Uso de celular pessoal no trabalho: inimigo ou aliado?

Usar o telefone particular de forma imprudente no trabalho pode impactar a eficiência do colaborador e gerar consequências negativas tanto para ele quanto para a empresa

Postado em: 04-08-2023 às 11h30
Por: Larissa Oliveira
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Alguns colaboradores destacam que o uso de celular pessoal deve ser permitido para questões urgentes, principalmente as que envolvam a família | Foto: Wagner Pereira

O desempenho e a produtividade são competências bastante analisadas e monitoradas no ambiente de trabalho. O que gera dúvida para muitos goianos é se o uso de celular pessoal durante o expediente pode interferir negativamente nesses índices. De acordo com uma pesquisa, realizada pela CareerBuilder, mais de 55% dos chefes acreditam que o celular é um dos principais culpados da perda de produtividade. Mas, afinal, usar o telefone particular prejudica mesmo o trabalho? A maioria das pessoas com quem a reportagem do Jornal O Hoje conversou disse que sim.

Não dá para negar que os avanços tecnológicos revolucionaram as formas de trabalhar, principalmente a partir da pandemia da Covid-19. Os aparelhos eletrônicos foram essenciais para que as pessoas pudessem manter os negócios em dia, quando não era permitido sair de casa. Entretanto, essa transformação digital também pode prejudicar, além de ajudar. O uso de celular pessoal no ambiente de trabalho é um bom exemplo disso. Ao contrário do que alguns acreditam, essa ferramenta pode impactar a eficiência do colaborador e gerar consequências negativas tanto para ele quanto para a empresa.

Desempenho

Segundo a contadora Cleonice Maria Rosa, no escritório de contabilidade em que trabalha, o uso de aparelho móvel particular é permitido. “Eu uso celular pessoal no trabalho, mas apenas em momentos em que não haja demanda ou no horário de almoço, por exemplo, quando não estou no expediente”, afirmou ao O Hoje. A especialista em auditoria contábil conta que isso não interfere no seu desempenho e nem na produtividade. “Porém, na minha opinião, usar o celular pessoal pode sim interferir de forma negativa na performance de algumas pessoas”, destacou.

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Para a contadora, a linguagem pessoal e profissional precisam de uma distância segura. “A comunicação no WhatsApp, por exemplo, não é totalmente formal quanto deveria ser para assuntos profissionais. A linguagem empresarial não precisa de emojis, figurinhas ou outras expressões pessoais. Por isso, quanto menor o contato com a vida particular, melhor será a comunicação dentro do ambiente de trabalho, pois um não vai interferir no outro”, explicou Cleonice Maria Rosa. Outro contador que conversou com a reportagem do O Hoje foi Marco Aurélio Lino.

Diferente de Cleonice, Marco proíbe completamente o uso de celular pessoal no ambiente de trabalho. “É disponibilizado um aparelho corporativo aos colaboradores para que tenham acesso a um WhatsApp da empresa e resolvam assuntos dos departamentos internos”, explicou. O contador informa que, apesar de concordar que o uso de telefone particular possa interferir no desempenho profissional, gostaria que o acesso fosse liberado. “Sou pai e já sou avô, então em momento de urgência familiar, preciso ter conhecimento para estar à disposição. Mas como vou saber se é uma emergência se não posso nem atender meu celular?”, questionou Marco Aurélio. 

Prudência

O contador afirmou que o uso de celular pessoal deve ser permitido, mas apenas em casos de necessidade. “Ou seja, não pode ser usado por muito tempo”, destacou. Mateus Monteiro Silva é estudante de Educação Física e atualmente também trabalha em um escritório de contabilidade, atuando como analista de legalização de empresas. “O uso de celular pessoal não é permitido, mas eu gostaria que fosse, não para me distrair com futilidade e perder meu foco, mas sim para ter contato com familiares e receber informações importantes sobre a minha graduação”, enfatizou.

O jovem afirmou ao O Hoje que não acha que utilizar seu telefone particular possa afetar seu desempenho no trabalho. “Creio que não, porque já utilizamos o celular da empresa para algumas demandas aqui no escritório, então utilizar o nosso celular não iria atrapalhar, mas desde que seja usado com responsabilidade”, ressaltou. Segundo o analista, existe uma linha muito tênue entre um intervalo necessário e a procrastinação. “A maioria das funções que realizo exigem atenção plena, então não vou ser ingênuo e atrapalhar meu rendimento me distraindo com o celular”, afirmou. 

Os smartphones se tornaram o dispositivo mais comum do brasileiro para uso pessoal e acesso à internet e já fazem parte da vida de cada um dos funcionários. “É impossível banir completamente. Seria prudente talvez liberar o celular em alguns horários com um tempo limite de uso e monitorar aqueles em quem o chefe não confia plenamente para utilizar o telefone durante o expediente. A fiscalização dos colaboradores já é feita pela empresa. Além disso, as conversas paralelas, às vezes, podem ser mais prejudiciais do que uma simples mensagem enviada”, acrescentou Mateus Monteiro. 

Consequências

De acordo com o advogado Eduardo Silveira, especialista em direito trabalhista, é desaconselhável tentar convencer o chefe a liberar o uso do telefone para fins pessoais. “O uso de celular pessoal no ambiente de trabalho pode afetar o desempenho do funcionário, causando distrações, diminuindo a produtividade e interferindo na concentração nas atividades de trabalho, o que pode gerar prejuízos financeiros e até mesmo acidentes de trabalho”, afirmou. Segundo Eduardo, a organização pode sim proibir o uso de celular pessoal durante o expediente.

“A empresa tem o direito de estabelecer regras dentro do ambiente de trabalho, especialmente se estiverem explícitas no manual do empregado e regimento interno. No entanto, o empregador deve disponibilizar um aparelho telefônico para que os colaboradores possam se comunicar em casos de urgência”, destacou. O advogado ressalta que a legislação prevê que, caso um funcionário seja pego utilizando o telefone particular sem autorização, pode ser penalizado. “O uso inadequado do celular pessoal no trabalho pode levar a advertências, suspensões ou demissão, conforme a política da empresa”, informou Eduardo Silveira.

Porém, para que as punições possam ser aplicadas, é importante definir regras que sejam claras aos funcionários. “Caso esteja explícito no regimento, nas formas do art. 482, alínea h, caso funcionário se negue, pode ser configurado como ato de insubordinação, o que pode levar até mesmo à justa causa”, destacou o advogado. Outro ponto que gera dúvidas entre muitos trabalhadores é sobre a obrigatoriedade ou não de participarem de grupos de WhatsApp criados pelos seus superiores. Nesse caso, Eduardo Silveira explica que depende das normas de cada empresa.

 “Em caso de previsão dentro do regimento interno, o funcionário está obrigado a participar. Porém, desde que seja dentro do horário de expediente e que os assuntos conversados no grupo de WhatsApp estejam restritos à função do colaborador em questão. Caso a obrigatoriedade não esteja prevista no regimento interno da empresa, é de caráter opcional ao funcionário participar”, salientou Eduardo Silveira, especialista em direito trabalhista.

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