Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Doces de Nerópolis ganham status de Patrimônio Cultural e Imaterial

Lei valoriza cidade que, antes conhecida por iguaria de tempero, o alho, passa a ser lugar de destaque com doces

Postado em: 26-08-2023 às 08h26
Por: Matheus Santana
Imagem Ilustrando a Notícia: Doces de Nerópolis ganham status de Patrimônio Cultural e Imaterial
Lei valoriza cidade que, antes conhecida por iguaria de tempero, o alho, passa a ser lugar de destaque com doces. | Foto: Matheus Santana

Nerópolis, que fica a cerca de 31 km de Goiânia, ainda não era conhecida pela sua alta produção de doces. Com isso, o município, que era reconhecido apenas pelo alho, passou também a aderir o doce em sua gastronomia.

Matheus Navas Camozzi Fedato, de 28 anos, herdou, com familiares, a fábrica de doces do avô que, desde a década de 60, é reconhecida na cidade. São 57 anos de história. 

A Fábrica de Doces Nerópolis foi fundada por Humberto Marques Brandão que, na contramão da onda do alho na cidade, saía às ruas, de porta em porta e também nas feiras das redondezas, vendendo doces de leite, a famosa pasta de doce de leite, geleia de mocotó, doces de frutas e também a rapadura. A lista é grande e pode chegar a mais de 100 tipos. A especialidade chamou a atenção e logo apareceram clientes de outros lugares, como Brasília e Bahia. 

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A tradição do doce na cidade fez com que a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) aprovasse a Lei Estadual nº 22.203 que torna patrimônio cultural e imaterial a atividade doceira na cidade.

Para Matheus, que assumiu recentemente a empresa da família, a importância desse reconhecimento é de extremo valor para o Município, tanto socialmente quanto economicamente.

“A importância social é fundamental porque as pessoas se sentem reconhecidas, internamente isso é muito prazeroso, existem doceiros aqui que tem mais de 40 anos de casa, então ter na história dele é muito importante. Economicamente, isso traz incentivos e a mídia para aqui, mostrando o que temos de melhor, não é só outros estados como Minas Gerais.”

A Doces São Benedito é um pouco mais jovem. A empresa começou suas operações no ano de 2005. Com 18 anos de trabalho, não demorou para que seus doces também ultrapassassem as fronteiras do municípios e conquistasse outros estados. A proprietária do estabelecimento, Flávia Coelho Teodoro Pereira, de 47 anos, lembra, com orgulho, que os doces já chegaram por vários lugares como Brasília, Pará, Tocantins e Manaus.

“A gente tem um centro de distribuição grande em Brasília. Muitas pessoas também buscam os doces aqui e acabam distribuindo a outros estados”, comenta ela, feliz.

Flávia também relata que esse reconhecimento demorou um pouco, por mais que anos atrás o município era reconhecido pelo alho, o doce nunca deixou de estar presente durante todos esses anos.

A doceira reclama que, por causa da fama da qualidade do doce de Nerópolis, muitas pessoas acabam usando o nome do município em carros de som para vender os quitutes. “Muitas vezes esses doces são de outros lugares, mas eles seguem o nome. Então tinha o nome mas não tinha o reconhecimento.” 

No município também está sendo organizada uma Feira de Negócios que tem como objetivo incentivar e motivar o comércio na cidade, apresentando as empresas tanto para o município quanto para o estado, que vai ocorrer dia 30 de agosto. A feira também serve para que várias gerações de doceiros sejam apresentados aos consumidores.

Para Eulaia Maria de Oliveira Cardozo, de 34 anos, que abriu recentemente seu próprio negócio na garagem de casa, a feira pode ser um modo para que ela apresente sua empresa, Rainha do Canudo, ao mercado e assim ganhe mais reconhecimento dentro do estado justamente pelo doce vendido em canudo e doces de leite em potinhos de sorvete comestíveis. 

A feira e a valorização da gastronomia dos doces em Nerópolis são muito importantes para os microempreendedores.“Isso é importante porque a gente vai crescer e vamos ter a oportunidade de ser reconhecido em outros estados, e para a gente que estamos começando agora, isso tem muita importância”, destaca Eulaia.

O evento é promovido pela Associação Comercial Industrial Agropecuária e Serviços de Nerópolis. O presidente da organização, Jones Rodrigues, e os diretores, Edimar Rodrigues e China da Condibali, estão empenhados em gerar uma grande visibilidade e apresentar os empreendedores e microempreendedores neropolinos, não só para o município, mas também para o estado. 

“Para os doceiros é uma oportunidade que ele tem de gerar degustação e apresentar seu produto e vender os seus doces, além de comercializar os doces, essa também é uma forma deles conseguirem novos clientes e parcerias.”

O presidente da associação, Jones Rodrigues, relata que o reconhecimento da gastronomia dos doces de Nerópolis pode somar muito para os negócios no município, porém isso deve ser trabalhado mais, para colocar isso cada vez mais visível.        

“Ele agrega muito, porém temos que trabalhar muito mais para deixa isso evidente, porque é uma cidade que tem uma referência do doce e do tempero, então isso deve ser explorado mais e se mostrar isso um pouco mais, para aquele que não conhece.”

Para o Coronel Adailton, autor da lei que reconhece os doces de Nerópolis, as expectativas são extremamente positivas, pois esse reconhecimento pode trazer um impacto turístico e econômico grande para o município de Nerópolis.

“Esse reconhecimento, como patrimônio imaterial e cultural da gastronomia com certeza vai trazer um impacto econômico e turístico muito relevante, pois a divulgação dessa lei, certamente irá trazer turista para conhecer e saborear esses doces”, comenta o deputado em entrevista à reportagem do jornal O Hoje.

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