Entenda as causas e consequências de  apagões que deixaram milhões sem energia elétrica

Sobrecarga em linhas de transmissão no estado do Ceará é a principal causa da falha no sistema nacional de energia

Postado em: 23-08-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Entenda as causas e consequências de  apagões que deixaram milhões sem energia elétrica
O apagão interrompeu o fornecimento de 19 mil MW de carga | Foto: Reprodução

Uma falha no sistema nacional de energia afetou o fornecimento de luz em estados e regiões do país no início da semana passada. Ao todo, 25 Estados e o Distrito Federal ficaram sem energia elétrica na terça-feira do dia 15 de Agosto. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o apagão interrompeu o fornecimento de 19 mil MW de carga.

Seis horas após a falha, o sistema foi restabelecido totalmente, segundo informou o Ministério de Minas e Energia (MME). A causa do apagão, envolveu dois problemas, pelos menos é o que indicam os especialistas. Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, disse à imprensa que a 1ª razão foi uma sobrecarga em linhas de transmissão no estado do Ceará. O outro motivo, no entanto, ainda é desconhecido, mas se sabe que também foi uma intercorrência nas regiões Nordeste e Norte.

Uma das principais hipóteses que pode ter levado à queda de energia, apontadas pelos especialistas do ramo, é que uma abrupta mudança no fluxo da geração de usinas eólicas e solares tenha derrubado o sistema ao injetar mais energia que a capacidade das linhas de transmissão. Apesar de haver outros fatores, o governo não descartou esta possibilidade.

Continua após a publicidade

O relatório divulgado pelo ONS na última quinta-feira (17) aponta, como já divulgado anteriormente, que o ponto de partida do distúrbio foi a LT 500 kV Quixadá-Fortaleza II, no Ceará, de propriedade da Eletrobras Chesf. Uma atuação incorreta no sistema de proteção da linha, que operava dentro dos limites, ocasionou o seu desligamento.

No documento, a equipe técnica do ONS reiterou que um evento dessa natureza, de forma isolada, não seria suficiente para ocasionar a interrupção de energia elétrica observada na ocorrência em questão. “O desligamento refletiu desproporcionalmente em equipamentos adjacentes e ocasionou oscilações elétricas (tensão e frequência) no sistema das regiões Norte e Nordeste, e que transcorridos 600 milisegundos, houve a atuação de Proteções de Perda de Sincronismo (PPS), responsáveis pela abertura controlada de linhas que compõem as interligações Norte – Nordeste, Nordeste – Sudeste e Norte – Sul, separando o SIN em três áreas elétricas”, diz um trecho do relatório.

Dessa forma, o ONS segue avaliando mais documentos para chegar em um diagnóstico mais aprofundado e detalhado sobre a situação. A Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também investigam se houve ação criminosa.

Relatório de Análise de Perturbação (RAP)

Outro documento com uma avaliação mais detalhada da ocorrência, como a causa raiz, sequência de eventos, desempenho das proteções, dentre outros fatores, bem como as recomendações e providências,  deve ser apresentado no Relatório de Análise de Perturbação (RAP), conforme estabelecido em Procedimentos de Rede, previamente aprovados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A primeira reunião, com a participação do MME, da Aneel e dos agentes de geração, transmissão e distribuição para avaliar as informações consolidadas enviadas pelos envolvidos na ocorrência e, assim, ser iniciada a elaboração do documento, será realizada na próxima sexta-feira, dia 25 deste mês. Além disso, uma segunda rodada já está previamente marcada para o dia 1º de setembro. O relatório será concluído em até 45 dias úteis.

No momento, o sistema está sendo operado em condições mais conservadoras para garantir a segurança do atendimento conforme previsto nos Procedimentos de Rede. Entre as medidas tomadas pelo Operador, estão a redução no carregamento das linhas de transmissão e a postergação de manutenções programadas.

Cronologia do evento

A ocorrência no Sistema Interligado Nacional (SIN) iniciou às 8h30min do dia 15 de agosto de 2023, com interrupção de cerca de 19 mil MW, do total de 73 mil MW que estavam sendo atendidos no momento, representando aproximadamente 27% da carga total daquela hora. O evento provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul, Sudeste/Centro-Oeste, com abertura das interligações entre essas regiões, afetando 25 estados e o Distrito Federal.

Desse modo, considerando as regiões geográficas do país, foram suspensas 5,4 mil MW de cargas da região Norte, 7 mil MW – 56% de cargas da parte da região Nordeste e houve cortes controlados de carga (Esquema Regional de Alívio de Carga – ERAC) em parte dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul (6,4 mil MW). Na análise inicial, o ONS indicou que o sistema atuou conforme esperado, evitando um corte maior nessas regiões.

Nos primeiros minutos após a ocorrência, a recomposição das cargas foi iniciada em todas as regiões. Às 9h05min as cargas da região Sul estavam normalizadas. Às 9h33min as cargas das regiões Sudeste/Centro-Oeste foram restabelecidas. Às 13h34min todo o sistema de operação sob coordenação do ONS estava restabelecido, sendo que às 14h49min todas as cargas interrompidas estavam normalizadas pelas distribuidoras.

Roraima não foi afetada

O estado de Roraima, região norte do país, foi o único que não sofreu as consequências do apagão, isso porque é a única unidade da Federação que não está conectada ao sistema nacional de energia. Como as comunidades indígenas impedem que seja construído um linhão de transmissão do Amazonas até Boa Vista, a distribuição de energia elétrica no estado é operada pela Roraima Energia.

No entanto, uma semana antes do apagão, Alexandre Silveira, assinou uma ordem de serviço para conectar Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN), com a linha de transmissão Manaus – Boa Vista.

“Serão investidos R$ 2,6 bilhões nas obras, que vão substituir usinas termelétricas e garantir energia confiável, limpa e renovável. Os moradores de Boa Vista e cidades próximas dependem de usinas termelétricas movidas a óleo diesel, gás natural, biomassa e uma pequena central hidrelétrica. A expectativa é de mais de 11 mil empregos diretos e indiretos com as obras, com previsão de serem concluídas em setembro de 2025”, informou o Planalto.

A energia de Roraima foi fornecida pela Venezuela por mais de 18 anos. A ligação entre a capital, Boa Vista, e o complexo hidrelétrico de Guri, em Puerto Ordaz, era feita pelo Linhão de Guri. No entanto, desde março de 2019, que o país venezuelano parou de enviar energia ao Estado devido a uma crise energética enfrentada e desentendimentos de Nicolás Maduro com a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Desde então, a energia elétrica consumida pelos 15 municípios de Roraima é fornecida pela Roraima Energia.

Veja Também