Mais de 20% de atrasos dos ônibus

Esta semana foi aprovada na Câmara projeto de lei que busca limitar o tempo de espera em pontos de ônibus da Capital

Postado em: 05-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Esta semana foi aprovada na Câmara projeto de lei que busca limitar o tempo de espera em pontos de ônibus da Capital

Gabriel Araújo*


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Na tarde da última terça-feira (03) cerca de 21% dos veículos que faziam parte da frota do transporte coletivo metropolitano estavam atrasados. Levantamento realizado pelo O Hoje revelou que, as 14h22 apenas 500 veículos estavam realizando viagens em toda a Região Metropolitana e, do total, 109 veículos registraram atrasos nas linhas. Se levarmos em consideração os veículos fora de horário, ou seja, tanto adiantados quanto atrasados, o número chega a 142 ônibus. 

A pesquisa utilizou o serviço “Olho no Ônibus”, da própria Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e que mostra, em tempo real, a posição dos veículos utilizados no transporte coletivo. A equipe do O Hoje tentou entrar em contato com a CMTC para questionar o atraso nas linhas, mas até o fechamento desta edição não conseguiu uma resposta. 

Para tentar evitar, ou diminuir, os problemas com o cumprimento de horários dos veículos foi aprovada em segunda votação na Câmara o projeto de lei que estabelece o tempo máximo de espera pelo usuários nos pontos de ônibus do transporte coletivo de Goiânia. 

Pela proposta, as concessionárias do transporte coletivo da Capital ficam obrigadas a disponibilizar ônibus suficientes aos usuários e fica estabelecido um tempo máximo e mínimo para efeito da lei. De acordo o vereador Alysson Lima (PRB), responsável pela produção da proposta, o tempo de espera será de 20 minutos em dias normais, 30 minutos nos finas de semana e feriados e de até 40 minutos em dias de tempo com chuvas fortes e alagamentos.

De acordo com ele, o projeto busca melhorar, mesmo que minimamente, o transporte coletivo na Capital. “Trata-se, na verdade, de um serviço ruim e ineficiente, com passagens caras. Faltam ônibus para atender a demanda nos terminais e pontos de ônibus, ocasionando longas filas para o embarque, veículos lotados nos horários de picos e precariedade do serviço”, diz.

O projeto ainda precisa ser sancionado pelo prefeito Iris Rezende (MDB) e, caso aprovado, dará às empresas 90 dias, após a publicação da Lei no Diário Oficial do Município, para o cumprimento das citadas disposições. De acordo com a proposta, o cumprimento dos horários será feito pelo Serviço de Informação Metropolitano (SIM) e pelo Sistema “Olho no Ônibus”, oferecido pela Rede Municipal do Transporte Coletivo.


Planilha de Férias

Com a produção do último contrato de concessão do transporte coletivo metropolitano, que já conta com quase uma década de funcionamento, foi definido duas diminuições na frota ativa por ano. A chamada planilha de férias é utilizada durante os meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro e tem como objetivo diminuir os gastos com linhas que realizam, principalmente, o atendimento de estudantes.

Conforme foi previsto, no período de férias escolares existe uma queda no tráfego de veículos e um menor número de passageiros em toda a Região Metropolitana. Desde a última semana, cerca de 900 viagens deixaram de ser realizadas, o que gera uma redução média de 9%. A população que antes esperava em linhas que, em dias comuns, demoravam no máximo 20 minutos, passaram a ter de esperar cerca de 40 minutos em média.


Ação

Na última segunda-feira (02) o Ministério Público (MP) entrou com uma recomendação junto à Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) para que as empresas do transporte coletivo não diminuam a quantidade de viagens em algumas linhas mesmo com a implantação da chamada planilha de férias. De acordo com o órgão, a ação busca diminuir os prejuízos gerados pela queda no número de ônibus disponíveis.

Dentre as linhas que fazem parte do pedido estão 020, 014 e 003, responsáveis pelo transporte de muitos passageiros e utilizadas tanto por estudantes quanto por trabalhadores. A CMTC tem cinco dias para prestar informações sobre as medidas que serão tomadas e, em caso de descumprimento da recomendação, o MP pode entrar com uma ação civil por ato de improbidade administrativa.


Menor número

Durante a última greve dos caminhoneiros a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) reduziu a frota ativa do transporte coletivo em 30% devido a dificuldade no abastecimento dos veículos. Na época a ação gerou revolta na população, que chegou a ter de esperar o dobro do tempo para embarcar nas linhas utilizadas.

Conforme afirmou a estudante Tatiane Alves, de 19 anos, que também utiliza o transporte coletivo para ir trabalhar, a demora dos veículos já resultou em prejuízos na vida profissional. “Já perdi provas na faculdade e até cheguei atrasada no trabalho por causa do ônibus que simplesmente não apareceu. Ai quando a gente chega assim acaba ficando com uma imagem ruim, como se a gente não fosse trabalhadora”, contou.

De acordo com a doméstica Maria Nunes, 39 anos, o tempo de espera reflete no problema na segurança e prejudica não só o transporte, mas a própria vida da população. “Semana passada mesmo eu perdi um entrevista de emprego por causa da demora. Como o ônibus demorou quase uma hora para passar, eu cheguei e outra pessoa já tinha ficado com a vaga. Tem ainda a questão dos roubos, que quanto mais tempo a gente fica esperando mais perigoso é para a gente”, conta. 


Má qualidade e insatisfação causam diminuição de usuários  

Quando houve a mudança na configuração do sistema de transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia, por volta de 2006, as concessionárias contavam anualmente com mais de 235 milhões de usuários. Porém, esse número vem caindo todos os anos, uma pesquisa aponta que, de 2008 a 2016, mais de 26% dos passageiros médios abandonaram o sistema. 

Isso representa mais de 61 milhões de viagens que deixaram de ser realizadas por ano. Apenas nos dias úteis, o índice é de queda em 22%, mas o pior ocorre aos domingos e feriados, quando quase a metade (47,3%) dos usuários deixam de utilizar os ônibus.

A queda do número de passageiros, em conjunto com o aumento nos custos do transporte são os principais responsáveis tanto pela qualidade quanto pelo valor cobrado. Para Antenor Pinheiro, especialista em transporte urbano, o usuário goiano é responsável por todos os custos. “Por aqui a tarifa paga pelo usuário continua financiando o custeio do serviço, a manutenção dos terminais, a estrutura do órgão gestor (CMTC) e as gratuidades. Por isso o valor da tarifa é sempre alto.”, afirma.


Reajuste anual

No final do último mês de janeiro, a Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) definiu o novo valor da passagem cobrada no transporte público, o novo valor ficou fixado em R$ 4 e deve passar por reajuste em 12 meses.

Segundo informações da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), em apresentação durante a reunião que definiu o reajuste, o valor da passagem é baseado na soma do aumento dos custos com o combustível, o salário pago aos motoristas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), a coluna 36 da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK). 

O aumento do valor cobrado pela passagem do transporte coletivo da Grande Goiânia foi firmado em contrato na segunda metade da última década, quando novos contratos foram firmados entre o Poder Público e as empresas concessionárias responsáveis pelo transporte de passageiros. 

Na época, o contrato autoriza as empresas a reajustarem o valor da tarifa anualmente, de acordo com o aprovado pela CDTC, que é constituída por onze é representantes do poder executivo e legislativo das cidades que integram a Rede Metropolitana de Transporte e do Estado, além de membro da CMTC e da Agencia Goiana de Regulação (AGR).


Dados

Informações oficiais da RMTC constatam que a Capital é responsável por 74% de todas as viagens diárias realizadas na Rede Metropolitana de Transporte Coletivo. A segunda principal cidade é Aparecida de Goiânia, responsável por 17% das viagens, ao todo são realizadas todos os dias mais de 100 mil deslocamentos nos mais de 1.105 km de extensão de linhas que recebem o serviço. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian). 

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