Goiás registra mais de 4 mil picadas de serpentes nos últimos dois anos

Os acidentes mais comuns no estado são causados por cobra jararaca e cascavel

Postado em: 22-09-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Entre agosto de 2022 e o mesmo período de 2023 o HDT recebeu 371 casos de acidentes envolvendo serpentes | Foto: Leandro Braz

Entre agosto de 2022 e o mesmo período de 2023, o Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr Anuar Auad (HDT), unidade que é referência no atendimento de pacientes vítimas de acidente com animais peçonhentos, recebeu 371 casos de acidentes envolvendo serpentes. Quando somados todos os casos envolvendo animais peçonhentos como a aranha, escorpião, abelha, lagartas e outros, esse número chega a 1.672

O paciente vítima de acidente por animal peçonhento chega ao pronto-socorro por demanda espontânea ou encaminhado de outra unidade, segundo a unidade de saúde. Ao chegar no local, a vítima passa por uma triagem, a fim de avaliar a gravidade do acidente e urgência do atendimento.

De acordo com o HDT, após chegar-se à conclusão de que tipo de acidente se trata, bem como sua graduação, se é leve, moderado ou grave, são tomadas medidas gerais para controle dos sintomas. Além disso, é feita a soroterapia específica conforme o tipo e gravidade do acidente. Nesse momento, o profissional responsável pelo caso, avalia a necessidade de internação, observação ou alta do paciente. 

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O médico  infectologista Luiz Felipe, responsável pelo controle dos acidentes com animais peçonhentos no HDT, destaca que os soros antiofídicos não servem para todo acidente com serpentes, uma vez que existem acidentes ofídicos com cobras peçonhentas que precisam do soro e há também aqueles incidentes com cobras não peçonhentas, e nesses casos no geral não tem o soro específico. “ Dentre os acidentes com cobras peçonhentas, nós temos quatro tipos principais de acidentes e para cada um desses a gente tem um soro específico”, detalha o especialista.

Os quatro tipos de incidentes são denominados de: botrópico, que são aqueles causados por Jararaca ou Jararacuçu; crotálico, causado por cascavel; laquético, causado por Surucucu, espécie mais comum nas região de floresta amazônica e Mata Atlântica; elapídico, causado por Coral Verdadeira. Cada uma das espécies possui uma composição diferente em relação ao veneno, segundo Luiz. 

Os casos mais comuns no estado são os acidentes crotálicos e botrópicos, de acordo com o médico. No caso do botrópico, ele é caracterizado por dores intensas no local da picada, inchaço, vermelhidão e aumento de temperatura, é o que afirma o especialista. “É um veneno que tem uma ação proteolítica, ou seja, uma ação destrutiva local bastante importante”, relata. 

Já o veneno da cascavel, que é o acidente crotálico, possui uma ação neurológica e muscular. “Essa ação neurológica vai levar o paciente a ter visão turva, as pálpebras dele podem cair, condição que a gente caracteriza como ptose palpebral. Ele pode ter ação muscular também, uma ação miotóxica. É como se fosse uma destruição dos músculos. E essa destruição pode levar a uma insuficiência renal”, explica.

Apesar de não haver um tipo de picada que possa levar à morte instantânea, existe uma que é a mais grave, segundo o infectologista. É o caso do incidente envolvendo a cobra Coral. “Dependendo da espécie de coral, da localização dela, da quantidade de veneno inoculado, o paciente pode evoluir ali nos primeiros minutos, nas primeiras horas, com parada respiratória”, pontua. Segundo o médico, a picada da coral pode levar à óbito mais rápido, mas felizmente é um acidente pouco prevalente no estado.

As consequências após a picada de uma serpente são diversas, dentre elas, a principal é a infecção secundária, que pode acarretar em vários tipos de infecções, isso porque a boca do animal tem várias bactérias, afirma o infectologista. “Nós podemos ter uma condição chamada de síndrome compartimental, onde às vezes o inchaço no membro é tão grande que comprime os vasos e nervos e impede a correta oxigenação dos tecidos”, detalha.

Outra complicação é a insuficiência renal, em alguns casos de acidentes com jararaca e cascavel. “Nessas situações, a gente vê graus variados de insuficiência renal, desde aquele paciente que tem pouca lesão renal, até aquele que precisa de hemodiálise”, explica. “Uma complicação extrema, que é rara, é a amputação do membro conforme a agressividade da picada e do envenenamento”, acrescenta. 

A boa notícia é que as pessoas atingidas por picadas de cobra, podem contar com serviços de orientações da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), que também estende as instruções aos profissionais de saúde. E o Centro de Informações e Assistência Toxicológica de Goiás (Ciatox-GO) distribui o soro antiofídico fornecido pelo Ministério da Saúde (MS) às unidades de saúde estratégicas e especializadas localizadas em municípios das 18 regionais de saúde no estado, além de atualizar as equipes responsáveis pela assistência, vigilância epidemiológica e prevenção por meio de cursos realizados em caráter de rotina.

Entre os anos de 2020 e 2022, 4.306 pessoas foram vítimas de envenenamento por picadas de cobra em Goiás, é o que apontam os registros da Secretaria da Saúde. Dados do Ministério da Saúde revelam que a cada ano mais de 30 mil pessoas sofrem acidentes causados por serpentes, em todo o país. Nas estatísticas mundiais, o número sobe para cerca de 2,7 milhões de pessoas.

Problema afeta, na grande maioria, os trabalhadores rurais

A médica veterinária do Ciatox-GO, Veruska Castilho de Oliveira Neves afirma que no estado o problema afeta, na grande maioria, os trabalhadores rurais e que muitas vezes, as crenças tradicionais ou populares, cultivadas por esse público, contribuem para a demora na assistência. Segundo  a médica, o atendimento rápido para evitar a gravidade do envenenamento é fundamental.

Dentre as orientações da saúde às vítimas estão: lavar o local da picada com água e sabão, ir imediatamente a um serviço de saúde, jamais usar garrotes na região afetada, conduzir a pessoa até a unidade de saúde em repouso e, ainda, tirar foto ou descrever as características do animal agressor para que ele seja identificado e seja administrado o soro específico, caso necessário.

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