Adoecimento é recorrente em mães de vítimas da violência do Estado

O impacto tanto físico quanto psicológico dessas mulheres é a abordagem central do estudo

Postado em: 12-08-2023 às 08h39
Por: Mariana Fernandes
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O impacto tanto físico quanto psicológico dessas mulheres é a abordagem central do estudo | Foto: Divulgação/ iStock

A recusa ao acesso à justiça, a falta de punição, a instabilidade e a culpabilização das vítimas estão entre os principais fatores que levam ao adoecimento de mães que perderam seus filhos devido a ações estatais, seja por assassinato ou desaparecimento. O impacto tanto físico quanto psicológico dessas mulheres é a abordagem central da pesquisa intitulada “Ecos de Dor, Luta e Resiliência: Um Estudo das Mulheres/Mães de Vítimas de Violência Estatal no Brasil”. Esse estudo está sendo controlado pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (CAAF/Unifesp).

Na pesquisa, as mães não são meramente sujeitas à análise, mas desempenham um papel ativo no levantamento de dados, na elaboração das questões e nas entrevistas. O estudo conta com a colaboração essencial de quatro mães, envolvidas nos movimentos que buscam justiça pela perda de seus filhos. Essas mães são reconhecidas como pesquisadoras sociais e estão engajadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará.

“É uma violência reiterada e institucional. Além da violência do fato, elas sofrem violência todos os dias pelas instituições. O Estado mata o filho, mas também vai matando as mães e as famílias aos pouquinhos. Essas mães passam a vida tentando provar que os filhos não foram bandidos e, mesmo se fossem, não poderiam ter sido mortos, pois não há pena de morte no Brasil”, diz a pesquisadora Aline Lúcia de Rocco Gomes, uma das responsáveis pela pesquisa, que deve ser concluída em outubro deste ano. 

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O objetivo da pesquisa, que ainda passará pelas etapas de análise e conclusão, é dar subsídios para a construção de uma política pública de atendimento integral. “Um projeto só não resolve, nós queremos uma política pública. Pensamos em um programa que dê um atendimento especializado para essas mães, atendimento integral e multidisciplinar, com acompanhamento jurídico e psicológico e que encaminhe para programas de orientação social “, explica Aline. 

De acordo com a pesquisadora, atualmente, o atendimento oferecido nas defensorias públicas e nos centros de referência e apoio à vítima (Cravi), por exemplo, não atendem essa demanda na prática. 

Para o  ministro Silvio Almeida, que está acompanhando a pesquisa, são inadmissíveis situações como a de um menino de 13 anos que foi assassinado com um tiro nas costas, em referência ao caso recente ocorrido no Rio de Janeiro. 

“Em um Estado que legitima a violência sem fronteiras por parte de agentes de Estado, os trabalhadores que fazem parte da segurança pública também são vitimados e, claro, também vai ter uma mãe que chora. As mães dos policiais também choram seus filhos, porque nós vivemos em um Estado de violência. Agora, é importante dizer também que quem dá tiro nas costas de uma criança, um adolescente, não é policial, é bandido”, completou o ministro.

Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Independente Mães de Maio e pesquisadora da CAAF/Unifesp está entre as mães que buscam por justiça pelos seus filhos. Para ela, a pesquisa mostra a necessidade do acolhimento das mães que adoecem em consequência da violência contra seus filhos.“É preciso ter uma política pública efetiva para essas mães e familiares que estão morrendo. Porque, a cada menino que cai nas favelas e nas periferias, a gente vê a vida dos nossos filhos sendo ceifada, e isso é uma tortura psicológica terrível”, destaca.

*Conte informações da Agência Brasil

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