Árvores podem ser refúgio do calor, mas também de memórias e afetos

No Dia da Árvore, a reflexão sobre a importância de um ser vivo tão importante para a saúde da humanidade

Postado em: 21-09-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Flamboyant é uma das árvores mais antigas de Goiânia, plantada em lugar de destaque no Bosque dos Buritis | Foto: Leandro Braz/O Hoje

Com as temperaturas elevadas, os goianienses buscam maneiras de tentar amenizar o calor. E nesse momento, a árvore é uma aliada importante de muitas pessoas em praças, bosques, nos quintais em frente às residências. Em Goiânia é possível encontrar várias espécies, como o flamboyant. Um deles fica no Bosque dos Buritis, um dos mais importantes da capital. 

Divina Ribeiro da silva, dona de casa de 67 anos, moradora do Bairro Parque Amazônia, em Goiânia, diz que já tentou de tudo para tentar aliviar o calorão, desde tomar vários banhos ao dia, tomar sorvete, até molhar a cabeça com água gelada.

No entanto, Divina prefere se sentar embaixo da árvore que fica na frente de casa, para fugir do calor. A Sete-copas foi plantada há cerca de 30 anos pelo marido da dona de casa, Marciano Fernandes.  “Quando o calor tá brabo a gente corre para essa árvore aqui”, diz a moradora, enquanto passa uma toalha molhada no rosto. 

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A história da árvore está no fim. Por causa das raízes que estão invadindo a casa, Divina solicitou à Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), para que a Sete Copas seja removida em breve. “Eu tenho dó dela, mas fazer o quê? A raiz está entrando dentro de casa”, lamenta. “Essa árvore é muito boa, quebra nosso galho nesse calorão. Por mim eu não tirava nunca. Se não fossem as árvores, o que seria de nós?”, acrescenta ela que deverá sofrer ainda mais com o calor sem a “coitada” da árvore. 

Consultado pela reportagem para comentar o Dia da Árvore, lembrado neste 21 de setembro, o Engenheiro Florestal, Rodrigo Carlos Batista de Sousa, destaca que a Goiânia é referência em arborização urbana no Brasil. “Basta andar pelas avenidas e logo logo avista-se um parque”, afirma. 

Com a chegada do calor, as árvores têm uma contribuição fundamental para o aumento da  umidade do ar, uma vez que durante o processo de transpiração elas emitem gotículas de água que são difundidas no ar, segundo o engenheiro. “Basta entrar em algum parque em Goiânia que já é possível sentir a amenização da temperatura”, afirma.

A maior preocupação para os defensores das árvores da capital é o plantio inadequado, segundo o especialista, o que seria “plantar árvores erradas em locais errados”. De acordo com o especialista, é comum observar na capital espécies plantadas em locais errados. “Por falta de informação técnica, na boa vontade, o indivíduo pode estar gerando um problema futuro”, enfatiza.

“Ao realizar o plantio de um exemplar arbóreo, uma série de questões devem ser avaliadas, como o espaçamento da calçada, a presença ou ausência da fiação, o porte da espécie arbórea, se a mesma é de grande, médio ou pequeno porte. Avaliar se a árvore apresenta frutos que podem causar acidentes, como as mangueiras e jamelões espalhados pela cidade”, explica.

Rodrigo Carlos destaca ainda que a falta de manutenção nos plantios realizados na capital também é uma preocupação, haja vista que o índice de mortalidade em plantios florestais já é alto, e quando não há manutenção, o plantio acaba sendo em vão.

Desde 2021 foram plantadas 292 mil mudas de árvores, segundo informou a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma). A Amma estima que em 2022 Goiânia bateu recorde com o plantio de 199.591 mudas de árvores, enquanto em 2021 foram plantadas 92.088. 

Francisco, de 54 anos, trabalha durante toda a semana na área de segurança, mas de vez em quando arruma um tempinho para ir ao parque, principalmente neste período de calor. “O calor é péssimo, e eu vou te falar a verdade, se a pessoa não tiver ‘sangue na veia’ ela não aguenta esse calorzão aqui não”, conta. “Eu venho ao parque para me refrescar um pouco, ver os bichos, os patinhos. Isso é muito bom”, acrescenta.

Francisco diz que as árvores são uma importante aliada do ser humano, principalmente quando o tempo está mais quente, uma vez que elas proporcionam a sombra e colaboram para melhorar a umidade do ar. “ De tanto o homem destruir o meio ambiente, estamos passando por esta quentura”, reflete.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que somente em 2023, a secretaria já lavrou 997 autos de infração e realizou 783 embargos. No ano passado, esse número foi de 1.364 autos. 

Além disso, de acordo com a Semad, dos 26 mil hectares de desmatamento presentes nos alertas emitidos pelo Deter/Inpe neste ano, até setembro, 75% já foram fiscalizados pela secretaria. Contudo, nesse mesmo período, 56 mil hectares de desmatamento já foram autuados.

A Semad informou ainda que o governo lançou o pacto pelo desmatamento ilegal zero que tem como meta zerar o desmatamento ilegal no Estado até 2030. O pacto envolve políticas de comando e controle contra o desmatamento ilegal e de manutenção da vegetação nativa por meio de incentivos econômicos a quem preserva além do exigido pela legislação.

“Servem de abrigo para uma grande quantidade de seres vivos”, diz Sinésio

Sinésio Dioliveira é jornalista, poeta e fotógrafo da natureza. Ao jornal O Hoje, ele relata que ainda era um estudante do segundo grau, quando leu uma frase que o empurrou para o convívio com a natureza. A frase é do filósofo e poeta americano Henry David Thoreau: “Fui para os bosques viver de livre vontade. Para sugar todo o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi”.

Com um olhar poético, Sinésio enxerga a natureza como algo que pode conectar o homem do seu criador, Deus. “Não me vejo como um ser superior, mas como um ser criado pelo mesmo criador da árvore, dos pássaros, dos insetos”, reflete.

O jornalista lamenta o fato das pessoas não enxergarem as árvores como seres vivos, o que ele denomina de “cegueira perigosa”. Para ele, uma vez que a sociedade não vê isso, também não vê a importância vital que as árvores exercem na vida humana. 

“Elas servem de abrigo para uma grande quantidade de seres vivos. Muitos animais fazem morada nesses locais, como as aves; capturam gás carbônico da atmosfera, funcionando como reservatórios de carbono; fornecem alimento para vários organismos vivos, inclusive os seres humanos; ajudam a evitar a erosão do solo; são responsáveis por melhorar a umidade relativa do ar devido à evapotranspiração”, lista o Sinésio.

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