Idosos têm ocupado posições de destaque no mercado de trabalho

Segmento de varejo oferece grandes oportunidades para profissionais experientes

Postado em: 26-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Segmento de varejo oferece grandes oportunidades para profissionais experientes

Conceição de Maria Barros, 55, é operadora de caixa na loja de Senador Canedo e também dedica boa parte do tempo para cuidar dos dois netos (Wesley Costa)

Os idosos têm ocupado posição de destaque no mercado de trabalho. Segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos têm adiado a saída do mercado de trabalho.

Já de acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgados pelo Ministério do Trabalho, em 2010 havia 5,8 milhões trabalhadores com carteira assinada nessa faixa etária de pessoas com 60 anos ou mais, e o número passou para 7,6 milhões em 2015. Também foi registrado um aumento na participação de trabalhadores com mais de 65 anos, que passou de 361,3 mil em 2010 para 574,1 mil em 2015, um aumento de 58,8%.

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A população idosa representa a menor participação no total da ocupação no País, mas esse porcentual vem crescendo ao longo do tempo, passando de 6,3% em 2012, quando começa a série da Pnad Contínua, para 7,8% em 2018. Ainda de acordo com informações do Ipea, o movimento reflete, o envelhecimento da população, além de uma possível mudança de comportamento dos brasileiros nessa faixa etária sobre suas decisões de participação no mercado de trabalho.

O último censo demográfico do IBGE mostra que mais de 20% dos domicílios brasileiros tem idosos como chefes de família, o equivalente a mais de 9 milhões de lares em todas as regiões do Brasil. Desse total 36% são compostos por casal com filhos ou outros parentes. Os números apontam para a realidade de que no Brasil muitos netos estão residindo com os avós e sob sua responsabilidade.

Um dos estabelecimentos que integra essa classe de pessoas é o supermercado Bretas, presente em Goiás e Minas Gerais. A empresa valoriza esse público e entende que ele é fundamental para o ramo do varejo, aliado à mão de obra jovem dos que estão no primeiro emprego. Desde 2017, a Rede Bretas incentiva a contratação de profissionais acima de 50 anos por meio do programa Talentos Experientes. 

A partir disso, a Cencosud Brasil aproveitará o turnover do negócio para contratar profissionais acima de 50 anos para trabalhar nas redes Bretas, GBarbosa, Prezunic, Mercantil Rodrigues e Perini. “Após certa idade, muitos não conseguem recolocação no mercado de trabalho, reduzindo seu poder de compra e qualidade de vida. O varejo é tido como maior empregador privado do país e, por meio deste programa, temos a oportunidade de fazer a diferença”, afirma Fábio Oliveira, gerente de Investimento e Responsabilidade Social da Cencosud Brasil. “Nossa expectativa é contratar mais de 700 pessoas em todas as bandeiras até o próximo ano”, pontua. Os interessados já podem cadastrar currículo no Banco de Talentos no www.vagas.com.br/cencosudbrasil

Vovó em serviço

Comida caseira e muito carinho.  É assim que muitas colaboradoras do Bretas em Goiás passam as horas fora do expediente. Elas são avós e dedicam parte do tempo para cuidar e curtir os netos. 

Esta é a rotina da operadora de caixa da loja de Senador Canedo, Conceição de Maria Barros. Ela tem dois netos – uma de 15 anos e outro de 5 anos, o Eduardo. Como moram perto, os netos almoçavam, até o final do semestre passado, todos os dias na casa de Conceição. Ele ficava a manhã toda na casa da vovó, que depois o levava para a escola. “O Eduardo é meu carrapato, já a mais velha fica mais na toca dela”, explica. 

Conceição dedica às horas livres para os netos. “Os levo para o clube, parques, a gente se diverte. O amor de avó é diferente de mãe. Com neto a gente bagunça e com filho temos a obrigação de educar”, reflete. 

Comemoração

No dia 26 de julho, comemora-se o Dia dos Avós. A data surgiu com a história de Dona Aninhas, era como todos conheciam a portuguesa Ana Elisa do Couto (1926-2007) em Penafiel, cidade de 15 mil habitantes na região do Porto. E se hoje ela tem uma placa afixada em praça pública na terra natal não é sem motivo: foi por causa dela, avó de quatro netas e dois netos, que o dia 26 de julho se tornou reconhecido como Dia dos Avós em Portugal – data também celebrada no Brasil.

Nos anos 1980, porque ela achava que ninguém dava o valor merecido aos avôs e avós, decidiu se tornar uma missionária da causa. Dona Aninhas esteve em países como Brasil, França, Estados Unidos, Alemanha, África do Sul, Espanha, Angola, Suíça e Canadá, sempre defendendo que se comemorasse o Dia dos Avós. E a data escolhida tinha um forte motivo: dia 26 de julho é quando a Igreja Católica celebra São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria, avós de Jesus.

Uma história, entretanto, que nem na Bíblia está. “Não há nomes, pormenores, nem citações da vida e da existência dos pais de Maria”, afirma o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Ambos são citados no evangelho apócrifo de São Tiago, não reconhecido pela Igreja. Portanto, não constam em livros canônicos”, complementa. 

Diversão em família lado a lado da carreira profissional 

Há muito tempo a idade não é mais determinante para por fim na carreira profissional, muito menos motivo para atrapalhar aquela figura de avó marcada nas histórias infantis. Prova disso é Janeth Clementino Silva, de 52 anos, anfitriã da Loja Armazém e avó de Ana Laura, de 6 anos, e de Arthur, que vai nascer em setembro. Tudo isso aliado a uma rotina de serviços no Bretas. Como anfitriã, ela recebe os clientes nas lojas e tira eventuais dúvidas, além de auxilia-los durante as compras, caso seja necessário.

Os pequenos moram em Guarulhos (SP), mas a distância não atrapalha a relação. Todos os dias Janeth troca mensagens de voz por meio de aplicativo de mensagem com a neta. Além disso, sempre encontra a filha, a neta e o genro. “Este ano já fui para lá em março e junho. E vou me organizar para ir em setembro e acompanhar o nascimento do Arthur”, revela. 

Ana Laura já visitou a vovó no trabalho. “Ela achou muito bonito e perguntou por que não existe Bretas em Guarulhos”, conta. O sonho de Janeth é morar mais perto dos netos. “Há a possibilidade deles se mudarem para Goiânia. Estou torcendo por isso”, conta. 

Além do prazer em se manter ocupado e da necessidade financeira, a presença dos sessentões para cima no mercado deve se intensificar ainda mais se a reforma da previdência for concretizada. Com isso, todos precisam repensar e se adaptar a este cenário. O conflito de gerações é ainda um desafio a ser vencido. A valorização da experiência anciã, inclusive profissional, também é algo que não faz parte da cultura brasileira por ora.

Na balança de prós e contras de cada um, a psicóloga comportamental e especialista em treinamento Mônica Portella pondera que as características podem ser tanto positivas como negativas. Como na diferença entre o que é remédio e veneno, vai depender da dose. “O conflito das gerações tem a ver com as diferentes formas de se relacionar e para romper isso é necessária a empatia. Se autoconhecer e também conhecer o outro ajuda a criar um bom meio-termo para todos. A empresa pode e deve ajudar neste processo porque se beneficia com a mistura. A tendência é a mistura de gerações, temos que nos acostumar a isso”, diz Mônica. 

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