Mulheres relatam que gramática é determinante para se relacionar

Um rostinho bonito que não sabe a diferença de ‘mais’ e ‘mas’ é igual feriado no sábado, serve para nada, afirma Geise

Postado em: 28-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Um rostinho bonito que não sabe a diferença de ‘mais’ e ‘mas’ é igual feriado no sábado, serve para nada, afirma Geise

Raunner Vinícius Soares*

Para algumas mulheres os erros de português dizem muito sobre as pessoas, principalmente se for para se relacionar com ela. Geisa Peixoto, 18 anos, estudante universitária, diz que a ortografia é algo muito relevante na hora de se interessar por alguém. Segundo ela, o rapaz não precisa ser um mestre em português, até porque, ela explica que também cometo erros, às vezes, na hora de escrever, porém saber a diferença de ‘mais’ e ‘mas’ é algo fundamental para ter uma boa conversa nas redes sociais. A pontuação também é muito importante, a vírgula faz toda diferença em uma frase.

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“Geralmente eles escrevem como falam, e ‘Deus me dibre’ chegar a algum lugar com um ‘boy’ e ele começar a falar tudo errado. Uma vez um rapaz foi falar ‘Labirinto’ e falou ‘Labirinti’ e agiu como se estivesse certo, o ‘princeso’ mudou nem a cara, já a minha foi no chão 5 vezes, só conseguia pensar onde eu tinha arrumado aquele embuste que não sabia falar. Estou até pensando sinceramente em desenvolver alguns testes para eles quando eu começar a flertar com alguém, umas perguntas básicas de português [risos]”, afirma.

A Geisa relata que uma vez estava ficando com um rapaz, alto, bonito, forte e cheiroso e ele já tinha escrito algumas palavras erradas, um ‘acho’ com ‘x’, um ‘talves’ entre outros, mas ela procurou não se alterar e tentou pensar que na Internet ninguém liga para isso. “Apesar de que para o estudante as regras de português vale em qualquer lugar”. Em um certo dia, “o ‘precioso’ resolve escrever algo ‘bonito’ para princesa aqui com as seguintes palavras, preste atenção, ‘Neste momento feche os olhos, coloque sua cabeça em seu traBesseiro e comece a pensar em que eu estou pensando e certamente descobrirá que é em você’, isso mesmo, ‘trabesseiro’. Nessa hora meu amigo, não tinha rosto bonito, não tinha braço forte que me acalmasse, eu fiquei constrangida por ele. Isso foi a gota d’água, o encanto acabou bem aí, nem quis conversar com ele mais depois disso. Eu li muitas vezes, para sempre contar na roda das amigas e rir para não chorar [risos]”, relata.

“Eles se preocupam apenas com beleza, cabelo cortado, academia em dia, perfume bom, roupa de marca, mas esquecem de estudar. Na minha opinião, um rostinho bonito que não sabe a diferença de ‘mais’ e ‘mas’ é igual feriado no sábado, serve para nada.”

Já Celine Alves Rebouças, 20 anos, estudante universitária, esclarece que não é só em relações afetivas, mas em qualquer tipo de relacionamento. “A gramática por si só não, mas a comunicação, de uma maneira geral, pesa muito. Como é importante uma pessoa que sabe se comunicar, onde não precisamos ficar repetindo, onde há um envio e um recebimento claro das informações”. Celine diz que não aconteceu dela desistir de um relacionamento, mas, de alguma forma, dá certo desânimo de continuar mantendo uma conversa, o que, naturalmente, faz com que haja um distanciamento. Ela acha que é exigir um padrão mínimo de comunicação, seja ela escrita ou oral. “As pessoas, cada vez mais, têm tratado com menos importância a comunicação e, se elas soubessem como isso ajudaria a evitar problemas (interpretações erradas) ou até mesmo ajudar na construção da relação, elas investiriam mais”.

Ela relata que não pode generalizar, mas vê no dia-a-dia os homens sendo mais relapsos. Nunca desistiu de alguém diretamente, mas “já aconteceu de achar um cara muito bonito, conversarmos pessoalmente (alguns deslizes nas palavras, mas ok). Mas quando fomos conversar por mensagem… Só tristeza. Além dos erros mais absurdos como ‘agente’, ‘concerteza’, ‘mim fazer/dar’, os verbos todos errados, no infinitivo. A beleza morreu ali. Já gerou um bloqueio automático, mesmo se eu tentasse, a cada frase era uma correção ortográfica mental diferente [risos]”.

Maria Laura Carvalho, 21 anos, estudante universitária, diz que se considera exigente, mas admite que já foi mais. “Antigamente eu desistia de conversar apenas por erros bobos, hoje em dia já relevo porque descobri que isso não faz uma pessoa ser melhor ou pior”. Afirma que nunca desistiu de uma pessoa de que gostasse, mas por pessoas que acabou de conhecer, sim. “Lembro-me de um menino, que eu conheci em uma festa de faculdade, muito gentil e engraçado. Ficamos na festa e eu passei o meu número quando ele pediu, no outro dia, quando ele me mandou mensagem e fomos conversar eu fiquei sem entender como que ele escrevia tão errado, sendo que ele fazia um curso de humanas. Fiquei imaginando como um menino do direito não sabia a diferença básica de ‘mas’ e ‘mais’. Mas começo a rir quando me lembro disso porque, tempos depois, eu me relacionei com um menino que era do mesmo jeito, mas não desisti dele porque eu já o conhecia e tinha um carinho por ele”.

Não é tão mais exigente. “Eu me tornei uma pessoa bastante flexível depois do meu segundo ano na faculdade. Eu era muito fechada e perfeccionista, vivia no meu mundinho. Hoje já sou capaz de aceitar as diferenças das pessoas e de relevar as coisas que não tem tanta importância nas relações”. Ela diz que apesar de ser uma coisa ruim, agora acredita que tudo pode ser trabalhado. Aprendeu que quando você começa a criar certa intimidade com uma pessoa, corrigir alguns erros acaba se tornando algo positivo, pois você mostra que está na vida daquela pessoa para somar, acrescentar coisas boas e ajudá-la. “Devido às abreviações, gírias e corretor automático acredito que homens e mulheres estejam errando mais. Já percebi que quando você digita o seu pensamento é muito mais superficial… eu mesma já me peguei pensando como se escrevia uma palavra simples, como ‘espesso’, quando fui fazer um relatório de enfermagem”, pontua.

Para Lenea Teixeira, 37 anos, professora de Educação Física, não é uma questão de ser exigente, todos nós erramos na ortografia em algum momento, mas há erros absurdos que não dá para passar por cima. A professora relata que não é a maioria dos homens, mas quando erram quase não escrevem nada certo. Num chat de relacionamento, onde ela conversa com várias pessoas, logo no começo da conversa, se a pessoa não escrever minimamente bem já desanima por conta dos erros. “Não levo adiante as conversas, logo que começa a conversa os erros absurdos de ortografia acontecem e eu desisto de conversar, são rapazes bonitos de 35 a 44 anos na sua maioria formados, mas não sabem escrever, devo ter conversado com uns dez que escrevem errado. E se você tentar corrigir os erros ficam bravos. Não cheguei a conhecer pessoalmente, não passa de um dia de conversa quando é assim”, explica. (Raunner Vinícius Soares é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor interino de Cidades Rafael Melo) 

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