Motociclistas são as pessoas mais vulneráveis no trânsito

Especialistas alertam sobre a importância das pessoas que pilotam moto contribuírem para a previdência social para serem amparadas em caso de acidentes

Postado em: 27-07-2023 às 12h00
Por: Larissa Oliveira
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Nos últimos dez anos, o número de motociclistas cresceu mais de 50%, passando de 23,3 milhões para 35,2 milhões | Foto: iStock

Hoje, é celebrado o dia do motociclista. Nos últimos dez anos, o número de brasileiros habilitados para pilotar motos cresceu mais de 50%, passando de 23,3 milhões para 35,2 milhões. Os dados são da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo). No entanto, os motociclistas são os que estão mais vulneráveis no trânsito. De acordo com o Observatório de Segurança e Saúde, as motos foram as principais responsáveis pelos acidentes de trabalho em todo o Brasil. Em 2022, 24.642 acidentes envolvendo pessoas que pilotam motos foram registrados no país. 

Segundo o Ministério Público do Trabalho, os acidentes envolvendo motociclistas informais não entram na estatística. Portanto, o número real de acidentes tende a ser bem maior. De acordo com o advogado especialista em direito previdenciário, Jefferson Maleski, os informais também não recebem benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Infelizmente se ele não for contribuinte do INSS e sofrer um acidente, ele está descoberto. É como você bater um carro e não ter seguro. É a mesma coisa com o motociclista entregador de aplicativo”, explica. 

O previdenciarista também informa que, para aqueles que trabalham com o transporte de passageiros, a única forma de proteger o garupa é com um seguro privado da moto. “O motociclista tem que ter um seguro contra acidentes, pois ele vai cobrir os danos na moto, no piloto e no passageiro”, aponta o advogado. O seguro contra danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre (DPVAT), tem pagamento obrigatório para o governo por todos aqueles que possuem veículos. Entretanto, o seguro não auxilia completamente em todos os prejuízos do solicitante. 

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“O DPVAT até cobre danos físicos (despesas médicas, invalidez e morte), mas possui um limite máximo de cobertura que pode não ser suficiente para cobrir todas as despesas envolvidas. Ele cobre até R$ 2.700 com despesas médicas e hospitalares e até R$ 13.500 em caso de invalidez permanente ou morte”, esclarece Jefferson Maleski. O especialista destaca que as pessoas que trabalham pilotando motos precisam contribuir para a previdência social, pois ficam amparadas. Segundo o advogado, estando escrito junto ao INSS, o motociclista passa a ter direito a todos os benefícios previdenciários.

“Mas principalmente a dois relacionados a acidente. O primeiro seria o auxílio por incapacidade temporária, se ele se acidentar e ficar, por exemplo, três meses afastado, durante esses três meses ele recebe esse benefício. Ele também passa a ter direito ao auxílio acidente se voltar a trabalhar com a capacidade reduzida. Digamos que ele se acidentou e voltou mancando, isso reduz a capacidade de trabalho dele e poderá pedir o auxílio acidente, que será pago enquanto ele está trabalhando”, explica o especialista em direito previdenciário.

Jefferson Maleski também ressalta que a empresa só terá responsabilidade sobre o motociclista se ele for contratado com carteira assinada, o que não é o caso da maioria daqueles que trabalham com aplicativos, seja de entrega, seja de transporte de passageiros. “Se ele for prestador de serviço onde ele é MEI (Microempreendedor Individual) ou é autônomo, a empresa não tem responsabilidade nenhuma. Por isso é vantajoso que o motociclista de aplicativo, o entregador, que ele abra um MEI e faça o recolhimento da contribuição junto ao INSS”, salienta o advogado.

Saúde

Entre 2011 e 2021, houve um aumento de 55% da taxa de internações de motociclistas na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) e conveniados. Os dados foram divulgados em abril deste ano pelo Ministério da Saúde. Segundo o Boletim Epidemiológico sobre o cenário brasileiro das lesões de motociclistas no trânsito, em 2011, a taxa de internação de motociclistas foi de 3,9 e passou para 6,1 por 10 mil habitantes em 2021. De acordo com o ortopedista Murilo Daher, as fraturas mais comuns sofridas por motociclistas que se acidentam são nos membros inferiores. 

“Principalmente, fraturas expostas da tíbia, no fêmur e no pé. Contudo, fraturas de coluna e membros superiores podem acontecer. Geralmente, pela alta velocidade, os motociclistas apresentam múltiplas lesões”, afirma. O médico, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, informa que nem todo caso é cirúrgico. “A maioria é possível ser tratada com imobilizações com gessos, talas e órteses. É indicado cirurgia nos casos onde há um grande deslocamento ósseo, presença de fragmentos ou fraturas expostas”, explica o especialista em ortopedia.

Em relação ao tratamento, o médico revela que é um pouco demorado. “Geralmente de seis a 12 semanas para se regenerarem em um grau significativo. Lembrando que dependerá da localização, gravidade da fratura e do tipo de procedimento, quando cirúrgico submetido”, detalha. O especialista ressalta que os adeptos de atividades físicas costumam se recuperar de forma mais acelerada. “A prática de exercícios físicos prévios à cirurgia auxiliam em uma recuperação mais rápida devido a uma boa densidade óssea e boa força muscular, tornando capaz de retomar as atividades de vida diária mais rápido”, enfatiza.

Após o tratamento, o ortopedista orienta que é importante exercitar as demais áreas do corpo não atingidas e retomar as atividades da região acometida o mais breve possível após a regeneração das estruturas lesadas. “É preciso respeitar o tempo de formação do calo ósseo, evitando movimentação local, mas após essa regeneração é muito importante recuperar a funcionalidade da estrutura acometida”, explica. O médico salienta ainda que uma alimentação balanceada é essencial para os ossos. “Alimentos ricos em cálcio, vitamina D e proteínas, associada à prática de exercícios físicos, auxiliam na densidade óssea”, conclui Murilo Daher, especialista em ortopedia.

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