A luta de pais pela inclusão de brinquedos a filhos com deficiência

Enquanto uma mãe conseguiu conscientizar à implantação de brinquedos adaptados, um pai busca alerta sobre a importância de educação das crianças pelo respeito às diferenças

Postado em: 21-08-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: A luta de pais pela inclusão de brinquedos a filhos com deficiência
Exemplo de equipamento que pode trazer tranquilidade a pais e felicidade de crianças | Foto: Arquivo pessoal

Gira-gira, escorregador, balanço e gangorra e suas cores fazem parte da imaginação de qualquer criança em cercados de areia ou piso emborrachado. A felicidade é certa quando se passa por algum parquinho onde meninos e meninas se divertem, sob o olhar dos pais, em praças de Goiânia, em condomínios ou em estabelecimentos, como Shoppings Centers. 

Tudo perde a cor feliz quando, no entanto, a falta de acessibilidade torna difícil e, muitas vezes, impossível,  a brincadeira de crianças com alguma dificuldade motora. Aos poucos a situação tem mudado à medida que pais buscam uma forma de encontrar formas de transformar essa realidade.  

A advogada Sarah Milhomem Fernandes, de 45 anos, é mãe do Mateus Milhomem, de oito anos, portador de paralisia cerebral, o que a tornou parte da tentativa de conscientização para espaços de lazer acessíveis. Ela relata que desde que o filho era ainda um bebê o levava ao parquinho e o auxiliava nas brincadeiras. “Eu colocava ele nas pernas e descia no escorregador, sentava ele nos brinquedos e ficava segurando”, lembra ela.

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No entanto, a rotina nos parquinhos começou a mudar quando Mateus foi crescendo e o auxílio da mãe tornou-se impossível, apesar da necessidade que o filho tinha de se divertir como os coleguinhas. “Aquilo trazia angústia em mim, trazia angústia nele, porque ele não conseguia”, lamenta. A partir disso, começa a jornada da mãe em busca de inclusão e acessibilidade para o filho.

Sarah Milhomem procurou auxílio de vereadores e deputados para que o poder de sugestão de lei e de influência pudessem mudar algo junto à prefeitura e, com isso, apoio para colocar os brinquedos no parquinho. O socorro, no entanto, viria de uma forma peculiar. Antes, por não encontrar uma solução para o problema e assistir de perto a angústia do filho e de tantas outras crianças e suas mães, ela deixou de frequentar o local com o pequeno. “Não conseguia mais colocar ele para brincar no escorregador nem na gangorra. Então eu andava no parque, mas desviava do parquinho, até chegar o dia que eu parei de frequentar o parque”, relata.

A história de mãe e filho toma um novo rumo quando Sarah tornou-se síndica do seu condomínio e foi convidada para participar de uma solenidade em comemoração ao dia do síndico. Na ocasião, ela conheceu a presidente da  Associação dos Moradores do Entorno do Parque Flamboyant (Amepark), Luiza Barbosa de Oliveira. 

Para a reportagem do jornal O Hoje, Luiza conta que Sarah a procurou e pediu que os brinquedos fossem instalados. “Ela me disse que tinha todas as informações com os valores e que eram fabricados em Curitiba-Paraná. Ela me enviou e fiquei entusiasmada”, conta.

A partir disso, a presidente da Amepark decidiu que o projeto seria uma meta para este ano e levou o caso ao Vereador Anselmo Pereira (MDB) que, posteriormente, contribuiu para que a situação também chegasse ao conhecimento do grupo Flamboyant, que por sua vez, abraçou a ideia e adquiriu os brinquedos.

A ação, que possibilita a diversão de crianças com mobilidade reduzida e necessidades específicas, é uma parceria do projeto Amigo Verde da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) com o Grupo Flamboyant. A inauguração dos brinquedos aconteceu nesta quinta-feira (17). Na ocasião, o presidente da Amma, Luan Alves, afirmou que “a entrega é uma oportunidade das crianças se divertirem com os brinquedos adaptados em um ambiente seguro e inclusivo”. Ele disse ainda que a parceria é fundamental para garantir políticas públicas com equidade social, permitindo que crianças com mobilidade reduzida tenham acesso às mesmas oportunidades.

Para a mãe do Mateus, o momento foi muito gratificante. “Eu tive a oportunidade de ver crianças que não brincavam em um parquinho, nunca tinham tido acesso a um brinquedo adaptado”, comemora a advogada.

Ao ser questionada se o projeto poderia se estender para outras localidades da capital, a Amma informou que já trabalha no projeto do Parque Center Ville que terá mais de dois quilômetros de pista de caminhada, com ciclovia, academia ao ar livre, espaço de convivência, dentre outros benefícios à população. E que esse espaço contará com brinquedos com acessibilidade.

Além disso, a Agência informou que após a instalação, estuda-se a viabilidade de instalação dos brinquedos acessíveis e a expansão para outros Parques Municipais de Goiânia, de modo que os próximos parques a serem entregues pela gestão contarão com os brinquedos inclusivos. 

“Acessibilidade física pode ser a porta para uma sociedade sem preconceitos”

Rodrigo Campos Rodrigues é pai da Sheron Belém Rodrigues, de 11 anos. Ela é autista e possui Paralisia Cerebral que afetou a parte cognitiva e a visão dela. O pai dedica-se aos cuidados da filha e, como não seria diferente, leva Sheron aos parques para se divertir, mas percebe a necessidade de inclusão no ambiente que, segundo ele, vai além da estrutura física.

“Eu não posso julgar e nem condenar pais e mães. As crianças não têm noção do que está acontecendo. Mas, infelizmente, o preconceito ainda existe muito. Quando eu levo minha filha no parque, ou em qualquer outra região que ela possa socializar, as outras crianças ficam olhando para ela como se fosse algo diferente”, relata o pai.

Para Rodrigo, essa situação gera um certo desconforto, não para a filha, já que ela “não tem noção do que está acontecendo”, mas para os próprios pais, que segundo ele ficam de “mãos atadas”. Ele acredita que a socialização entre essas crianças, é uma porta de entrada para que elas possam desenvolver os pensamentos e enxergar o coleguinha de maneira humanizada.

“Uma criança pegaria na mão da minha filha, brincava com ela. Minha filha não consegue brincar direito, mas esse carinho, essa ingenuidade das crianças, transformam. Eu já tive experiência de crianças que ajudaram minha filha e eu tenho certeza que no futuro vão ser adultos sem preconceitos”, finaliza.

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