Temporada da Jabuticaba movimenta economia, gera renda e atrai turistas 

Na Estância São José mais de 200 pessoas frequentam o pomar de jabuticabas nos finais de semana

Postado em: 08-09-2023 às 08h35
Por: Alexandre Paes
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Na Estância São José mais de 200 pessoas frequentam o pomar de jabuticabas nos finais de semana | Foto: Alexandre Paes/O Hoje

Em meio às folhas verdes e galhos é possível ver as frutinhas “pipocarem” nos pomares de jabuticaba. Por ser adorada por muitos, o movimento já começa a ser visto nas estradas, onde os vendedores se aproximam dos viajantes com a doce iguaria, e a fruta típica brasileira é um chamariz para um dos atrativos turísticos de Goiás, conhecida como a temporada da jabuticaba.

Foi em 1913 que a Estância São José começou a produção das primeiras jabuticabeiras. E com o passar dos anos, a herança foi repassada de geração para geração, uma tradição cultural que o José Pedro Vieira, de 82 anos, assumiu e mantém de pé há mais de 100 anos junto com toda família. “Hoje parte da nossa renda vem do jabuticabal, que atrai turistas até de Brasília. Essa fruta arroxeada conquista o paladar de muita gente”, conta o proprietário 

Atualmente, a fazenda possui cerca de 1.800 pés de jabuticaba, e o pomar é voltado apenas para a atividade turística, recebendo cerca de 200 a 300 pessoas em um único fim de semana, e geralmente o domingo é o dia mais cheio. Neste ano, José conta que a floração e amadurecimento dos frutos se adiantou, por conta das chuvas que caíram fora de época.

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“Sempre conseguimos controlar a floração com o sistema de irrigação por etapas. Geralmente o pomar é dividido em seis etapas, e a cada dez dias, vamos irrigando para termos jabuticabas durante toda temporada, que costuma seguir até meados de novembro. Mas em 2023, a chuva nos pegou de surpresa, e em contrapartida, alegrou os amantes da fruta, que já começaram a frequentar o pomar”, explica José.

Além de receber turistas que passam o dia na propriedade, pagando um ingresso de R$ 45 por adulto, e R$ 22,50 para crianças de 6 a 10 anos, ele também vende a fruta para feirantes em caixas. “Alguns comerciantes vem buscar o fruto, e levam para as feiras e frutarias da cidade”, conta o produtor, lembrando que toda família se envolve na produção durante o período de colheita.

Em alguns lugares de Goiás, a safra da jabuticaba é um verdadeiro evento. Vale ressaltar que a fazenda também permite a entrada de animais para um saboroso passeio em família. Além disso, para aqueles que quiserem levar as delícias para casa, é cobrado uma taxa de R$ 10 por litro.

Paixão cultural

Outro ponto positivo, é que devido a versatilidade, a dona Leni Alves Vieira, esposa de seu José, aproveita a alta produção para produzir um subproduto delicioso, fabricando as polpas de jabuticaba que são congeladas e oferecem sucos nutritivos durante muito tempo. “Sou apaixonada nessas bolinhas roxas. Todos os dias eu venho andar pelo pomar e aproveito para comer de sobremesa as jabuticabas. E olha que depois da ideia de fazer as polpas, os visitantes levam para casa com a maior felicidade, por conta da praticidade de tem um bom suco”, conta. 

Liliane Alves Vieira e suas irmãs ajudam o pai, seu José, a cuidar do espaço. E apesar da safra durar apenas três meses, os recursos obtidos por meio do ecoturismo são fundamentais para os investimentos nas propriedades. “É daqui que nossa família tira parte do sustento. Além disso, essa é uma maneira de alegrar a comunidade e manter viva a herança familiar de décadas”, expõe.

Como sempre trabalhou com comércio, a interação com o público é o que move toda família a ficar de portas abertas, além de oferecer vivências únicas para os apaixonados pela fruta. “Nossos visitantes podem desfrutar de caminhadas nos pomares, apreciam os frutos. Acreditamos que nada melhor do que ter esse contato com a natureza e valorizar nossa agricultura”, finaliza Juliana Vieira, que também contribui na fazenda.

Jabuticaba em destaque 

Sempre muito aguardada pelos goianos, a safra anual de jabuticabas colocou Goiás numa posição de destaque no País. O Estado é o maior produtor nacional da fruta e Hidrolândia, que responde por mais de 90% da produção goiana, lidera o ranking de municípios brasileiros que cultivam jabuticabas, segundo o Censo Agro 2017, divulgado na última semana pelo IBGE. 

Apesar de apenas uma propriedade rural abrigar 42 mil dos quase 67 mil pés existentes na região, existem outros 133 produtores no estado, assim como a fazenda do José Vieira. O IBGE estima que a produção de jabuticabas em Goiás tenha sido de 1.714 toneladas em 2017. Mas a Empresa Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) fala em uma safra muito maior hoje: 6.700 toneladas, colhidas em árvores que ocupam uma área total de 255 hectares em Goiás. 

A Emater realiza um trabalho junto aos produtores da região de Hidrolândia, que inclui assistência técnica e apoio à comercialização da fruta e seus derivados, inclusive com o desenvolvimento de receitas de produtos como geleias, doces e licores. Atualmente, a Secretaria de Turismo do município de Hidrolândia também trabalha no desenvolvimento da rota de fruticultura da jabuticaba, associando o turismo à produção expressiva na região.

“Como a jabuticabeira é uma planta que exige cuidado simples e possui aceitação de mercado, nós pretendemos estudar quais são os municípios com aptidão e trabalhar as melhores formas de proporcionar sucesso na cultura e no comércio”, relata Taís Ferreira.  O objetivo do projeto de Fortalecimento da Cadeia Produtiva de Jabuticaba é agregar valor dentro de cada propriedade, fornecendo mais uma fonte de recurso aos produtores da jabuticaba. 

Neste ano, como choveu em agosto, a expectativa é de safra ainda maior, devendo se estender até novembro. Com 128 produtores cadastrados, mais de 67 mil pés de jabuticaba, dos quais passam de 51 mil os já em produção, e safra anual de Hidrolândia apresenta cerca de 2,867 mil toneladas de jabuticabas.

Em 2022, foi feito o diagnóstico do potencial de indicação Geográfica (IG) do município na produção de jabuticabas, reconhecimento feito pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Em Goiás, dois municípios contam com IG: Pirenópolis, pela fabricação de peças em prata, e Mara Rosa, pelo açafrão. O processo para obter o reconhecimento envolve diversas etapas, devendo ser concluído até julho de 2024.

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