Polícia resgata 50 pessoas entre 14 e 96 anos em clínica clandestina

Delegado de Anápolis busca conta de familiares para direcionar vítimas

Postado em: 31-08-2023 às 09h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
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Algumas das pessoas resgatadas são de outros estados e foram levados de maneira forçada ao lugar, ao qual os proprietários recebiam um pagamento de 1 salário mínimo | Foto: Polícia Civil

A Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso (DEAI) de Anápolis resgatou nesta terça-feira (29) 50 homens mantidos trancafiados e em situação de risco na zona rural de Anápolis em uma clínica clandestina. Os homens tinham idades entre 14 a 96 anos e estavam em condições precárias, presos em quartos – que mais pareciam celas – insalubres, sem medicamentos e com alimentação duvidosa.

De acordo com a investigação, algumas das pessoas resgatadas são de outros estados e foram levados de maneira forçada ao lugar, ao qual os proprietários recebiam um pagamento de 1 salário mínimo para o confinamento. Algumas dessas pessoas trancafiadas possuíam deficiências intelectuais, haviam cadeirantes, autistas e dependentes químicos. Dentro do espaço não havia assistência médica nem psicológica.

Além do quadro de confinamento, as vítimas também foram torturadas fisicamente pelos proprietários do local junto ao seus funcionários para mantê-lo no local. Os homens libertos possuíam sinais de lesão nos corpos e estavam malnutridos, alguns tiveram que ser hospitalizados e foram levados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

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Junto ao resgate, também foi feita a prisão de seis pessoas em flagrante na clínica, na qual havia o casal proprietário da clínica e quatro funcionários, o dono e proprietário fugiu durante a operação policial. Todos os encarcerados foram autuados sob o crime de tortura em cárcere privado, a pena pela Lei Nº 9.455 de 1997 prevê de dois a oito anos de reclusão.

O delegado titular da DEIA, Manoel Vanderic, disse, em vídeo enviado à imprensa, que a operação começou com a hospitalização de um idoso de 96 anos no Hospital Estadual de Anápolis Dr. Henrique Santillo (HEANA), do qual chegou ao local com lesões no corpo, desnutrido e desidratado e com mal cheiro. 

As autoridades então fizeram um levantamento e apuraram que o senhor era um interno de uma clínica irregular, sem registro nos órgãos públicos. Segundo o delegado, as vítimas estavam submetidas a uma situação desumana, não podiam sair, fazer ligações e não recebiam visitas das famílias.

As pessoas resgatadas que não precisavam ter sido encaminhadas pelo SAMU passaram a madrugada desta quarta-feira sob os cuidados da prefeitura de Anápolis no estádio municipal, onde foram higienizadas, alimentadas e tiveram seus cuidados médicos atendidos. Além do trabalho humanitário foi feita a apuração de seus lugares de origem para que entrassem em contato com suas famílias.

Violência crescente

Anteriormente uma reportagem do jornal O Hoje do dia 28/08 publicou que só nos primeiros cinco meses de 2023 haviam sido feitas mais de 282 mil denúncias ao Disque 100. Destas queixas, 47 mil eram sobre agressão contra os idosos, o número pertence ao serviço do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, este número representa mais de 60 ocorrências de violência contra idosos registradas por mês. A parcela de pessoas com 60 anos ou mais no país é de 14,7% de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em relação ao mesmo período de 2022 esse número de violações de direitos humanos é 87% maior. De janeiro a maio de 2022, mais de 150 mil violações foram anotadas, a partir de mais de 30 mil denúncias, segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Na semana passada outro caso chamou atenção das autoridades. Um homem de 43 anos foi indiciado pela Polícia Civil de Goiás por crimes de maus tratos contra o próprio pai, um idoso de 78 anos, em Goiânia. As autoridades chegaram ao autor após denúncias anônimas. 

O idoso contou à polícia que foi agredido pelo filho depois que reclamou da desordem da residência. O homem não gostou e partiu para a agressão, momento em que vizinhos chamaram a polícia.

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