Mudanças climáticas explicam dia mais quente em Goiânia com ameaça de chuva

Especialistas alertam sobre as origens e impactos das mudanças climáticas globais

Postado em: 26-09-2023 às 07h00
Por: Tathyane Melo
Imagem Ilustrando a Notícia: Mudanças climáticas explicam dia mais quente em Goiânia com ameaça de chuva
Calor abrasador e chuvas súbitas: Clima de extremos desafia a rotina dos goianos | Foto: Leandro Braz

O sol escaldante, o calor intenso e a baixa umidade relativa do ar têm sido motivo de incômodo para muitos habitantes de Goiás neste mês de setembro. Na tarde desta segunda-feira (25) Goiânia registrou o dia mais quente do ano, chegando a 39,3 graus. Nem mesmo os chuviscos e o céu fechado impediram que o goianiense tivesse de tentar recorrer a alguma coisa, como água, água de coco, picolés, para tentar escapar da quentura. 

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a cidade já acumula nove dias consecutivos com temperaturas acima dos 35°C, e a expectativa é que o alívio só chegue final de semana. 

A previsão meteorológica do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) apontou um cenário desafiador para esta terça-feira, com predomínio do sol em todas as regiões, temperaturas máximas elevadas e umidade relativa do ar em declínio acentuado durante a tarde. Na capital, Goiânia, a temperatura máxima pode chegar a 39°C, enquanto a umidade relativa do ar pode variar drasticamente entre 16% e 65%. Essas condições climáticas adversas também elevam o risco de incêndios em várias regiões do Estado de Goiás. O alerta emitido destacou a persistência de altas temperaturas, caracterizando uma verdadeira “onda de calor”, com índices de umidade relativa do ar tão baixos quanto 14%. A esperança de alívio é aguardada para esta sexta-feira (29/9), com a previsão de uma frente fria vinda da região sudeste do Brasil, que traz a possibilidade de pancadas de chuva e tempestades locais.

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Além disso, o Inmet também divulgou na última segunda-feira (25/9), sua análise e previsão do tempo para as próximas duas semanas, fornecendo informações sobre o clima que os brasileiros podem esperar para o início de outubro. Na primeira semana, que abrange o período de 25 de setembro a 2 de outubro, a região Centro-Oeste deve enfrentar a persistência de uma massa de ar quente e seco, resultando em tempo estável e ausência de chuvas. Os valores de umidade relativa do ar são notavelmente baixos, inferiores a 30%.

No entanto, uma mudança está prevista para o fim de semana, quando áreas de instabilidade se intensificam, favorecendo a ocorrência de pancadas de chuva em grande parte da região, especialmente no sul de Mato Grosso e de Goiás. Já para a segunda semana, de 3 a 10 de outubro, as regiões Centro-Oeste e Sudeste podem esperar a presença de pancadas de chuvas isoladas.

Cidade goiana entre as mais quentes do Brasil

Itumbiara, no sul de Goiás, ganhou destaque no cenário nacional ao registrar 41,3°C no último domingo (24/9), posicionando-se no ranking como a sexta cidade mais quente do Brasil, de acordo com o Inmet. O instituto também destacou que duas cidades goianas figuraram entre as com menor umidade do ar no país: Monte Alegre de Goiás e Posse tiveram respectivamente 12 e 13% de umidade relativa do ar, as mais baixas no estado.

Segundo André Amorim, gerente do Cimehgo, as altas temperaturas devem persistir até sexta-feira, devido a um sistema de alta pressão que mantém o ar quente sobre o Brasil.

“Nós tivemos uma formação na semana passada no sistema de alta pressão. Esse sistema se encarrega de fazer o que? De dificultar a formação de nuvens de chuva ou chuva e com isso permanece sobre o Brasil, e boa parte do Brasil, uma massa de ar seco e quente. Então ele tranca o ar quente próximo à superfície e esse calorão aí que estamos observando. Não é só Goiânia, mas todos os outros municípios também estão com temperaturas elevadas”, explica Amorim.

Impactos das mudanças climáticas

O jornal O Hoje também conversou com Gerson de Souza Arrais Neto, especialista em Planejamento Urbano e Ambiental e presidente da ARCA – Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente, que ofereceu uma análise das condições climáticas extremas que têm afetado não apenas Goiânia, mas todo o planeta. Ele destaca que o calor intenso é resultado direto das mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global.

Gerson aponta para o fenômeno conhecido como El Niño como um dos principais impulsionadores do aquecimento atual. Ele explica que o El Niño é um ciclo que ocorre a cada cerca de sete anos e se caracteriza pelo aumento das temperaturas das águas do Oceano Pacífico. A mudança do El Niño para La Niña, o oposto, retardou a sensação de aquecimento nos anos recentes, mas agora, com a chegada do El Niño novamente, seus efeitos se intensificam.

O especialista enfatiza que o aquecimento global atingiu níveis alarmantes, com relatórios do IPCC de 2022 indicando um aumento médio de temperatura de 1,1 graus celsius acima dos níveis pré-revolução industrial. Além disso, Gerson conta que estimativas recentes apontam para um aumento de 1,25 graus celsius acima da média do século XX. “O calor que estamos enfrentando pode agravar ainda mais o problema com a possibilidade das plantas não adaptadas a essas condições extremas morrerem, mudando a configuração do nosso ambiente e induzindo processos de desertificação. Os cientista chamam esse momento de ponto de não retorno, quando não teríamos sequer a chance de recuperar a qualidade ambiental da terra com reflorestamento”, diz.

Neto ressalta a urgência de investir em processos de reflorestamento enquanto ainda é possível recuperar o bioma do planeta. Além disso, ele defende a necessidade de adaptação das cidades ao novo clima quente, a inovação de prédios mais sustentáveis e eficientes em termos energéticos, a transição para energia solar e a redução das emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis. “Como você pode ver as medidas que precisam ser tomadas não estão nas mãos de pessoas comuns, como eu, você ou nossos leitores. É preciso que as grandes corporações e os governos ajam, porque disso depende a vida de grande parte da humanidade”, alerta o especialista.

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