Como é a vida alimentar de uma pessoa com diabetes

Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 2030 o diabetes seja a sétima causa de morte no mundo

Postado em: 09-09-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Como é a vida alimentar de uma pessoa com diabetes
A diabetes é uma doença crônica que atinge milhões de pessoas em todo o mundo | Foto: Ronilma Pinheiro

Regina Célia Soares dos Santos, dona de casa, de 54 anos, foi diagnosticada com o Diabetes em 2013. “Eu engordei muito a ponto de ficar obesa, cheguei a pesar quase 70 kg e só tenho 1,50 de altura. Eu tinha a sensação de que ia desmaiar a qualquer momento”, relata a dona de casa. A partir desse quadro, ela resolveu procurar um médico para saber as causas do problema e foi surpreendida ao receber o diagnóstico da doença.

Na época, jamais passou pela cabeça de Regina que ela poderia ter diabetes, apesar de haver histórico da doença na família. “Eu nem imaginava que fosse diabetes, até porque até então só a minha mãe tinha”, relembra.

A mulher desconhecia totalmente a doença crônica, com a qual, passaria a conviver diariamente. Ela conta que aos poucos o médico responsável pelo seu acompanhamento foi explicando a ela do que se tratava a doença que atinge milhões de pessoas em todo o Brasil. No início Regina não se preocupou tanto com a problemática, haja vista que “só” precisava seguir uma vida de tratamentos e manter uma dieta balanceada. “Era só tomar os medicamentos direito e fazer uma dieta balanceada, e eu procurei fazer isso”, conta.

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A Diabetes é uma doença crônica que atinge milhões de pessoas no Brasil, a doença não tem cura, mas tem tratamento, e a demora no diagnóstico pode favorecer o aparecimento de complicações e até levar à morte, segundo especialistas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 2030 o diabetes seja a sétima causa de morte no mundo.

O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue que avaliam a quantidade de açúcar circulante, como a glicose em jejum, teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada, por exemplo, é o que afirma o médico atuante na área de Endocrinologia e Metabologia, André Luiz do Nascimento Júnior.

Os tipos mais comuns da doença são o tipo 1 e 2, onde o primeiro diverge do segundo em alguns aspectos. “Basicamente a principal diferença entre os dois tipos de diabetes é que, no tipo 1, o corpo não consegue produzir a insulina para metabolizar a glicose. Por sua vez, no tipo 2, existe uma resistência do próprio organismo à ação da insulina produzida no organismo, como se ela não fizesse o efeito que lhe é próprio”, explica o especialista.

De acordo com o médico, no caso do tipo 2, os principais sintomas: sede excessiva; boca seca; cansaço excessivo; fraqueza; aumento do apetite; urina em excesso e vontade frequente para urinar; perda de peso sem causa aparente; cicatrização de feridas mais demorada. 

Além disso, a diabetes do tipo 2 está relacionada com a resistência à insulina, ou seja, a insulina não é capaz de levar a glicose circulante para o interior das células, resultando na presença constante de grandes quantidades de açúcar circulante, segundo o endocrinologista. “Lembrando que esse tipo de diabetes acontece com maior frequência em pessoas com excesso de peso, obesidade e/ ou que possuem alimentação rica em açúcar e gordura”, acrescenta.

Os tratamentos envolvem o uso de medicamentos e mudança no hábito alimentar. Dessa forma, ao ser diagnosticado com a doença, o paciente precisa adaptar o seu paladar para alimentos saudáveis.

O nutricionista Ricardo Veríssimo, destaca que enquanto o diabetes tipo 1 no geral é causado por fatores genéticos que desencadeiam uma reação auto-imune que pode levar à doença, o diabetes tipo 2, é em sua maioria causada pelo sedentarismo e hábitos alimentares errados, como o consumo excessivo de carboidratos.

Desse modo, devido à resistência insulínica causada pela doença, é importante controlar a quantidade dos carboidratos ingeridos, como o consumo excessivo de arroz, feijão, frutas, pães e cereais, afirma o nutricionista.  “Para termos uma noção a cada grama de carboidrato que ingerimos aumenta 5 mg por decilitro da glicemia. Então por exemplo, se o paciente tem uma glicemia de 120 ou de 130 em jejum  e comer 10 gramas de carboidrato a glicemia já vai para 180”, detalha.

No caso de Regina, a adaptação para os novos alimentos que agora fariam parte do seu cardápio foi fácil, segundo a mulher, uma vez que nunca gostou muito de doces. No entanto, deixar de comer o arroz diariamente, foi um pouco complicado para ela, mas atualmente, a ausência do alimento não faz diferença em sua vida.

A dona de casa segue a mesma rotina todos os dias. Ao acordar, ainda em jejum, ela mede a glicemia. Após tomar um comprimido receitado pelo médico, toma o café da manhã, que leva em seu cardápio, geralmente uma tapioca, cuscuz, batata doce ou um omelete. “Eu não como pão branco, até o pão integral eu como raramente”, pontua.

No almoço, alimentos como o feijão, arroz e outras massas, são substituídos por legumes, salada, ovos cozidos e carnes. Após a refeição da tarde, a dona de casa toma mais remédios e volta a medir a glicemia cerca de duas horas depois da comida.

Ela realiza esse processo de medir a glicemia todos os dias, pela manhã e à tarde e quando percebe qualquer descontrole, já procura nos alimentos, uma maneira de controlar a doença. “Eu tomo sucos naturais, que são azedos, como o de tamarindo com maracujá ou de limão com maracujá, sempre duas frutas verdes. E ela normaliza”, declara. 

“Eu não aumento mais a dose do medicamento. É só o que o médico passou e pronto. O resto é tratado no alimento, no suco. Não tomo refrigerante, não tomo suco com açúcar, nada disso”, narra. Ela conta que uma das maiores dificuldades enfrentadas por ela, é a insônia que desenvolveu após a doença e que para isso, conta com os remédios naturais como chás e sucos.

De seis em seis meses, a dona de casa consulta o médico endocrinologista e todos os anos ela faz um check-up completo, a fim de saber a evolução e o quadro da doença.

Ao ser questionada se sentia falta de algum alimento em todos esses anos de tratamento, Regina responde que não, pois adapta certos alimentos à sua dieta, como é o caso do bolo. “O bolo eu faço de aveia com banana ou chocolate amargo, então eu não sinto falta, sei fazer as minhas próprias receitas”, explica.

A lasanha também é um prato que foi adaptado pela senhora à sua dieta. “Eu faço lasanha sem massa, apenas com iogurte, requeijão e ovo”, conta. “E assim, não sinto falta de bolo, de trigo, essas coisas. Já me acostumei a viver assim”, acrescenta.

Para ela, a maior dificuldade enfrentada em relação à alimentação é fora de casa. “A minha dificuldade é quando vou pra algum lugar longe dos meus familiares, mas no meio da minha família ou na minha casa eu já tô acostumada”, finaliza.

A doença, que estava controlada com o uso de medicamentos e alimentação adequada, se agravou em 2020, ano que iniciou a pandemia de Covid-19, quando Regina foi diagnosticada com o Coronavírus. “Até então ela era controlada, mas começou a descontrolar quando tive covid. Desde então, foi difícil controlar a doença. Até hoje enfrento problemas em decorrência das sequelas deixadas pela Covid-19”, explica a dona de casa.

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