Passagem some dos pontos de venda e dificulta transporte

Fim do SitPass foi decretado há pouco mais de dois meses e ainda é assunto de críticas da população

Postado em: 25-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Fim do SitPass foi decretado há pouco mais de dois meses e ainda é assunto de críticas da população

Gabriel Araújo*

Falta de pontos de venda do Cartão Fácil dificulta a utilização do transporte público na Capital e Região Metropolitana. Passageiros reclamam da dificuldade de encontrar pontos de venda e sofrem com as condições do transporte coletivo. Usuário afirma que empresa não dá condições apropriadas para a compra e que o fim do bilhete de papel piorou a situação de quem perde ou tem Cartão Fácil roubado.

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Passageiros relatam que são obrigados a desviar de destinos ou a caminhar para pagar a passagem cara e circular em condições precárias. “Eu viajei e perdi meu cartão, quando cheguei em Goiânia já tarde não consegui encontrar um lugar que venda o cartão. Tive de caminhar bastante por causa disso já que minha linha não passa em terminal”, contou André Gomes da Silva, 27.

De acordo com João Carlos (nome fictício), que já trabalhou com a revenda de bilhetes, as empresas estão forçando os usuário a comprar um cartão mesmo sem pensar nas dificuldades. “Isso não pode, eles forçam a gente a comprar o cartão de tudo quanto é jeito só para lucrarem mais. Agora pensa quem vem do interior e vai passar dois dias aqui, não compensa de jeito nenhum comprar um cartão fácil”, destaca.

A equipe do O Hoje entrou em contato com a Rede Metropolitana de Transporte Coletivo de Goiânia (RMTC), empresa responsável pelo gerenciamento do transporte coletivo da Grande Goiânia, que afirmou por meio de nota a existência de 1.700 pontos de venda do Cartão Fácil, localizadas no comércio varejista, em 66 ATMs e 31 bilheterias.

A nota ainda orienta para aqueles clientes que não possuem cartão, a primeira via é gratuita, e pode ser feita em qualquer um dos pontos. Caso o passageiro não tenha acesso a nenhum dos pontos, poderá fazer o pagamento diretamente ao motorista. No caso de perda ou furto, o cliente pode habilitar outra via do Cartão Fácil em qualquer um dos 1.700 pontos de venda, basta apresentar CPF e documento oficial com foto”, completa.

Apesar de a Redemob afirmar que a compra da passagem possa ser realizada junto aos motoristas, tanto o serviço de atendimento ao consumidor da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC) quanto os próprios motoristas confirmam que a compra só pode ser realizada nos pontos de venda e recarga.

O fim do SitPass 

Os bilhetes com uma ou duas passagens para o sistema de transporte coletivo da Grande Goiânia deixou de existir no último mês de maio, quando a operadora do sistema parou de fabricar e comercializar o conhecido SitPass. 

A medida foi justificada na melhora do sistema para os usuários, mas conversando com a população em diversas regiões da Capital pudemos perceber opiniões divergentes. “O Cartão Fácil não é confiável, as vezes a gente coloca uma quantidade de passagens e no final, elas somem. Prefiro o SitPass, que a gente pode confiar que todas as passagens vão estar lá”, contou uma dona de casa que preferiu não se identificar.

Desde o último mês de maio os passageiros do transporte coletivo podem recarregar o Cartão Fácil com o cartão de débito em terminais da Grande Goiânia. De acordo com a Redemob, empresa responsável pelo gerenciamento dos terminais, o objetivo é dar novas opções de pagamento aos usuários, e melhorar a segurança ao diminuir a quantidade de dinheiro em circulação durante os transportes. A recarga usando o cartão de débito pode ser feita nas máquinas de autoatendimento disponíveis nos terminais. Antes, somente era possível comprar crédito com dinheiro. Além disso, o sistema permite a compra de passagens individuais na versão em papel que tem validade de um dia.

O Hoje noticiou em primeira mão o fim do sistema de bilhete SitPass no último mês de maio. O bilhete possuía duas décadas de existência e estava com seus dias contatos desde meados de 2015. Na época, o Sindicato das Empresas do Transporte Público (SET) disse que o passe de ônibus já estava em extinção e só seria vendido nos terminais com um valor de R$ 6,6. Após três anos de discussão o fim do bilhete é criticado por muitos adeptos na Região Metropolitana de Goiânia.

Segundo dados do sistema de transporte público, a utilização do bilhete teve seu ápice em 2007, quando 237 milhões de passageiros andaram de ônibus na Capital e Região Metropolitana, o equivalente a uma média de 19,7 milhões por mês. Naquele ano, quase 80% da população usava o tradicional sistema de bilheteria, de acordo com informações da SET, de 2015.  

Reajustes contribuem com a redução do número de passageiros 

Com a mudança na configuração do sistema de transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia, que ocorreu por volta de 2006, as concessionárias passaram a ter o direito de reajustar a passagem anualmente. Em alguns casos o valor do ticket se manteve por um tempo maior que o determinado por conta da intervenção do Estado mas, no final do último mês de janeiro, a Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) definiu o novo valor da passagem cobrada no transporte público, que ficou fixado em R$ 4 e deve passar por reajuste em 12 meses.

Conforme informado pela Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), em apresentação durante a reunião que definiu o reajuste, o valor da passagem é baseado na soma do aumento dos custos com o combustível, o salário pago aos motoristas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), a coluna 36 da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK). 

O aumento do valor cobrado pela passagem do transporte coletivo da Grande Goiânia foi firmado em contrato na segunda metade da última década, quando novos contratos foram firmados entre o Poder Público e as empresas concessionárias responsáveis pelo transporte de passageiros. Na época, as concessionárias contavam anualmente com mais de 235 milhões de usuários. Porém, esse número vem caindo todos os anos, uma pesquisa aponta que, de 2008 a 2016, mais de 26% dos passageiros médios abandonaram o sistema. 

Isso representa mais de 61 milhões de viagens que deixaram de ser realizadas por ano. Apenas nos dias úteis, o índice é de queda em 22%, mas o pior ocorre aos domingos e feriados, quando quase a metade (47,3%) dos usuários deixam de utilizar os ônibus.

O atual contrato autoriza as empresas a reajustarem o valor da tarifa de acordo com a aprovação da Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC), que é constituída por onze é representantes do poder executivo e legislativo das cidades que integram a Rede Metropolitana de Transporte e do Estado, além de membro da CMTC e da Agencia Goiana de Regulação (AGR).

Movimentação

Informações oficiais da RMTC constatam que a Capital é responsável por 74% de todas as viagens diárias realizadas na Rede Metropolitana de Transporte Coletivo. A segunda principal cidade é Aparecida de Goiânia, responsável por 17% das viagens, ao todo são realizadas todos os dias mais de 100 mil deslocamentos nos mais de 1.105 km de extensão de linhas que recebem o serviço. 

Somente o Eixo Anhanguera, que conta com cinco terminais e 19 estações elevadas de embarque e desembarque em seus 13,5 km de extensão, movimenta mais de 250 mil pessoas por dia, afirma a Metrobus. Segundo o órgão, dos 18 municípios que compõe Rede Metropolitana de Transporte Coletivo, 15 possuem linhas que integram diretamente nos terminais do Eixo Anhanguera, tornando o sistema o mais importante da Grande Goiânia. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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