Pedro Paulo Medrado, o goianiense que percorre Nordeste de bicicleta

Gabriel Neves

Pedro Paulo Medrado vê no andar de bicicleta um ato de resistência social em meio à correria do dia a dia na vida urbana. Nascido em Goiânia, ele tem 23 anos e aprendeu a atividade aos 4. No mesmo dia em que pedalou pela primeira vez, ele se recorda que foi também o dia em que já descartou o apoio das rodinhas que ajudam as crianças a ter maior firmeza no veículo. A paixão pelo pedal foi aumentando à medida em que foi crescendo.

Medrado fazia pequenas viagens pelo interior do estado de Goiás em sua Speed de pneu fino desde 2017. Passou por Guapó, pela Chapada dos Veadeiros e por alguns outros lugares. Isso até chegar ao seu maior empreendimento nessa área. Ele está sozinho nas estradas do Brasil desde o dia 20 de dezembro do ano passado na execução de um sonho. Medrado decidiu sair de Goiânia para pedalar cerca de oito mil quilômetros até o Nordeste do país.

Por telefone, ele conversou durante uma hora com este jornal diretamente da praia de Pipa, em Tibau do Sul, cidade no litoral sul do Rio Grande do Norte, atual parada dele no percurso do itinerário que intitulou como Jornada Pelo Nordeste. Entrando no décimo mês de viagem, Pedro Paulo Medrado conta que já perdeu as contas de em quantas cidades parou desde o início, mas diz ter certeza de que já foram mais de 100. 

Nesse período, ele equilibra seus 68 kg com os 35 kg da mala — em que carrega sua barraca, um isolante térmico, saco de dormir, talheres, prato e também o fogão — e outros 13 kg da bicicleta. Tudo por um desejo convicto que tem de, através da cicloviagem, explorar os lugares mais escondidos no interior nordestino e se conectar com a cultura dos povos que vivem nesses locais.

“É algo que me faz muito bem [pedalar] e me conecta diretamente com todas as minhas memórias afetivas da infância. E por mais que se passem os anos e as experiências da vida nos modifiquem, ela [a bicicleta] está sempre presente na minha vida”, diz ele numa voz calma.

Medrado relata que esta é a primeira vez que está por um longo período fora de casa e sozinho. Ele mora com os pais em Goiânia, tem duas irmãs e, segundo ele, vem da família sua principal ajuda financeira para o itinerário. Ele conta também que, apesar da ajuda que recebeu dos amigos que lhe fizeram um fundo assim que estava prestes a ir para a estrada, enfrentou resistência para encontrar patrocinadores quando estava nos preparativos da Jornada Pelo Nordeste. “A gente já sabe das dificuldades do nosso Brasil para com essas questões do esporte. E falta em Goiânia a valorização do esporte, a valorização da cultura popular e do lazer. Projetos como esse têm pouquíssima visibilidade”, diz ele, deixando claro que sente falta de incentivos públicos à esportes como o que ele pratica.

Apesar das dificuldades, toda a viagem está sendo documentada. Medrado carrega uma câmera e por onde anda ele para, filma e colhe informações que deverá utilizar em um projeto audiovisual que pretende lançar já em 2024. “É uma espécie pesquisa narrativa, mas é também um projeto super experimental”, conta emendando que sua principal referência para a captação do projeto é o cinema brasileiro e cita filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, clássico do cineasta Glauber Rocha, e também “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes.

A intenção é fazer um filme que extrapole o formato de vlog ou um relato simples de viagem. “É porque esse projeto, na verdade, nasceu de uma vontade de viver, contar histórias, compartilhar a cultura popular e que é importante a gente perceber e valorizar as pequenas vilas, os interiores do Nordeste do país. É isso que quero mostrar”, afirma o ciclista.

Em seu perfil no Instagram, Medrado está compartilhando a experiência da Jornada Pelo Nordeste em fotos e vídeos. Por lá, está promovendo uma rifa, que tem como único objetivo ajudá-lo a custear o projeto. Há diversas recompensas para os ganhadores que podem ser vistas por quem acessa o perfil @ppelobrasil. Foi por lá também que ele relatou, entre outros episódios, a chegada da nova bicicleta via Correios. A Speed, com a qual ele havia começado a viagem, começou a apresentar limitações especialmente quando começou a passar pelas praias.

Foi em João Pessoa (PB) que Medrado fez uma foto da Pirambeira, como batizou a nova bicicleta personalizada produzida por um de seus amigos. Na paisagem idílica da foto, um contraste fabuloso do azul do céu com o azul do mar. No frame, as águas formavam pequenas ondas. Foi assim que Medrado deu as boas-vindas à sua nova Trek Single Track 90’s, a bicicleta que deverá acompanhá-lo até dezembro deste ano, quando pretende concluir o projeto e retornar a Goiânia depois de um ano pelo Nordeste.