Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Itauçu, a cidade goiana que pode se tornar a ‘capital do salgado’ de Goiás

Projeto de deputado da Alego vai impulsionar economia local e estimular criação de associação e festival gastronômico

Postado em: 05-08-2023 às 07h55
Por: Matheus Santana
Imagem Ilustrando a Notícia: Itauçu, a cidade goiana que pode se tornar a ‘capital do salgado’ de Goiás
Nilson Carlos dos Reis herdou receita da mãe e é um dos mais antigos na atividade na cidade | Foto: Wagner Alves

A história da lanchonete de Nilson Carlos dos Reis se confunde com a de Itauçu, cidade a 70 km de Goiânia. Nilson é, entre os quase 9 mil moradores, um dos mais conhecidos de Itauçu que, a depender do paladar dos 41 deputados estaduais, pode se tornar a capital do salgado. Por isso a reportagem do jornal O Hoje passou o dia na cidade para conversar com aqueles que colocam a mão na massa diariamente para alimentar milhares de viajantes que passam pelo município por uma das cinco rodovias estaduais que a cortam, tendo a GO-070 como a mais importante.  

Próxima à Praça Central, a lanchonete do Nilson é uma herança familiar. Impossível que alguém que tenha passado por lá décadas atrás não a reconheça como ela era nos idos da década de 1970. Filho de um casal mineiro, os pais de Nilson chegaram à cidade não demoram para que pudessem abrir um pequeno negócio no ramo dos salgados.

A lanchonete de Nilson é um negócio de família que vem sendo passado de geração em geração. Depois de seu pai, quem tomou conta dos negócios foi sua irmã e a mãe, então por último Nilson assumiu o comando da lanchonete. Desde que assumiu a lanchonete, Nilson teve que aderir à rotina do primeiro galo da cidade, o que não é incomum para uma cidadela do interior: estar de pé, com café no fogo, às 4 horas da manhã. Depois, ele dá início à fabricação dos salgados caseiros.   

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O segredo de Nilson, contudo, é a receita mineira da mãe que ele mantém sob segredo. Com isso, atrai muitos clientes dentro e fora da cidade, dos mais antigos que já conhecem a lanchonete, até os clientes mais recentes que são indicados pelas estradas. 

Por ser rota para vários viajantes, principalmente pescadores, acampadores com destino às bandas do Rio Araguaia, ou os matogrossenses,  a cidade é um ponto de descanso, onde as pessoas podem deliciar com os lanches que Itauçu proporciona. Devido a histórias como a de Nilson e outros salgadeiros que também prezam pela tradição e qualidade dos salgados, o município pode estar muito perto de receber o título de “capital do salgado”.

O projeto de lei 901/23 foi proposto pelo deputado estadual Gustavo Sebba (PSDB) sob o argumento de que valorizar a tradição do salgado na cidade, com lanchonetes que funcionam há 40 anos, muitas das quais 24 horas por dia, e muitas delas às margens da GO-070. Em uma outra tentativa, o ex-deputado Thiago Albernaz (MDB) também tentou emplacar o projeto, mas não teve êxito.

Em entrevista à reportagem do jornal O Hoje, o secretário de Indústria e Comércio de Itauçu, Sérgio Moreira Fernandes, comemora a proposta que deve ser votada em breve na Alego. O projeto é importante para impulsionar um projeto que está saindo do forno: o Festival Cultural Gastronomico, que está sendo organizado pela cidade. 

Outra ideia em pauta da prefeitura é a criação de uma associação de salgadeiros para auxiliar esses comerciantes nas vendas dos salgados. Sobre a importância de a cidade se tornar a capital do salgado, o secretário explica: “Itauçu tem muita tradição no ramo dos salgados. Desde as maiores lanchonetes até as menores, já são mais de 50 anos dehistória. Além de também ser um ponto muito conhecido entre os turistas que passam pela GO-070”.

Além de Nilson, do início da reportagem a cidade é recheada de boas histórias e rotinas que varam a madrugada. É o caso do salgadeiro Cristiano Custódio, que trabalha com o quitute há 20 anos. Ele lembra que tudo começou quando vendia os salgados preparados pela mãe. Vendia de porta em porta. Com o tempo montou o próprio estabelecimento, que fica em um lugar privilegiado no Centro da cidade. Logo que inaugurou a lanchonete, começou a ganhar o reconhecimento de muitos moradores e até de alguns viajantes que passaram por dentro de Itauçu para conhecer a cidade.

Outro conhecido salgadeiro, Lucimar Luiz, conhecido na cidade como Lúcio, tem uma história um pouco diferente. Ex-funcionário de uma das grandes lanchonetes que ficam às margens da GO-070, ele decidiu montar o próprio negócio há seis anos, o que o torna um novato no empreendedorismo ao lado da mulher. Além dos viajantes e da população local, ele recebe diversas encomendas de cidades circunvizinhas. 

Caso o projeto seja aprovado, as pequenas e as grandes lanchonetes da cidade serão beneficiadas, pois com esse título, o esperado é que mais viajantes passem por dentro da cidade para conhecer a gastronomia que Itauçu proporciona. Muitos salgadeiros da cidade estão ansiosos pela honraria, principalmente os que trabalham na GO-070, onde o fluxo é maior. 

O nome mais estimado da gastronomia goiana, a jornalista Sonea Stival, que atua como consultora dos pratos mais deliciosos do cardápio feito por aqui, afirmou à reportagem que “Itauçu é o portão de entrada”, pois a cidade faz parte do caminho de muitos viajantes, e com isso muitos param para comer.

A rotina de Colemar Vicente é bem puxada na cidade. Além de proprietário de outra conhecida lanchonete, ele é um dos nove vereadores do município. Ele está animado com o boom que o projeto que tramita pode dar à economia local.

“Eu vejo [o projeto] como um progresso. Penso que Itauçu se tornando a capital do salgado é um reconhecimento para o trabalho prestado durante anos pela nossa população”, comenta Colemar, que acrescenta: “Já são 12 anos que estou nesse ponto, desde que minha família resolveu comprar’. Sobre o dia a dia da vida na vereança e de salgadeiro, diz: “É cansativo porque a gente funciona 24 horas. É desgastante”. Orgulho, concluiu: “Os melhores em qualidade estão aqui dentro de Itauçu”.

Como os salgados estão presentes por toda a parte em Itauçu, o Festival Gastronômico, que muito em breve pode ser realizado na cidade, vem para alavancar a gastronomia no local, propondo muitas parcerias, entre grandes bufês de Goiânia e outros lugares. Além desse impulso na gastronomia, o festival também tem o objetivo de motivar os salgadeiros, incluído aqueles que estão começando no ramo, para demonstrar o seu talento culinário, e assim abrindo novas oportunidades para o setor. 

O processo da lei, com o objetivo de nomear Itauçu como a “Capital do Salgado” já foi aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), agora o texto enviado pelo Deputado Mauro Rubem (PT) está apto para ser votado pelo Plenário.

Antes de ter o próprio negócio, Cristiano Custódio vendia salgados nas ruas | Foto: Wagner Alves

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