Os riscos que “aguólatras”, viciados em água, correm por causa do excesso de consumo
A hiponatremia, que é a queda do nível de sódio no sangue, pode levar, em casos muito graves, à intoxicação por exagerar na água
Por: Alexandre Paes
“Água nunca é demais”, isso é o que muita gente fala. Caso você acredite que o consumo em excesso do líquido não é prejudicial à saúde, é bom tomar cuidado, pois beber muita água pode provocar o desequilíbrio na concentração de eletrólitos no sangue, principalmente o sódio. O problema é chamado de hiponatremia, que significa a queda do nível de sódio sanguíneo e pode levar, em situações muito graves, à intoxicação por água.
Parece estranho, mas os sintomas deste tipo de intoxicação incluem dores de cabeça, fadiga, náusea, vômito, desorientação mental e até parada cardíaca. A hiponatremia ocorre quando os rins, que controlam a quantidade de água, sais e outras substâncias em nosso organismo, não conseguem liberá-las e “encharcam” o sangue. A água é atraída por regiões onde a concentração de sais é maior e entra nas células.
A intoxicação por água acontece quando um grande volume do líquido é ingerido em um curto período. Relatos recentes mostram que alguns casos foram fatais. O mais recente foi de uma moradora de Indiana, Estados Unidos. Ela ingeriu dois litros de água em uma janela de tempo de apenas 20 minutos.
“Existe um desequilíbrio dos eletrólitos e uma queda brusca no nível de sódio no sangue, chamado hiponatremia. Isso provoca desorientação, letargia, convulsões chegando a levar ao coma ou à morte”, explica o urologista com doutorado pela USP, Pedro Junqueira. O especialista acrescenta que em períodos mais quentes do ano, como os meses de agosto e setembro, a tendência natural é que haja aumento na ingestão de água.
Mesmo assim, é necessário cautela para não cometer excessos. “É comum e faz bem para o corpo consumir um pouco mais em dias mais quentes, já que há mais perda de líquidos pelo suor. No entanto, é preciso ter atenção para evitar o alto volume. O ideal é beber pouca quantidade várias vezes ao dia em vez de beber muito de uma vez só”, pontua.
A comerciante Leila de Castro diz ser conhecida pelos amigos como “aguólatra”, termo que se refere a uma pessoa viciada em beber água. “Meu dia começa bem cedo. Levanto às cinco horas da manhã e vou pra academia. Então, como eu faço muito esforço físico, já tomo meio litro de água. Só na parte da manhã eu devo tomar em torno de um litro e meio, dois litros de água. À tarde eu devo tomar mais um litro e meio”, conta.
Ela explica que uma garrafinha sempre fica próxima dela, para poder ir tomando aos pouquinhos, e evitar a ingestão exagerada. “Quantos eu fico sem beber água por muito tempo eu não sinto mal estar, mas me incomoda né porque fico com sede. E para variar os líquidos costumo tomar chás para acalmar, e adoro suco de abacaxi com hortelã e água de coco para desintoxicar e equilibrar esses líquidos”, pontua.
Em contraponto, o consumo em baixas quantidades de água, pode levar a alterações como irritabilidade, alterações em pressão arterial, redução da função renal, infecção urinária e formação de cálculos renais. “Uma ingestão de água ideal em pacientes sem comorbidades varia entre 2 e 3 litros de água por dia”, comenta o urologista.
Ele dá uma dica interessante: observar o aspecto da urina. Caso ela esteja com a cor amarelo escuro, é preciso beber mais água. Quando a urina está mais com um amarelo mais claro ou sem cor, parecida com água mesmo, muito provavelmente a pessoa está bem hidratada.
“Se você percebe que está tendo muita sede, o melhor é passar por uma avaliação médica, pois isso pode significar algum tipo de patologia, como diabetes por exemplo. É sempre importante lembrar que pacientes que já possuem algum problema de saúde, têm que seguir a orientação de seu médico quanto à hidratação”, explica Pedro Junqueira.
Dose certa
O rim saudável é capaz de filtrar entre 800 ml e um litro de água em uma hora. Quantidades superiores a três ou quatro litros por hora podem aumentar o risco de hiponatremia. Isabella Sena, que é professora de educação física, sempre monitora sua ingestão de líquido, e quando não toma a quantidade adequada para seu corpo, sente retenção do organismo.
“Normalmente durante a manhã bebo dois litros de água, e à tarde, mesmo com ou sem calor, busco consumir mais dois litros. Essa quantidade dura até de noite, que calculadas são uma média de quatro litros diários”, conta. A educadora física já sofreu com nefrite, uma inflamação dentro dos rins, e na época, fez uso de alguns medicamentos e teve de aumentar a ingestão de água.
“Costumo fazer o cálculo individual da quantidade de líquido que meu corpo precisa. Sei que o organismo necessita de 35 ml de água a cada um quilo do corpo. É só fazer a multiplicação. Mas o correto também é sempre realizar exames rotineiros para avaliar a saúde renal e solicitar orientação de profissionais”, argumenta Isabella.