Ballet Terapêutico do Crer promove saúde e inclusão social

Intuito é obter os benefícios da melhora da postura, alongamento, fortalecimento muscular, equilíbrio, socialização e inclusão

Postado em: 14-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Intuito é obter os benefícios da melhora da postura, alongamento, fortalecimento muscular, equilíbrio, socialização e inclusão

Raunner Vinícius Soares*

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Com o objetivo de ajudar crianças com alguma dificuldade ou necessidade especial, o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) oferece um tratamento diferente do convencional, o Ballet Terapêutico. O tratamento utiliza a aprendizagem do Ballet clássico e tem o intuito de obter os benefícios da melhora da postura, alongamento, fortalecimento muscular, equilíbrio, socialização e inclusão.

Conduzido por uma fisioterapeuta, uma terapeuta ocupacional e por uma psicóloga, o Ballet Terapêutico trabalha a autonomia e a segurança motora da criança de um modo geral. A fisioterapeuta Danyelle Sousa de Paula Costa, professora da turma, explica que o ballet terapêutico permite que a criança vivencie a iniciação de uma prática esportiva com respeito às limitações de seu próprio corpo. A terapia foi iniciada em 2014. O projeto foi implantado no hospital pelas profissionais da equipe multiprofissional, Danyelle Sousa de Paula Costa e Izabel de Melo Pereira Martins. As aulas acontecem uma vez na semana, com crianças de três a dez anos.

A diretora Multiprofissional de Reabilitação e Readaptação do Crer, Sônia Adorno, explica que o Ballet Terapêutico é mais uma ferramenta de inclusão social para a pessoa com deficiência. “Os ganhos motores, psicológicos e sociais dessa terapia levam à inclusão desses pacientes. Já tivemos muitas crianças que saíram do ballet terapêutico do Crer direto para turmas inclusivas de Ballet convencional”. Para a diretora, “a inclusão da pessoa com deficiência só é possível se começarmos o trabalho inclusivo pelas crianças. Elas se tornam multiplicadoras para os adultos, já que elas ainda não têm um olhar preconceituoso sobre as diferenças”.

Izabel Martins Bilibio, terapeuta ocupacional, idealizadora do projeto fez aula de Ballet durante a infância. Pensando em fazer algo para agregar as terapias das crianças, porque, segundo a mesma, elas estão cansadas e não tem maturidade para enfrentar uma fisioterapia, ou uma fonoaudióloga, até mesmo, uma terapia ocupacional individual. “Nós pensamos em agregar algo, dentro das terapias, que não isola as terapias individuais. É como se fosse ‘um mais’ onde as crianças conseguissem se envolver emocionalmente, porque faz toda diferença para elas em relação a autoestima, e tem uma repercussão positiva em relação a atenção. Então pensando nisso eu e a Danyelle Sousa de Paula, professora da turma e minha amiga, tivemos essa idéia há 4 anos. Levamos o projeto com os objetivos e tudo que era necessário, e  nossos chefes disponibilizaram as salas, então começamos”, explica.

A terapeuta ocupacional relata que todo ano contempla novas crianças, no caso criança de 3 anos até 8. Ou seja, elas ficam aqui com a gente durante um ano, depois a turma se renova. Ao idealizar o projeto, “pensamos que o esporte, no caso a dança, não só como o Ballet, mas como um tratamento psicológico, na parte emocional e comportamental. Uma visão da fisioterapia, na questão músculo/esquelético, do crescimento que as meninas estão passando por essa fase. Uma visão da terapia ocupacional, em relação a função, o que pode ajudar nas atividades da vida diária, que é colocar roupa, autocuidado, autoestima, concentração, atenção, memória musical. Tudo isso foi unido junto aos objetivos, e repercute no lado emocional, fazer amizades”, afirma Izabel.

Efetividade

Nesses 4 anos, de acordo com a terapeuta,  a eficiência do tratamento vem sendo comprovada, a equipe está ampliando para melhorar a qualidade da pesquisa. Como as crianças entram no tratamento e como elas saem. Desde o ano passado a equipe começou a fazer uma pesquisa com as mães.  “Os progenitores chegam com suas inseguranças, afinal é o primeiro convívio social das crianças antes da escola. Além de serem meninas com deficiência, tanto cognitiva, quanto intelectual e até mesmo física, por tanto tem limitações diversas para fazer amizade, para aprendizagem, então gostamos de saber se está sendo eficiente o tratamento”, informa a terapeuta.

Izabel diz que conta com o apoio profissional dos colegas do Crer, e diz que, hoje, a ‘menina dos olhos’ do Crer é o Ballet Terapêutico, que tomou uma proporção que não esperavam. Não teve um lado contrário, tivemos apoio total dos colegas e da instituição. “No inicio não pensei que ia dar tão certo, fomos ousados, porque foi o primeiro Ballet Terapêutico de Goiás. Uma coisa é ter uma aula de dança normal, e a outra é o Ballet Terapêutico onde temos uma diversidade de patologias. O que eu sei de dança é só como aluna, não tive uma formação de professora, só que nós tentamos agregar para essas crianças. Até agora o tratamento só repercutiu de forma positiva”, pontua.

A terapeuta vê as aulas como tratamento médico e, também, tratamento emocional. Por se tratar de casos de crianças que passaram por cirurgias, e o médico, muitas vezes, acabou de liberar, então tem um ganho no pós-operatório. Segundo a Izabel, às vezes são crianças com amputação, e estão passando por adaptação da prótese. Ou são meninas cadeirantes e até mesmo crianças que começaram a andar este ano. “O tratamento alavancou muito a parte muscular e o emocional, porque elas se olham no espelho o tempo todo e olham a deficiência das colegas o tempo todo. Portanto as meninas têm uma rotina fixa de abraçar, dar bom di’, amarrar o cabelo da colega, arrumar a sapatilha uma das outras. Uma ajuda mútua muito grande entre elas”, relata.

Izabel Martins Bilibio já trabalha com crianças especiais há 12 anos, e via esta urgência de trabalhar a contribuição entre as meninas. “Ter essa questão de uma ajudar a outra, da criança maior ajudar a menor. Nas turmas temos sempre uma representante, tem alguém para empurrar as que são cadeirantes, e a gente viu essa necessidade foi apresentando crianças com diversas patologias. “Estimulamos para que a ajuda mútua se torne rotina. E uma das repercussões sociais muito grandes que vi, também, foi o fato das mães ter se tornado amigas. Fazem grupos no aplicativo, fazem reuniões para uma ajudar a outra, acabaram fazendo uma rede de apoio. “Por exemplo, uma das crianças não tem a mãe, só tem o pai, e foi como se todas as outras mães adotassem ela”.

Durante o tratamento fazem um questionário de qualidade de vida, dos pais, no inicio de tratamento e no final do ano.  “Notamos uma melhora”. Este questionário é quantitativo tem um percentual então vemos o quanto elas melhoraram. Além de celebrar todas as datas comemorativas para se orientar anualmente, porque as crianças com deficiência intelectual não sabe muito bem o que quer dizer. “Sempre falamos sobre datas, fazemos presentes para as mães, sempre tem o cuidado de falar sobre o calendário, que o final do ano está chegando, porque elas têm uma dificuldade de orientação. A sociedade não está preparada para essas crianças, e por isso situamos sempre”, diz Izabel.

A terapeuta ocupacional diz que, no geral, são crianças que passaram por muitas dificuldades, portanto é uma realização para os pais. O tratamento prepara os alunos para o mundo e para esporte, praticamente todas as crianças das turmas passadas estão incluídas em uma aula de Ballet profissional fora da instituição. “Eu sei que baby class começa com 2 anos, mas o profissional só com 5. Nós do Ballet Terapêutico damos uma base para elas terem segurança, e se elas quiserem e forem da vontade das famílias, elas podem entrar na aula. E o que a gente vê é que o enfrentamento social é maior, se sentem mais seguras. Algumas mães nos falaram que as filhas ficavam com medo de levantar o dedo na hora da aula, para não ser vista, agora estava aparecendo mais, se mostrando mais, perguntando mais. Então com certeza essa questão social de preparar para o mundo, salve que não temos uma magnitude de preparar totalmente, mas que damos um ‘ponta pé’, com certeza”. 

Mães especiais para meninas mais que especiais 

Bárbara Barros Tomé, mãe da Suzana Gabriela, 3 anos, que tem um atraso no desenvolvimento psicomotor, só andou apenas com 2 anos e 4 meses  e ainda não tem um diagnóstico fechado do porque deste atraso. Bárbara explica que o atraso físico foi percebido, quando a criança aparentava não ter força para engatinhar. “Com 1 ano e meio não apresentava sinal nenhum que ia andar”. Então começamos a investigar.

Primeiro achamos que era problema ortopédico, levamos no ortopedista e ele encaminhou para o Crer e o neurologista descobriu o que era, que o atraso era de cunho neurológico.  Com o Ballet Terapêutico, Bárbara fala que Suzana Gabriela desenvolveu muito. “Gigantescamente”.  Diz que equilibro melhorou muito, principalmente a noção espacial, a interação entre as colegas.

Outra mãe, Marilene de Fátima Rodrigues, fala que as aulas são ótimas. “Sarah Emanuely, minha filha, tem paralisia cerebral. Já com um ano e sete meses ela não andava, não sentava, só se arrastava. Entrou no Crer, a partir deste momento seu desenvolvimento foi ótimo”. Com o Ballet, Marilene diz que a filha desenvolveu muito, começou as suas aulas em janeiro, não andava, agora já anda. “A interação social melhorou muito, é uma criança bem ativa. Agora ela quer dançar em casa, querer ensinar a irmã e as coleguinhas a dançar. Isso me deixou bastante satisfeita”, afirma a mãe.

A terapeuta ocupacional Izabel Martins Bilibio, afirma que gosta muito de uma frase do Charles Chaplin que, de acordo com ela, é uma pessoa extremamente influenciadora em sua vida e no trabalho com crianças especiais. “‘A persistência é o caminho do êxito’, se a gente não desistir essas crianças vão nos dar a resposta, das deficiências mais leves às mais graves. A persistência é o caminho”. (Raunner Vinícius Soares é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)  

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