Polícia procura pastor suspeito de sequestrar e torturar dependentes químicos em Abadia de Goiás 

Em clínica clandestina, polícia encontrou 58 pessoas que declararam que eram mantidas em cárcere privado

Postado em: 03-08-2023 às 08h00
Por: Yago Sales
Imagem Ilustrando a Notícia: Polícia procura pastor suspeito de sequestrar e torturar dependentes químicos em Abadia de Goiás 
O pastor foi preso, mas depois, ao deixar a cadeia em uma dessas saidinhas, não voltou à prisão | Foto: Reprodução/PM

Um caso de suposto desrespeito aos direitos humanos repercutiu nacionalmente após uma operação, chamada de ‘Falsos Profetas’, da Polícia Civil de Goiás, contra uma clínica que seria destinada para o acolhimento e tratamento de dependentes de tóxicos e álcool. 

O caso ocorreu em uma chácara em Abadia de Goiás, que fica a 22km da capital. A Polícia prendeu cinco pessoas entre pessoas que eram responsáveis pelo local e três funcionários dessa clínica. Uma pistola também foi apreendida. 

Além de não ter alvará de funcionamento para tal atividade, o proprietário do local, que também afirmava ser pastor, é apontado por denunciantes ouvidos pelos policiais e investigadores como responsável por submeter os internos a sessões de tortura. Ele é suspeito de manter os dependentes químicos em cárcere privado. 

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Antes, porém, segundo a investigação, essas pessoas seriam vítimas do chamado “resgate”, que é interpretado como sequestro. O modus operandi teria se repetido em várias unidades “ditas clínicas” ou casas de recuperação. 

Familiares desesperados ligam ou vão pessoalmente a esses lugares e indicam o lugar onde o dependente está. Então, um grupo designado pela clínica ficaria responsável por ir ao local, supostamente amarrar e levar o dependente à força para a chácara, o que seria entendido como internação compulsória. Tudo isso sem receituário médico ou alguma decisão judicial, como prevê a legislação. 

Nesta unidade em específico, a polícia investiga uma morte, o que desencadeou a operação que fechou a clínica. É que uma pessoa, que supostamente não aceitava a internação, teria reagido e sido morta pelos funcionários da instituição, agora, fechada. Segundo a Polícia Civil, o paciente teria sofrido um mata-leão. 

Com a operação, desencadeada pelo delegado de Posse, Humberto Soares, foram identificados na clínica clandestina 38 pacientes. O pastor que seria responsável pelo local, Alécio Gomes Vieira Júnior, e está foragido, é apontado como o brutamonte que seria o responsável por aplicar penalidades aos internos submetidos à proibição de ter contato com qualquer coisa que fosse alheia à clínica. 

O grupo foi levado à delegacia para dar detalhes da rotina no estabelecimento. Aproveitaram para corroborar a tese de que eram mantidos em cárcere privado e, ainda, seriam submetidos a violência psicológica e verbal. E afirmaram que eram dopados. 

Segundo a Polícia Civil, entre os 38 anos pacientes encontrados na clínica, havia gente, além de Goiás, de Minas Gerais, Tocantins e até da Bolívia. 

Os cinco presos podem responder a uma lista de crimes. Pela morte do interno que resistiu à internação à força, eles podem ser indiciados por homicídio qualificado, sequestro, cárcere privado e associação criminosa. 

Casos

Em 2017, um pastor chamado Daniel Batista foi preso após a imprensa divulgar que ele mantinha, em Aparecida de Goiânia, além de internos sob tortura, um esquema de venda de balas em linhas de ônibus do transporte coletivo. Ou seja, usava a mão de obra barata para lucrar às custas dos dependentes químicos. O pastor foi preso, mas depois, ao deixar a cadeia em uma dessas saidinhas, não voltou à prisão.

Além dos casos de tortura, são comuns registros de  acidentes por falta de estrutura nesses locais. É o que ocorreu em 2018 em uma dessas clínicas quando dois pacientes morreram – um de 32 e outro de 17. Outra pessoa ficou ferida. À época, a Comunidade Terapêutica Beth Shalom, localizada no Sítio Recreio Pindorama, foi fechada.

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