Clima faz preço do leite subir

Preço registra alta de 14,3% e produtores enfrentam elevação no custo da produção

Postado em: 05-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Clima faz preço do leite subir
Preço registra alta de 14,3% e produtores enfrentam elevação no custo da produção

Rafael Melo


Continua após a publicidade

De acordo com os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), houve aumento de 4,5% no valor do litro de leite em maio, na comparação com abril, subindo R$ 1,265. Os altos custos de produção e condições climáticas desfavoráveis pressionaram e o preço do leite registrou alta de 14,3% entre maio do ano passado e o mesmo mês deste ano.

Apesar disso, o aumento não beneficiou os produtores que enfrentam elevação nos seus custos de produção. A dificuldade para os pecuaristas poderá ser maior no início da safra, em setembro, já que os preços podem cair com a elevação da oferta. Segundo o analista de Leite do Cepea, Wagner Hiroshi, um dos principais motivos para o reajuste é o clima, que prejudicou as pastagens e fez com que os produtores usassem ainda mais ração animal. “A chuva chegou atrasada e veio forte. Ao invés de ajudar na pastagem, atrapalhou”, disse.

O presidente da Associação de Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez, aponta justamente a falta de pastagem como o entrave central. “Se não tiver comida e tratamento adequado, não adianta chover”, disse. Ele estima que de 30% a 40% do rebanho brasileiro seja especializado na produção de leite. 

Nesse caso, a alternativa é comprar o milho, considerado a principal ração animal. No entanto, a commodity dobrou sua cotação no mercado interno no último ano por conta da demanda aquecida para a exportação. Além disso, a queda no Produto Interno Bruto (PIB) do País resultou em consumidores mais retraídos.


Consumidor

O preço do leite está 30% mais alto na venda de indústrias para atacadistas em relação aos meses anteriores. Em alguns lugares, o preço final do leite está saindo a R$ 3,65, valor este que é visto pelos produtores como consequência da paralisação dos caminhoneiros, que durou dez dias. Com isso, o produto é um dos que devem pesar na inflação em Goiânia neste mês de julho. Consequentemente, os derivados do produto também podem ter aumento.

Segundo o diretor executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Goiás (Sindileite), Alfredo Luiz Correia, houve uma sequência de cinco fatores que pesaram para a alta do preço do produto. Além da greve dos caminhoneiros, na qual, segundo Alfredo, 600 milhões de litros de leite foram descartados no Brasil, a produção passa pelo período da entressafra, ou seja, quando a produção é baixa. “Como estamos no período de seca, o animal acaba sofrendo com a falta de pastagem e isso diminui a sua alimentação natural. Além disso, tem a questão do transporte de insumos, como medicamentos e rações que pesa bastante no preço de venda do produto”, explica o diretor do Sindileite.

O frete é outro fator que define a alta dos preços. Alfredo explica que o valor pago no caminhão comum é pelo seu trajeto. Já um caminhão graneleiro, que transporte os laticínios, é acertado a ida e a volta é acertada previamente e esses valores acabaram dobrando nos últimos meses. “Além disso, tem uns caminhões que fazem o trajeto exclusivamente da propriedade para o laticínio. E, para finalizar, tem a demanda de oferta e procura, que vai determinar o preço final. Principalmente se o produto estiver em baixa”, conta.


Greve dos Caminhoneiros

Como consequência da greve dos caminhoneiros de maio, o Instituto Rabobank afirmou, em relatório divulgado no dia 15 de junho, que a oferta de leite no Brasil deve recuar 9% no segundo trimestre de 2018, ante igual período de 2017. O banco estima que a captação tenha encolhido 20% apenas em maio durante a paralisação dos motoristas. “A produção vai levar um tempo para se recuperar e, provavelmente, vai cair 6% no terceiro trimestre, na comparação anual”, afirma a multinacional. 

A avaliação é de que preços do leite pagos ao produtor deverão ter um pico no terceiro trimestre de 2018. “Tanto os agricultores quanto os processadores terão de absorver perdas de uma redução na renda durante maio e será difícil para o setor, já que ele vem de um período de 12 meses de baixa rentabilidade”, pontua a instituição. 

Veja Também