Tilápia tem aumento de 1,5 mil toneladas na produção em Goiás  

Peixe é tido considerado de fácil cultivo e preparo, mas não garante lucro a produtores nem para quem o prepara em restaurantes

Postado em: 23-09-2023 às 08h00
Por: Gabriel Neves Matos
Imagem Ilustrando a Notícia: Tilápia tem aumento de 1,5 mil toneladas na produção em Goiás  
O empresário Renato Araújo cultiva tilápia em tanques d’água e oferece consultoria na área de piscicultura | Foto: Leandro Braz

A tilápia voltou a figurar na lista dos peixes mais produzidos na aquicultura de Goiás. É o que mostra a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta semana. De acordo com o levantamento, o estado registrou 11,9 mil toneladas produzidas em 2022. O valor é 14,2% maior que o registrado no ano anterior (10,4 mil toneladas).

A pesquisa também aponta que o município de Niquelândia teve um aumento de 50% em sua produção, passando de 2,5 mil toneladas produzidas em 2021 para 3,75 mil toneladas em 2022, ficando em primeiro lugar no ranking do estado. Já Quirinópolis, que ficou como segundo maior produtor estadual de tilápia, teve um aumento de 18,3% na sua produção, atingindo a marca de 1,7 mil toneladas produzidas em 2022.

Um dos fatores que ajudam a explicar o crescimento da produção do peixe é a fácil adaptabilidade que ele tem aos diferentes tipos de cultivo, segundo explica Alisson Luis Ferreira, que é gerente de irrigação, clima e aquicultura da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa). “A gente também deve considerar as temperaturas e condições das águas. A tilápia é um peixe de fácil adaptação devido à salinidade e às temperaturas propícias”, explica. 

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Além disso, opina Ferreira, a vida corrida das famílias hoje em dia pode ser um elemento que corrobora para que as pessoas optem pela tilápia nos cardápios do dia a dia. “O ciclo de engorda desse peixe também é mais curto, o que permite que o produtor faça cerca de uma safra e meia por ano, em detrimento de outros peixes que levam mais tempo para chegar ao ponto de abate”, diz. 

No ramo do mercado da tilápia, a produção e o fornecimento do peixe leva a opiniões que não são de todo consonantes. Renato Araújo é empresário e toca a Alevinos Alta Conquista, uma startup que trabalha com a produção em caixa d’água e o fornecimento de filhotes de peixe, e que auxilia também com consultorias personalizadas a entusiastas da pisicultura, como ele define durante entrevista ao HOJE admitindo o próprio trabalho como “de nicho” dentro do universo dos peixes.

Araújo acha que o aumento da produção de tilápias tem a ver com a mudança dos hábitos alimentares. Ele, que se declara vegetariano, justifica a opinião a partir de recentes pesquisas que dão conta que o alto consumo de carne bovina “pode ser prejudicial” à saúde e que, por isso, deve haver uma tendência nos próximos anos de migração da carne vermelha para a carne de peixe. 

“Há uma demanda alimentar mundial”, diz Araújo. Ele também reflete sobre as dificuldades causadas pelas mudanças climáticas enfrentadas no mundo hoje e que devem ter influência direta na produção de peixes. “Os peixes crescem em dobro se estiver muito quente, ao contrário da época de frio, quando eles [os peixes] hibernam.” 

Araújo também avalia que “o ciclo da tilápia é uma das coisas mais interessantes porque enquanto a gente produz certos peixes que demoram cerca de um ano para produzir 1 kg ou 1,5 kg de carne, a tilápia faz isso em seis meses”. E continua: “A gente consegue ter, assim, pelo menos duas produções ao ano. É uma das poucas espécies que dá pra fazer isso”, diz. 

A startup de Araújo é, segundo ele, muito procurada por pessoas que querem começar uma pequena produção no ramo da pisicultura. “Eu não consigo trabalhar atendendo a todo mundo que me procura, mas eu dou consultoria para a pessoa fazer a caixa d’água dentro de casa e começar o seu próprio negócio, criando e produzindo peixes”, conta. 

A produção global da tilápia, impulsionada pela demanda, é crescente. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em 2022 a produção global do pescado cresceu 4%, registrando 6,5 milhões de toneladas produzidas, frente aos 6,25 milhões alcançados em 2021, se tornando o segundo peixe mais produzido no mundo. A estimativa para 2023 é chegar a 6,7 milhões de toneladas.

As questões mais burocráticas da produção do pescado também desafiam os produtores na manutenção deste trabalho. É o caso do produtor rural Rodolfo Assis, da cidade de Niquelândia. Para ele, a questão da carga tributária e também de todos os licenciamentos necessários no ramo da piscicultura não são comparáveis ao que é visto, por exemplo, na pecuária. Há, diz ele, mais cobrança e fiscalização no ramo dos peixes.

Assis atribui que as dificuldades na produção da tilápia se dão pelo aumento dos insumos, como preço da ração para os peixes — que encarece o cultivo —, a mão de obra escassa no ramo e também pelas variações climáticas. “Acaba que nós trabalhamos no limiar, tendo pouco lucro. Recentemente eu perdi 20 tanques de peixes de uma vez só, por causa das mudanças no tempo”, lembra. 

Com um baixo teor de gordura, sabor suave e vivendo uma boa fase nas redes sociais, especialmente nos perfis de comida, a tilápia é um peixe que chega ao prato do consumidor de diversas formas de preparo e se apresenta como uma boa opção de proteína animal. 

A reportagem do jornal O Hoje esteve na tarde desta sexta-feira (22) no restaurante Tucunaré na Chapa, no setor Bueno, em Goiânia, tradicional referência no ramo da culinária especializada em pescados. O gerente do estabelecimento, Rafael Alves, afirma ao jornal que a tilápia é um dos peixes cuja preparação é uma das mais fáceis. 

“É o quarto prato mais vendido no restaurante e é muito pedido por idosos e crianças por não conter espinhos”, diz ele, ponderando, no entanto, que a tilápia não desbanca o carro-chefe da casa — o tucunaré. Ele também descreve, todavia, que houve um encarecimento de cerca de R$ 10 do ano passado para cá. 

O Tucunaré na Chapa oferece no menu duas opções do prato. A tilápia com fritas (R$ 99) — prato provado pela reportagem — serve duas pessoas e, além do peixe grelhado, acompanha arroz branco, pirão, molho vermelho, fritas e vinagrete. 

E além dessa opção, a casa também oferta a tilápia com salada refrescante (R$ 89), que serve duas pessoas e, além do peixe grelhado, acompanha um mix de folhas verdes — composto por vagem, cenoura, batata, ervilha, tomate seco, tomate cereja, palmito e morango —, e arroz branco.

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