Rio Meia Ponte entra em nível de atenção após início da estiagem 

Após registrar uma média de 11,9 mil litros por segundo a vazão entra em nível de atenção, principalmente para diminuição do consumo

Postado em: 04-07-2023 às 09h00
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Rio Meia Ponte entra em nível de atenção após início da estiagem 
A vazão do Rio Meia Ponte entrou em nível de atenção | Foto: Wagner Pereira

Se passaram apenas 20 dias desde as últimas chuvas irregulares registradas em Goiânia, e a vazão do Rio Meia Ponte entrou em nível de atenção, após registrar uma média de 11,9 mil litros por segundo. Sempre que o indicador fica igual ou abaixo de 12 mil litros por segundo, a vazão entra em nível de atenção. A aferição foi feita no ponto de captação da Saneago, no Setor São Domingos, em Goiânia. 

De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), o cenário atual é de segurança no abastecimento durante o período de estiagem, que começou em maio e vai até setembro. Mesmo assim, o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, que faz o monitoramento diário do rio, destacou a importância dos moradores fazerem o uso racional da água, pois o período de estiagem de 2023 pode ser maior. 

“Devido estarmos entrando no fenômeno meteorológico chamado El Niño, que deixará Centro-norte do Brasil mais seco, quando as chuvas voltarem ao normal, elas devem ser mais irregulares. Essa questão da irregularidade causa-se bastante problema, considerando que o nosso período de estiagem vai de maio a outubro. Então temos sim que fazer uma tarefa de casa e preservar água”, explica Amorim.

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No ano de 2017, o estado de Goiás teve uma das piores crises hídricas no Meia Ponte. Na época, a vazão chegou ao nível crítico 4, que é quando o escoamento é menor ou igual a 2 mil litros por segundo. Muitos moradores da capital precisaram fazer rodízio de água durante a crise, que foi agravada pelas chuvas irregulares e consequentemente pelo uso desmedido ou abusivo de alguns usuários. 

Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte (CBH), Fabio Camarço, a principal preocupação é com o uso, que devido ao tempo seco, se intensifica nesta época do ano. “Quando chega nesse nível, a principal ação é comunicar à população e intensificar a fiscalização, ficar claro que estamos entrando em um período de estiagem e daqui até outubro a vazão vai só reduzir”, lembra.

​Dependência 

Atualmente, a água do reservatório da Barragem do Ribeirão João Leite atende 70% da população de Goiânia, Aparecida, Trindade e Goianira. Além de uma pequena parte de Senador Canedo (a cidade tem sistema próprio de abastecimento). A região de Goiânia é alimentada por uma série de corpos hídricos que compõem a bacia do Rio Meia Ponte, inclusive o próprio Ribeirão João Leite.

Mesmo que o nível de atenção seja preocupante, nesse momento iniciam-se muitas campanhas de conscientização pelo uso racional da água da bacia, e o ambientalista e integrante da Associação Guardiões do Meia Ponte, Ernesto Augustus, afirma que o momento é de colocar o pé no freio.  “Para você ter uma ideia, em quatro dias tivemos uma redução de 400 litros no fluxo de água. Esse momento seco, com zero de chuva, a vazão diminui rapidamente”, aponta.

Conscientização e poluição

Os guardiões do Meia Ponte observam que o cenário do Rio é preocupante, considerando que dentro dos centros urbanos as águas são muito poluídas, principalmente após a passagem pelo lançamento do efluente da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Hélio Seixo de Brito e o encontro com o ribeirão Anicuns. “A ETE, inaugurada em 2004, infelizmente só faz o tratamento primário, com cerca de 50% de eficiência. Insuficiente para que o rio tenha bons indicadores”, analisa Ernesto.

Segundo o ambientalista, o rio passa por um longo trecho recebendo esgoto sem tratamento de bairros como: Vila Monticelli, Negrão de Lima, Setor Jaó, Bairro Feliz/Vila Morais, Caiçara, Jardim Novo Mundo entre outros. “A inauguração da etapa secundária de tratamento (que atualmente está em andamento), a interceptação dos esgotos in natura e sua destinação para estações de tratamento de esgoto, e o combate ao lançamento de esgoto clandestino, são fundamentais para termos uma melhor qualidade de água no rio”, aponta como solução.

O desperdício preocupa bastante, e campanhas de conscientização são fundamentais, porém, a água utilizada para abastecimento público da população das cidades é só uma pequena fração do problema. “A maior parte da água é utilizada no campo e pelas indústrias, que são os grandes usuários. Inclusive recentemente o decreto 10.280, de junho de 2023 que regulamenta a lei estadual nº 13.123, de 16 de julho de 1997, que estabelece normas de orientação à política estadual de recursos hídricos que trata sobre a cobrança pelo uso dos recursos hídricos do domínio do Estado de Goiás, inclusive na bacia do rio Meia Ponte”, complementa Ernesto Augustus.

Para evitar um cenário assim como em 2017, André lembra que é sempre bom o uso racional da água, principalmente neste que será um ano mais quente. “Os moradores precisam evitar utilizar água para lavar carros e calçados de maneira desnecessária. Fazer o reuso da água na sua residência é muito importante nesse momento que cada um possa fazer sua tarefa de casa para que nós possamos estender a disponibilidade de água do manancial Meia Ponte até que as chuvas retornem”, orienta o gerente do Cimehgo.

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