Hospital de Aparecida não funciona e entrega é para fim do ano

Obra orçada em mais de R$ 60 milhões está atrasada desde 2016. Espaço físico está completo, mas ainda falta realizar a compra de equipamentos e contratação de corpo médico

Postado em: 03-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Obra orçada em mais de R$ 60 milhões está atrasada desde 2016. Espaço físico está completo, mas ainda falta realizar a compra de equipamentos e contratação de corpo médico

Para o morador da região, Jecivaldo Araújo, cozinheiro, 45, a entrega do hospital funcionando é uma responsabilidade que não está sendo cumprida (Wesley Costa)

Gabriel Araújo*

O Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia, localizado no setor Cidade Vera Cruz, deve ser entregue somente no final de 2018. Inicialmente a obra tinha previsão de entrega em 2016, mas já enfrenta dois anos de atrasos na compra de equipamentos e contratação de equipe médica. 

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De acordo com a Prefeitura de Aparecida, os equipamentos estão em processo de aquisição e, devido à aquisição ser realizada junto a diferentes fornecedores, alguns locais e outros, até mesmo internacionais, cada processo está em um estágio. “A previsão é de que até o fim do ano tudo esteja pronto para que o Hospital entre em funcionamento”, declarou o órgão por meio de nota.

Ainda conforme a gestão municipal, o processo de chamada pública para contratação de organização social que realizará o gerenciamento e operacionalização do Hospital ainda está sendo realizado e deve ser completado até o fim deste ano. “No próximo dia 6 de agosto, encerra o prazo para envio de propostas de entidades interessadas. A partir de então, a organização responsável irá realizar os ajustes necessários e a previsão é de que até o fim do ano o Hospital Municipal esteja em funcionamento”, completou.

Além disso, a contratação dos funcionários deve demorar, pois, segundo a prefeitura, ficará sob responsabilidade da entidade responsável pelo gerenciamento e operacionalização do Hospital.

Há quase um ano O Hoje vem acompanhado a situação do Hospital Municipal e, segundo reportagem publicada em novembro de 2017, a obra física do Hospital Municipal de Aparecida já foi concluída, mas o prédio somente conta com guardas fazendo a segurança do local. No último mês de outubro, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, solicitou o repasse federal do Governo para custeio do funcionamento pleno da unidade, na época o valor chegou a R$ 9 milhões por mês.

Em fevereiro, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, e o senador Wilder Morais (PP) foram à unidade hospitalar. Na ocasião, eles disseram que os recursos necessários para a obra foram liberados pelo Ministério da Saúde e chegaram aos cofres de Aparecida. Para se ter uma ideia, em junho do ano passado, foi anunciada a liberação dos R$ 18 milhões para equipar o hospital.

Segundo Mendanha, na época, o valor encontrava-se no caixa do Fundo Municipal de Saúde e restavam apenas os trâmites burocráticos. “Como muitos equipamentos vêm de fora, então esperamos que até no máximo junho possamos finalizar essa parte da compra”, diz. Ainda conforme o prefeito, o funcionamento da unidade hospitalar se dará gradativamente, em três etapas. A primeira fase é prevista a instalação de 60 leitos clínicos e 20 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ao todo, o hospital custará aos cofres públicos em torno de R$ 35 milhões, que serão oriundos do Ministério da Saúde. 

Para Jecivaldo Araújo, cozinheiro de 45 anos, a entrega do hospital funcionando é uma responsabilidade que não está sendo cumprida. “Quando vou para o trabalho passo aqui todos os dias há dois anos, até agora nada de isso começar a funcionar. É uma sacanagem com a gente, já que quando tem de ir em médico a gente tem de sair daqui de perto e ir lá na UPA ou no Cais”, completa.

Outro morador da região, que preferiu não se identificar, fala que já faz meses que não vê movimentação do local além dos seguranças. “Faz tempo já, a ultima vez que vi alguém ai foi o pessoal fazendo uma limpeza, depois disso nada”, afirma.

Para manter um Hospital de 220 leitos funcionando, seriam necessários cerca de R$ 10 milhões mensais segundo a prefeitura. O que equivale a R$ 120 milhões por ano para custear os serviços oferecidos. O Ministério da Saúde só anunciou a liberação do custeio em janeiro desse ano. São R$ 4,1 milhões de custeio referente ao funcionamento também da primeira etapa. 

Comunidade manifesta indignação com prédio parado 

Em diversas reportagens, O Hoje registrou a indignação da população. Em Novembro do ano passado, a doméstica Mariana Santana, moradora da região do hospital, relatou que o hospital fica praticamente abandonado. “Há muito tempo eu vi um pessoal limpando. Mas nem isso vemos mais. É o único hospital da região. Para termos atendimento, vamos ao Cais Nova Era ou na UPA de Aparecida”, contou.

Ela ainda lembrou da necessidade da população. “Se necessitar de atendimento tem que correr para o Cais. Já tem um ano que trabalho na mesma casa e sempre passo por aqui. Mas todos os dias isso está fechado. Tem muito tempo. Isso é uma grande safadeza. Estamos precisando e as portas estão fechadas. Não é fácil”, disse. 

Além dela, o comerciante Alexandre Barbosa, reclamou da demora em abrir o hospital. Ele conta que já perdeu as esperanças em usar o lote que possui como estacionamento para pacientes e familiares do hospital. “Eu até acredito que fazem alguma coisa no hospital durante a noite. Pelo menos guardas estão realizando a segurança. Mas estou esperando para montar um estacionamento em meu lote e atender a população do hospital. Quando inauguraram tinham muito ônibus, muitas pessoas. Mas foi apenas ato político”, lembrou. 

Já em janeiro, o pedreiro Walmirlando Viana Carreiro, comentou a situação, já desacreditado no funcionamento. “Minha mãe precisa desse hospital, meus filhos também. O governo só engana, dizem uma e outra coisa, mas ainda tem muito que ser feito nesse hospital. Eu tenho que ir ao Cais Nova Era, sem o funcionamento do Hospital”, reclamou. 

Obra

A obra foi iniciada ainda em 2014 após a liberação do recurso pelo Ministério da Saúde, o Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia é orçado em R$ 64 milhões e deve atender todo o município e região. Quando completo, o local terá cerca de 21 mil metros quadrados, com seis blocos, que incluem pediatria, geriatria, dois para clínica médica e dois para pós-cirurgia. 

O prédio abriga ainda 220 leitos, sendo 90 leitos clínicos, 60 leitos cirúrgicos, 20 leitos pediátricos, 30 leitos de UTIs, 10 leitos de recuperação anestésica e 10 leitos de reanimação e observação. A unidade fica na Avenida V-5, áreas 01 a 04, no setor Cidade Vera Cruz. A previsão inicial para entrega do hospital era em setembro de 2016, mas o contrato já foi alterado duas vezes devido a mudanças na construção. O último aditivo do contrato resultava na entrega em 13 de julho de 2014. De acordo com as informações contidas no documento as mudanças se resumem a “adequações de implantação para o serviço de atendimento e pacientes cardíacos (Hemodinâmica), cirurgias em alta complexidade dentre outros”. (Gabriel Araújo* é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor interino de Cidades Rafael Melo) 

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