Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Justiça adia audiência de Bispo

Investigações apontam que bispo e grupo acusado comprou fazenda com criação de gados, carros de luxo e lotérica

Postado em: 10-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Investigações apontam que bispo e grupo acusado comprou fazenda com criação de gados, carros de luxo e lotérica

Raunner Vinícius Soares*

O juiz Fernado Oliveira Samuel da 2ª vara criminal de Formosa, Entorno de Brasília, adiou a audiência de instrução de julgamento do bispo Dom José Ronaldo Ribeiro e outros cinco padres acusados de desviar mais de R$ 2 milhões em dízimos da diocese da cidade. A sessão ocorreria ontem (9), mas foi remarcada para o próximo mês, dia 10 de setembro, após o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) apresentar novos documentos relacionados ao processo. 

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Na decisão, o juiz justificou que os defensores manifestaram em conjunto pela impossibilidade de prosseguir com a produção de prova testemunhal sem tomar conhecimento e analisar tais provas. O magistrado disse ainda que isso causaria prejuízo aos defensores, porque não permite o contraditório e a possibilidade de influência dessa prova para iniciar a inquirição das testemunhas.

Caso 

O então bispo de Formosa, Dom José Ronaldo, quatro padres, um monsenhor e funcionários administrativos foram presos em março durante operação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) contra desvios de recursos na Igreja Católica em Posse, Formosa e Planaltina que são cidades do Entorno do Distrito Federal. O prejuízo estimado é de mais de R$ 2 milhões.

A denúncia feita em dezembro de 2017 pelos fiéis declararam que as despesas da casa episcopal de Formosa, onde o bispo mora, passaram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde que Dom José Ronaldo assumiu o posto, havia três anos. Segundo a investigação, o grupo se apropriava de dinheiro oriundo de dízimos, doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como batismos e casamentos.

Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça apontam que o grupo comprou uma fazenda de criação de gado e uma casa lotérica com dinheiro desviado de dízimos e doações. Em decisão, juiz disse haver indícios de que o dinheiro era usado para despesas pessoais e que carros da Diocese de Formosa eram usados com fins particulares. 

O juiz Fernando Oliveira Samuel determinou em março o bloqueio de bens dos seis clérigos, dois empresários e do secretário da Cúria. O limite foi de até R$ 1 milhão por cada. Também foi autorizada a quebra do sigilo bancário e fiscal dos acusados.

No processo do MP constam documentos que apontam que alguns dos religiosos acusados de desvios de dízimos reconheceram a ausência de R$ 910 mil nos caixas das igrejas. O órgão acredita que o padre Waldson José de Melo, de Posse, o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira e o bispo Dom José Ronaldo embolsavam os valores declarados como desaparecidos.

Operação 

De acordo com o MP-GO, a suspeita é que a associação criminosa atuava na cúria da Diocese da Igreja Católica de Formosa e em outras paróquias relacionadas a ela nas outras cidades. Participaram da ação cerca de dez promotores de Justiça, além das polícias Civil e Militar. Foram apreendidas caminhonetes da cúria em nomes de terceiros, além de uma grande quantia de dinheiro em espécie, com valor ainda não divulgado.

A operação batizada de ‘Caifás’, nome do sumo sacerdote judaico que condenou Jesus Cristo, tem ao todo nove mandados de prisão e dez de busca e apreensão em Formosa, Posse e Planaltina. Além de residências e igrejas, um mosteiro também é alvo da investigação.

O processo tem 31 testemunhas relacionadas pela defesa do bispo Dom José Ronaldo no processo, dentre elas estava o Papa Francisco. Ele deveria ser ouvido por carta rogatória. O juiz Fernando Oliveira Samuel negou o pedido, alegando que a defesa não trouxe qualquer justificativa para ouvir o pontífice. Na época, a defesa disse que a escolha era técnica. Também haviam sido listados pela defesa do bispo o núncio apostólico no Brasil, Giovanni D’Aniello, e o cardeal Dom João Braz. (Raunner Vinícius Soares* é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor interino de Cidades Rafael Melo) 

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