Brechós crescem em Goiânia e são a nova moda sustentável

Diante do excesso de fabricação e desperdício no mercado de roupas, a reutilização ganha impulso com peças únicas, de qualidade e com melhor custo benefício

Postado em: 14-07-2023 às 08h00
Por: Larissa Oliveira
Imagem Ilustrando a Notícia: Brechós crescem em Goiânia e são a nova moda sustentável
Os brechós se tornaram uma solução para inúmeras pessoas que buscam roupas baratas e de qualidade | Foto: Divulgação/Peça Rara Brechó

Com o mercado de roupas ficando progressivamente mais caro, os brechós ou “moda sustentável” como é conhecido, vem ganhando cada vez mais espaço em Goiânia. O cenário de roupas usadas se tornou uma solução para inúmeras mulheres e também homens que procuram por medidas alternativas para conseguir usar uma roupa boa e ainda pagar barato por isso. Além da qualidade e do preço, os brechós oferecem um consumo consciente e mais sustentabilidade para a vida atual e para as gerações futuras.

Achar que brechó é sinônimo de acúmulo de peças velhas e fora de moda vendidas para um público menos favorecido financeiramente é uma concepção ultrapassada. Nos últimos anos, inúmeras redes desse mercado se expandiram pelo país. Hoje, se tornaram uma opção de compra para diversas pessoas. Em Goiânia, Peça Rara é uma das franquias em ascensão. As duas lojas da capital estão lotadas de peças em tão bom estado de conservação que parecem novas, além de modelos de grife custando milhares de reais.

“Muita gente pondera muitos aspectos quando nos procuram, mas o preço ainda é o chamariz. A ideia é agregar e não segregar, por isso recebemos peças de qualquer marca, desde que atendam a três pontos: estado de conservação, qualidade e atualidade. Temos  blusinhas de departamento ou sem marca de R$ 20 a artigos da Louis Vuitton, Gucci, Valentino, como uma mala da Chanel que custa R$ 10 mil aqui, sendo o valor original de R$ 70 mil”, afirmou a dona da franquia na capital, Rosa Martins.

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Reutilização

De acordo com o gerente da unidade da Avenida T-9, no Jardim América, a Peça Rara surgiu há 15 anos, em Brasília, e se tornou uma franquia em 2020. “São pouco mais de 50 unidades. Em Goiânia, são duas: a unidade da T-9 e outra na Alameda Ricardo Paranhos, no Setor Marista. As lojas da capital trabalham com uma média de 10 a 12 colaboradores. Então, está sendo um mercado que também gera empregos”, afirmou o gerente David Alex Guimarães da Silva. 

Em entrevista exclusiva ao O Hoje, David explicou que o público da franquia é bem amplo. “Trabalhamos com a sessão infantil de zero a 16 anos, que além das roupas vão ter brinquedos, carrinho de bebê, berço, bebê conforto, e outros utilitários. O público feminino é nosso carro chefe, porque a mulher é a que mais desapega e é a que mais adere à compra de peças que já foram utilizadas. Os homens têm uma dificuldade maior de desapegar, porém estamos tendo um volume masculino bem legal”, destacou David Alex. 

O gerente ressaltou que tem roupas para todos os públicos e todos os gostos. “Atendemos tanto o público que queira comprar peças mais caras quanto o que queira comprar uma roupa de departamento. Sempre observamos o estado de conservação, porque não adianta a gente colocar peças para serem reutilizadas e ressignificadas e não estarem em um estado legal. Acredito que o brechó consiste nisso, em possibilitar que aquilo que estamos vendendo tenha uma nova utilização na vida de outra pessoa”, apontou.

Diferenciais

Ainda segundo o gerente da Peça Rara, existem dois pontos que diferenciam o brechó das lojas convencionais: peças únicas e custo benefício. “Sabemos que a cada ano as marcas renovam suas coleções e criam novas tendências sobre aquilo que eles acreditam, e também temos conhecimento que grande parte da população adere a esse novo ciclo de compra. Fazendo até, muita das vezes, as pessoas se vestirem iguais”, levantou David Alex Guimarães da Silva.

No brechó, o gerente destaca que isso não acontece. “Recebemos peças de coleções antigas, peças personalizadas, peças que foram fabricadas a anos atrás e que mesmo assim, são peças que nos permitem estar nos vestindo de maneira confortável e única. Como sabemos que a moda ultrapassa o tempo, essas peças ainda se encaixam na atualidade”, enfatizou. Além da autenticidade, David salienta sobre o custo benefício ser extremamente notável.

“Nos causa até um certo espanto e isso é proporcionado pelo cenário econômico atual. Porém, quando você adere à prática de “garimpar” no brechó, consegue encontrar peças que estão super conservadas e atuais, e que estão custando 20% ou 30% do valor original da peça. Isso faz com que o cliente do brechó tenha uma economia e continue se satisfazendo com suas aquisições”, acentuou. David Alex também acentuou sobre a importância do brechó para o consumo sustentável.

Sustentabilidade

Conforme David disse ao O Hoje, a indústria têxtil é uma das áreas que mais poluem o planeta. “Infelizmente, a produção é feita de maneira que se pensa apenas no lucro privado, e não na saúde a longo prazo de nosso planeta e de nossas vidas também. Se a cada vez mais o second hand (segunda mão) estiver crescendo, é um bom sinal para nos indagarmos: Será que precisamos dessa quantidade de roupa?”, argumentou o gerente da Peça Rara. Para ele, a reutilização é uma resposta ao questionamento que levantou. 

“Espero e trabalho para que os brechós cresçam, e que nós consigamos passar essa resposta e talvez frear essa produção, para que nós, no futuro, consigamos ver um planeta menos poluído e com uma cultura com menos preconceito sobre a ressignificação”, afirmou o gerente. Sara Rocha Muniz é uma das pessoas que já aderiram ao consumo sustentável. “Desde que eu me entendo por gente, eu e minha família temos o costume de comprar em brechó”, relatou.

A jovem contou ao O Hoje que, no início, era por conta do valor mais acessível. “No entanto, conforme os anos foram passando, fui tomando consciência sobre a importância da moda circular. Passei a comprar em brechós a partir de um pensamento ambiental e social. Menos acúmulo, menos produção de tecido e descartes. Sem falar das inúmeras lojas com envolvimento no crime de exploração da mão de obra. Além disso, pessoas que consomem de brechós não correm o risco de terem/verem outros indivíduos possuindo a mesma peça. Trata-se de exclusividade, roupas contam histórias”, explicou Sara Rocha Muniz.

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