Degradações afetam Meia Ponte e vazão é de mais de 3 mil litros

Baixo volume de água é preocupante devido à baixa expectativa de chuvas na região

Postado em: 10-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Baixo volume de água é preocupante devido à baixa expectativa de chuvas na região

Gabriel Araújo*

O Rio Meia Ponte, sistema responsável pelo abastecimento de 52% da população da Grande Goiânia, está com uma vazão de 3.850 litros por segundo antes da capitação que abastece a capital e região. Dados da Saneago informam que, após a retirada de 2.300 litros por segundo, a profundidade da água chega a apenas 144 centímetros.

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Pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Goiás (UFG) constatam que a utilização indevida do solo é um dos principais motivos para a dificuldade de recuperação do Rio. Desmatamento da mata ciliar, área de floresta localizada no entorno dos cursos d’água, capitação indevida e manejo do solo para a agricultura interferem na capacidade de captação de água pelo solo, o que diminui os níveis nos lençóis de abastecimento subterrâneo.

Segundo a Saneago, os clientes residenciais são os maiores consumidores de água tratada no Estado, representando 87,27% do volume de água faturado pela Companhia. Os clientes comerciais representam 5,79% e os clientes públicos (órgãos da administração pública federal, estadual ou municipal, templos religiosos e entidades declaradas de utilidade pública) são 4,55% do total. As indústrias são responsáveis pelo consumo de apenas 1,32%.

Vazamentos

O estado de Goiás desperdiçou 30% de toda água faturada em 2016 somente durante a distribuição. Dados informados em pesquisa do Instituto Trata Brasil divulgados em junho constataram que o Estado foi o segundo que menos desperdiçou no país, ficando atrás somente do Tocantins.

Segundo o Estudo, as perdas comerciais em todo o país chegam à casa dos R$ 10 bilhões por conta do desperdício e são causadas, principalmente, por vazamentos nas redes de distribuição, erros de leitura de hidrômetros, roubos e fraudes. “A perda é a água que não precisaria ser retirada da natureza. Poderia também usar essa água para agricultura, comércio e outros setores, mas tem que usar para abastecimento humano para compensar a ineficiência da distribuição”, pontua.

Um dos parceiros no estudo, o pesquisador Pedro Scazufca lembrou que os números não mostram uma boa expectativa. “Esperamos que os números se mantenham nesta base de 36, 37 e 38. A gente sabe que o problema se dá em diversos âmbitos e que o investimento é necessário. O objetivo é você conseguir tem uma melhor gestão no sistema e acabar poupando recurso e arrecadando mais, o que cria um ciclo positivo de mais investimentos das empresas”, contou.

De acordo com a Saneago, de janeiro a junho de 2018, foram registrados 229.637 vazamentos, o que representa um dos menores índices de perdas do país, com 22,53%.

Chuvas

O volume de chuvas em todo o estado vem diminuindo desde 2015, quando choveu cerca de 8.500 milímetros, e já é 10% menor que o registrado nos sete primeiros meses de 2017. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) o último grande pico de chuvas foi em 2004, quando choveu mais de 12 mil milímetros.

Bacias

De acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), cerca de 85% das bacias hidrográficas existentes no estado estão com qualidade ruim ou péssima. Pesquisa realizada para apresentação de tese de doutorado da professora Karla Cruvinel analisou 126 bacias em 122 municípios de Goiás e constatou que as bacias localizadas na região Oeste e Sul do estado são as que apresentaram a maior incidência de péssima qualidade.

De acordo com a pesquisadora, o objetivo de analisar as bacias foi entender o estágio de qualidade hidrográfica no estado. “Conclusivamente, pode-se dizer que a grande parcela das bacias estudadas estão enquadradas em condição péssima, o que fica evidente a degradação devido ao processo de ocupação dessas áreas e a ausência de planejamento”, escreveu.

A bacia do Rio Meia Ponte, um dos principais mananciais de abastecimento da capital, possui uma área de 1.637,78 km². O rio, que nasce na Serra dos Brandões entre os municípios de Itauçu e Taquaral de Goiás, a 60 km de Goiânia, passa por 17 municípios até chegar na capital. De acordo com o estudo, o Rio Meia Ponte possui seis classes de uso e ocupação do solo, como a agricultura, que representa 43,71%, a pastagem, com seus 39,98%, a floresta que equivale apenas a 11,90%, além do zoneamento Urbano, com 3,35%, cerrado 0,9% e água 0,14%. 

Formas em que o solo goiano é utilizado interferem na captação de água 

Devido ao atual uso do solo, Goiânia e toda a região metropolitana corre risco de sofrer com a escassez de água. De acordo com estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG), os principais rios e o lençol freático estão chegando a um ponto crítico de desgaste, o que eleva o risco de colapso no abastecimento hídrico.

Os pesquisadores afirmaram que o crescimento desordenado e a falta de preocupação com o desenvolvimento dos municípios coloca em risco todo o abastecimento. O relatório ainda lembra a falta de informações, para a população, sobre a captação e a qualidade da água. “Constatamos ainda uma ausência de preocupação com futuros mananciais nos planos diretores municipais”, acrescentam os coordenadores do estudo, profa. Karla Emmanuela e prof. Mauício Sales.

De acordo com os pesquisadores, o crescimento urbano e o desmatamento são os principais responsáveis pelo aumento nos riscos, já que a malha urbana afeta a permeabilidade do solo e dificulta a absorção de água na região. 

O relatório informa que 75% da região metropolitana de Goiânia é constituída de pastagem, lavouras e áreas construídas, além das Áreas de Proteção Permanente (APP) não estarem completamente protegidas. “Há pouca representatividade de Unidades de Conservação em escala metropolitana e se verifica degradação elevada nas áreas de proteção permanente (APP) dos cursos de água”, constataram os pesquisadores.

Segundo o estudo, a melhor opção para a busca de uma recuperação de capacidade de produção de água é a gestão compartilhada entre todos os órgãos públicos da Grande Goiânia, a população e o setor produtivo. “Não é possível garantir água para todos se não repensarmos nosso modelo de ocupação urbana e se não protegermos os mananciais. Não há outro caminho”, afirmaram.

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), as Áreas de Preservação Permanente, conhecidas como APP’s, foram instituídas pela última versão do código florestal em maio de 2012. Essas áreas buscam proteger o solo e corpos d’água de ocupação inadequada, além da prevenção de inundações e enxurradas. “A função ecológica de refúgio para a fauna e de corredores ecológicos que facilitam o fluxo gênico de fauna e flora, especialmente entre áreas verdes situadas no perímetro urbano e nas suas proximidades”, afirmou o órgão.

Para o MMA, o não seguimento destas normas é prejudicial tanto para o meio ambiente quanto para as populações dos centros urbanos. “Os efeitos indesejáveis do processo de urbanização sem planejamento, como a ocupação irregular e o uso indevido dessas áreas, tende a reduzi-las e degradá-las cada vez mais. Isso causa graves problemas nas cidades e exige um forte empenho no incremento e aperfeiçoamento de políticas ambientais urbanas voltadas à recuperação, manutenção, monitoramento e fiscalização das APP nas cidades”, completou.

A Lei nº 12.651 estabelece normas sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal e busca o controle e a prevenção dos possíveis danos causados ao meio ambiente provenientes da exploração indevida das florestas. (*Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor interino de Cidades Rafael Melo). 

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