Comportamento obsceno de estudantes de medicina e a cultura de assédio

Universidade Santo Amaro (Unisa) decidiu pela expulsão de alunos após eles se masturbarem durante um jogo de vôlei feminino

Postado em: 20-09-2023 às 08h00
Por: Tathyane Melo
Imagem Ilustrando a Notícia: Comportamento obsceno de estudantes de medicina e a cultura de assédio
Caso na Unisa coloca em destaque a necessidade de combater a cultura de assédio | Foto: Divulgação/Unisa

Em um cenário acadêmico, os estudantes da Universidade Santo Amaro (Unisa) se envolveram em comportamento obsceno durante uma partida de vôlei feminino em um evento universitário. Os jovens, que são do curso de Medicina da instituição, invadiram a quadra no Centro Universitário São Camilo, baixaram as calças e se masturbaram.

O episódio ocorreu durante torneio universitário Copa Calo, que aconteceu em São Carlos, interior paulista, entre os dias 28 de abril e 1º de maio deste ano, mas os vídeos viralizaram no último fim de semana. 

O Centro Acadêmico do curso de Medicina da Unisa divulgou nota informando que não compactua com o comportamento. “Nós não compactuamos com atitudes que ofendam, humilhem e constranjam qualquer pessoa. É notório que tais feitos são um retrocesso para uma universidade moldada através de lutas e reivindicações de seus discentes”.

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A Unisa tomou a decisão na última segunda-feira (18/9) de expulsar os alunos. A instituição afirmou que tomou conhecimento das “gravíssimas ocorrências” ao receber as publicações que circulavam pelas redes sociais.

A Polícia Civil de São Paulo também está investigando o caso, que gerou grande comoção. O ministro da Educação, Camilo Santana, classificou o gesto como “inaceitável” e enfatizou a importância de que os alunos envolvidos respondam legalmente pelos seus atos.

O que os especialistas dizem

O caso levanta questões sobre como a cultura do assédio ainda está enraizada em nossa sociedade, especialmente entre os jovens e para entender melhor esse comportamento, conversamos com a psicóloga Carolline Matos que enfatiza a influência cultural nesse tipo de ação. “O assédio é basicamente uma expressão de como a cultura ainda enxerga as mulheres. Infelizmente, há uma crença muito forte nesse comportamento coletivo, onde muitos ainda enxergam como normal esse tipo de atitude, o que de fato não é normal”, explica a psicóloga.

Carolline explica que o assédio pode expor ainda uma relação de poder baseada no constrangimento da vítima. Sendo este tipo de crime, uma agressão psicológica capaz de gerar traumas e sofrimentos para as vítimas, a psicóloga enfatiza que tais atos, que são muitas vezes praticados por homens, acontecem para a demonstração de poder. “Quando um homem comete o assédio não é porque tem interesse emocional, ou desenvolver uma relação genuína com a mulher, é para demonstrar que “aquele” é o seu lugar, que de alguma forma é ele quem “manda”. E isso ficou ainda mais explícito no comportamento dos estudantes”, pontua a especialista.

Os advogados criminalistas Washington Souza e Lael Rodrigues explicam que a manifestação de cunho sexual em local público, capaz de ofender o pudor médio da sociedade, configura o crime de ato obsceno, que classifica a prática do ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público como passível de pena de três meses a um ano de prisão, ou multa. De acordo com os advogados, este é um crime de ação penal pública incondicionada, o que significa que, ao tomar conhecimento da prática do ato obsceno, o Estado, em regra, por meio do Ministério Público, deve providenciar a apuração do crime, independentemente da manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante.

Além das implicações penais, Souza e Rodrigues destacam que o comportamento dos jovens aspirantes que protagonizaram o incidente também pode ter contornos na esfera cível. Isso ocorre porque, ao praticar atos obscenos em público, eles ofenderam a dignidade alheia, o que pode resultar em danos morais passíveis de reparação.

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