a então deputada Dona Iris conseguir a liberação do Governo Federal de R$ 4 milhões para o início do projeto, na época, o local seria construído em vidro, com duas cúpulas, auditório e administração. 

No último mês de abril, a prefeitura de Goiânia deu o primeiro passo para que a obra volte a fazer parte do cronograma de construções municipais. O atual prefeito Iris Rezende (MDB), assinou a ordem de serviço para a retomada da obra e a expectativa é de conclusão em um ano.

Durante o anúncio, um dos arquitetos da Secretária Municipal de Infraestrutura (Seinfra), Fernando Guerra, responsável pelas alterações no projeto, lembrou que as mudanças ajudaram a baixar o preço da construção. “Foi necessária a verificação para melhorar o conforto e possíveis problemas de climatização internos que teria com o telhado de vidro, que deveria ser realizado com um tipo de material específico e que se tornou inviável para a prefeitura. O vidro será mantido, mas somente nas fachadas. Com essas mudanças, o projeto que estava orçado em R$ 6 milhões passou para R$ 3,96 milhões, oriundos do Ministério do Turismo e contrapartida da prefeitura”, contou.

O novo projeto do centro cultural tem uma área de 2.280 metros quadrados e conta com dois salões e um auditório com capacidade para pouco mais de 200 pessoas. “Além disso, o espaço contará com um café e biblioteca virtual. Esse projeto é que diversas pessoas tenham acesso à exposições artísticas, peças de teatro, espetáculos de dança dentro da capacidade do centro”, apontou o arquiteto.

O projeto ainda conta com um subsolo que será a entrada para o estacionamento com acesso pela Rua 52 e no térreo, o principal espaço destinado ao público terá uma cafeteria, com espelho d’água na área externa, um espaço de convivência, auditório com camarins, biblioteca virtual, espaço multiuso, salão de artes e espaço para atividades interativas. O pavimento superior será destinado à administração do centro cultural.

De acordo com o contrato firmado com a vencedora da nova licitação, a Geo Engenharia, os trabalhos devem ser concluídos em 12 meses. Os recursos são uma parceria entre Ministério do Turismo, Prefeitura de Goiânia e Caixa Econômica Federal.  A Secretaria Municipal de Cultura administrará a unidade.

Conforme o secretário de Infraestrutura, Fernando Cozzetti, informou, cerca de 90% da estrutura original será reutilizada. “Uma pequena parte será demolida para adaptação no novo projeto”, completou.

Ainda segundo ele, inicialmente, a obra começou em dezembro de 2010, mas já no início do ano seguinte foi parada. “Eles alegaram inconsistência no projeto, que o orçamento na época não estava refletindo a realidade do projeto, então a empresa paralisou o serviço”, explicou o secretário.

O prefeito de Goiânia lembrou que a obra ainda terá uma arquitetura singular. “Aqui são milhares de pessoas que descem e sobem, andam de um lugar para o outro. Então, vai ser uma obra de chamar a atenção tanto da população quanto dos turistas”, afirmou.

Durante discurso que anunciou o retorno da obra, a ex-deputada e atual primeira dama da Capital, Dona Iris lembrou a importância da construção de um local para evidenciar a cultura goiana. “Tão bem situado, digamos de elite, mas que vai trazer aqueles da periferia que também têm talento natural que Deus lhes deu. Cabe a nós, como poder público, impulsioná-los”, contou.


Histórico

O centro cultural, que ficou conhecido como Casa de Vidro devido ao projeto na época não usual, foi anunciado pela primeira vez em 2008, quando a então deputada federal Dona Iris conseguir a liberação de recurso do Ministério do Turismo por meio de uma emenda parlamentar.

A construção do local teve início dois anos depois, em dezembro de 2010, mas pararam já no início de 2011 devido à rescisão de contrato da empresa responsável pela obra, com apenas 7,25% do projeto concluído. Na época, a empresa alegou incompatibilidade com o valor proposto em contrato e o que seria gasto na obra.

O centro cultural foi orçado em quase R$ 4 milhões e contava com uma cúpula de vidro, com formato elipsoide com mais de 13 metros de altura, um salão multiuso acoplado, que seria revestido com lâminas de alumínio inspiradas nas escamas do fruto do buriti. 


Moradores de rua utilizam a estrutura do local como moradia  

Durante a visita da equipe do jornal O Hoje no local de construção da Casa de Vidro, na última quinta-feira (28), encontramos lixo e pessoas que estão utilizando a construção como casa. A presença de pessoas em situação de rua é uma das principais reclamações da população da região, que temem a utilização de entorpecentes.

De acordo com pesquisa do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal de Goiás (UFG) a região do Jardim América, leste de Goiânia, concentra cerca de 10% das pessoas em situação de rua da Capital, ficando atrás das regiões centrais, com 46,6%, sul, com 15,8% e oeste, com 11,5%.

Dados oficiais do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) estima que mais de duas mil pessoas estejam em situação de rua em Goiânia. Segundo o coordenador estadual do movimento, Eduardo Matos, o poder público não conseguiu acompanhar o desenvolvimento urbano nacional. “O principal problema é a ausência das políticas públicas, que não conseguiu acompanhar o crescimento da população e leva muitas pessoas a situações de vulnerabilidade”, completa.

Devido a grande quantidade de problemas enfrentados por pessoas em situação de rua, elas tendem a procurar por um local onde possam enfrentar a chuva, frio e violência. Este último dado é o mais preocupante, já que somente em 2016, data da última pesquisa realizada na Capital, estima-se que mais de 80 pessoas foram assassinadas, os números não são precisos em razão da quantidade de pessoas ainda não identificadas no Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Científica do Estado de Goiás. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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