Com 975 mortes no trânsito, Detran quer implantar faixa azul exclusiva a motociclistas

Prioridade é preservar vidas e evitar acidentes, diz presidente do Detran, Waldir Soares, em entrevista ao jornal O Hoje

Postado em: 21-09-2023 às 08h00
Por: Gabriel Neves Matos
Imagem Ilustrando a Notícia: Com 975 mortes no trânsito, Detran quer implantar faixa azul exclusiva a motociclistas
Por enquanto, em Goiânia, tem faixa para motociclista que foram pintadas em algumas avenidas da capital | Foto: Leandro Braz/O Hoje

Apesar dos esforços para a melhoria da segurança viária, os acidentes de trânsito continuam sendo uma das principais causas de morte e hospitalização em todo o país. O reflexo disso se encontra nos números, que são preocupantes. De janeiro a setembro deste ano, em Goiás, foram registrados 66.127 acidentes e 975 mortes.

No mesmo período do ano anterior, houve 63.445 acidentes e 1.039 mortes. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (18) durante a abertura da Semana Nacional de Trânsito, no Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran).

“A nossa prioridade número um é preservar a vida das pessoas e, claro, evitar os acidentes”, afirma Delegado Waldir, presidente do Detran, em entrevista ao jornal O Hoje. “Mas essa não é uma atividade que é feita sozinha pelo gestor de trânsito. Ter uma redução no número de mortes [por acidentes de trânsito] não nos leva a ter nada o que comemorar.” 

Continua após a publicidade

O presidente ainda compara o quantitativo de óbitos diários no trânsito — cerca de quatro, segundo ele — com os assassinatos que acontecem por arma de fogo no estado.

Segundo Waldir, o Detran tem procurado robustecer algumas de suas iniciativas para brecar a escalada de acidentes e mortes em Goiás e que “as ações não devem ocorrer apenas durante a Semana Nacional de Trânsito”, mas deverão perdurar ao longo de todo o resto do ano. Essas ações são relacionadas à engenharia, educação para conscientizar a população e fiscalização.

Faixa Azul 

O presidente adianta, acerca das ações, que o Detran prevê para este ano a implementação da Faixa Azul em Goiás, destinada exclusivamente para motociclistas. “Fizemos um pedido à Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e vamos aguardar a autorização. Temos que levar em consideração que hoje os motociclistas são as principais vítimas desses acidentes”, afirma.

A Faixa Azul é uma sinalização de segurança com o uso de faixas veiculares da cor azul direcionadas para o tráfego de motociclistas. A iniciativa, considerada experimental pelo Ministério dos Transportes, é autorizada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e visa ampliar a eficácia das medidas de segurança no trânsito.

Ainda durante entrevista ao jornal O Hoje, o presidente do Detran Goiás citou outras ações do órgão, como na área da educação, que tem como exemplo o “Detranzinho” que leva palestras e eventos para escolas de todo o estado e, segundo afirma o Delegado Waldir, já alcançou mais de 20 mil pessoas.

Ele citou também o programa “Sinaliza Goiás”, destinado à sinalização das vias para os pedestres e condutores; o “Cidade Mirim”, uma instalação na sede do Detran, em Goiânia, que deverá promover para crianças o contato com uma minicidade que irá simular a realidade de uma cidade verdadeira, com foco nas questões de trânsito; e a intensificação nas fiscalizações do “Balada Responsável”, iniciativa conhecida por agir na coibição do uso de bebida alcoólica ao volante e que autua infratores que dirigem embriagados.

Segundo dados do Detran, Goiás tem 4.596.472 veículos. Em Goiânia, há 1.326.414. De janeiro a agosto do ano passado, foram registrados 945.570 infrações de trânsito em Goiânia. No mesmo período deste ano, o número já é maior, com 1.003.561. Ainda segundo o Detran, de janeiro a agosto do ano passado, foram registrados 2.143.729 infrações de trânsito no estado. E no mesmo período deste ano, o número também subiu, chegando a 2.283.353.

“Nenhuma redução, porém, será possível se não tivermos a conscientização daquele que está atrás do volante, que é o motorista. São ações individuais e nós estamos trabalhando com engenharia, fiscalização, educação. Mas se o motorista não entender que a rua é de todos, nós não iremos conseguir reduzir os números assustadores”, afirma Waldir.

Durante a abertura da Semana Nacional de Trânsito, o subsecretário de Segurança Pública de Goiás, Deusny Filho, lamentou a morte do sargento da Polícia Militar Gerson Antônio do Nascimento, de 46 anos. Ele foi vítima de um acidente envolvendo uma viatura da Companhia de Policiamento Especializado, no último dia 13.

O professor e coordenador dos cursos de engenharia da faculdade Estácio de Ribeirão Preto, Anderson Manzoli, chama atenção para o fato de hoje as pessoas terem perdido o que ele chama de “senso de pertencimento no trânsito”. Ele diz que boa parte dos acidentes decorrem da ansiedade que os condutores têm de chegar rapidamente a um ponto e, assim, ignoram completamente as responsabilidades que têm de ter.

 “Quando a gente olha os dados, a gente percebe que existe uma falha na infraestrutura? Existe. Mas o campeão, não há dúvidas, somos nós, os motoristas. O que a gente percebe é que na maioria das vezes as pessoas não respeitam as leis de trânsito, andando numa velocidade incompatível com o ideal. Elas excedem os limites de velocidade. Outras vezes, dirigem sob o efeito de algo que pode causar sonolência, ou sob efeitos de drogas. Dirigem olhando para as redes sociais”, argumenta o professor.

O professor prossegue pontuando que o nível de estresse hoje em dia é mais elevado que tempos atrás. Isso porque, segundo ele, há uma pressão cada vez maior por ganhar tempo. “A pessoa está no ponto A e quer chegar no ponto B. Só que ela esquece que ali tem pedestres, tem a cidade. É importante as pessoas retomarem a consciência de que o espaço público é de todos nós. As pessoas têm que estar em condições de dirigir. Quem está estressado não deve dirigir”, diz. “Muitas pessoas se esquecem, mas não deveriam, que elas têm uma responsabilidade pública quando dirigem.”

Veja Também