Analfabetismo recua no Brasil, mas números ainda estão longe do ideal, diz especialista

Embora os números parece animar às vésperas do Dia Mundial da Alfabetização, no dia 8, dados preocupam

Postado em: 06-09-2023 às 08h00
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: Analfabetismo recua no Brasil, mas números ainda estão longe do ideal, diz especialista
É a primeira vez, após a pandemia, que o IBGE divulga dados de pesquisa do gênero | Foto: Gustavo Gargioni

Gabriel Neves

O Brasil teve uma redução de cerca de 490 mil analfabetos entre pessoas de 15 anos ou mais. Em números percentuais, isso significa que houve um recuo de 6,1%, em 2019, para 5,6% em 2022. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua: Educação 2022, divulgada no último mês de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a primeira vez, após a pandemia, que o Instituto divulga dados de pesquisa do gênero.

Embora os números soem animadores e às vésperas do Dia Mundial da Alfabetização, comemorado no dia 8 de setembro, especialistas na área da educação ponderam que apesar do recuo evidenciado pela pesquisa, os índices de analfabetismo ainda estão longe do ideal. 

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Para Neuracy Bastos, pedagoga com mais de 30 anos de atuação em escolas públicas e privadas de Goiânia e especialista em métodos e técnicas de ensino, a diminuição do analfabetismo não representa um crescimento significativo da educação. “Nós, que vemos a realidade em sala de aula, percebemos quantas crianças ainda não sabem ler e escrever”, diz Bastos. “Os métodos de ensino são hoje bem mais avançados e os números continuam ruins. Deveríamos estar muito além.”

A educadora conta que o abandono escolar é um dos principais motivos que contribuem para o analfabetismo no Brasil. Segundo ela, a grande maioria dos professores trabalham de forma efetiva para contornar o problema, mas as questões socioeconômicas são pujantes para os alunos apreenderem o conteúdo ministrado em sala de aula. “Muitos alunos fazem a única refeição do dia na escola [por causa da merenda]. A pobreza, a questão da mobilidade, problemas de saúde na família, tudo isso contribui”, avalia. 

No ensejo da data comemorativa, criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), surge a oportunidade de reflexão sobre o processo de alfabetização praticado pelas escolas. “É preciso avaliar se as instituições contemplam todas as necessidades que permeiam a leitura e a escrita para oferecerem ensino de qualidade, com base em avanços efetivos. Mas, o que seria essa proposta educativa avançada, se o tema é debatido há tantos anos e ainda são poucos os avanços pontuados pelos teóricos valorizados e mencionados nas rodas educativas?”, questiona Bastos. 

A professora lembra, durante a entrevista ao O Hoje, que é tempo de voltar ao pensamento de Paulo Freire, um dos patronos da educação no país, que versa sobre o que ele definiu como a “pedagogia do olhar”, em que o aluno é incentivado a ser um agente de transformação no lugar em que ele está. “Quando Freire diz, por exemplo, que a alfabetização é um ato criador e que o analfabeto deve ser preparado para ser o agente da aprendizagem, nota-se que, na realidade prática, poucos são os espaços proporcionados que possibilitem essa criação”, diz. 

Para que o aluno se torne agente de transformação, prossegue a professora, a escola precisa administrar propostas inovadoras. Uma delas, dar autonomia para as crianças. “É preciso desenvolver propostas pedagógicas que visem o envolvimento das crianças, as atividades em grupos, jogos educativos e interativos, a informática”, diz Bastos. “Mas sabemos que cada escola possui uma realidade diferente.”

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