Mata Atlântica goiana tem alerta de 100 hectares de área desmatada em 2023

Goiás tem Mata Atlântica? A resposta não apenas é afirmativa como o foco já é outro: a preservação desse bioma natural que abarca oito municípios goianos. Especialista ressalta importância de políticas de cuidado

Postado em: 02-10-2023 às 09h16
Por: Tathyane Melo
Imagem Ilustrando a Notícia: Mata Atlântica goiana tem alerta de 100 hectares de área desmatada em 2023
Goiás tem Mata Atlântica? A resposta não apenas é afirmativa como o foco já é outro: a preservação desse bioma natural que abarca oito municípios goianos. Especialista ressalta importância de políticas de cuidado | Foto: Semad

A pergunta ecoa com frequência em meio à população: Goiás tem Mata Atlântica? A resposta é mais complexa do que se imagina, e a situação é preocupante. Não apenas Goiás abriga parte desse bioma, como também está sofrendo com o desmatamento ilegal que ameaça essa riqueza natural.

Em meio às paisagens exuberantes e à riqueza da biodiversidade de Goiás, concluiu-se recentemente mais uma edição da emblemática Operação Mata Atlântica em Pé. Os resultados informados pela a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) deixaram uma marcante constatação: cerca de 100 hectares desse precioso bioma foram desmatados ilegalmente em oito municípios goianos. O custo desse ato foi alto, com multas que somam mais de meio milhão de reais.

A Mata Atlântica não só está presente em solo goiano, como ocupa 3% do território de Goiás e está presente em diversos municípios, como Itajá, Itarumã, Caçu, Cachoeira Alta, São Simão, Paranaiguara, Quirinópolis, Gouvelândia, Cachoeira Dourada, Itumbiara, Buriti Alegre, Morrinhos, Água Limpa, Rio Quente, Marzagão, Corumbaíba e Cumari.

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A Operação Mata Atlântica em Pé é muito mais do que uma ação de fiscalização, é uma missão que busca preservar a natureza e recuperar áreas que foram afetadas por ações prejudiciais ao bioma Mata Atlântica em todo o país. A ação é coordenada nacionalmente pelo Ministério Público do Paraná e ocorreu simultaneamente em 17 estados brasileiros que abrigam áreas de Mata Atlântica.

Em Goiás, a operação foi conduzida em parceria com a Semad, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e o Batalhão Ambiental da Polícia Militar. A ação ocorreu entre os dias 18 e 22 de setembro nos municípios de Cachoeira Alta, Quirinópolis, Goiatuba, Buriti Alegre e Corumbaíba.

Nesse cenário de ação e compromisso, além dos seis alvos inicialmente identificados pelo Ministério Público do Paraná e repassados pelo Ministério Público de Goiás, a Semad identificou outros 22 focos de desmatamento ilegal. Esses novos focos foram detectados através de análise espacial, imagens de satélite e técnicas de geoprocessamento.

Durante a operação, também foram apreendidos equipamentos e ferramentas utilizados para o desmatamento, como motosserras e madeira extraída ilegalmente. Os responsáveis por esses atos ambientais foram autuados e poderão responder judicialmente nas esferas cível e criminal, além de enfrentar sanções administrativas relacionadas ao registro de propriedades rurais.

Segundo a Semad, até setembro deste ano, aproximadamente 26 mil hectares de desmatamento ilegal foram identificados nos alertas do Deter/Inpe para todo o estado de Goiás. A Semad já fiscalizou 75% desse total, autuando 56 mil hectares de desmatamento, incluindo episódios ocorridos em anos anteriores que não haviam sido objeto de medidas administrativas.

Em 2023, a secretaria já emitiu 997 autos de infração e realizou 783 embargos, e a contagem tende a aumentar. Vale destacar que esses números englobam todo o território goiano, não apenas as áreas de Mata Atlântica. No ano passado, essa mesma operação identificou 289 hectares de desmatamento e aplicou R$ 880 mil em multas, em propriedades localizadas nos municípios de Cachoeira Alta, Paranaiguara, Quirinópolis e Ipameri.

Juliana Ramalho Barros, geógrafa e professora do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG) destaca a importância de combater o desmatamento, controlar a poluição das águas, monitorar a fauna e evitar queimadas. Essas medidas são essenciais para preservar não apenas a Mata Atlântica, mas também qualquer outro bioma.

Em relação às diferenças entre o Cerrado goiano e a Mata Atlântica, Juliana ressalta as particularidades de cada bioma. “O Cerrado é mais suscetível ao fogo, então isso é algo que temos que olhar com mais atenção. Já a Mata Atlântica, tem espécies vegetais, como as árvores, que são de alto valor comercial, então precisamos ficar atentos ao desmatamento, à derrubada ilegal de árvores”, diz.

Também consultado pelo O Hoje, o engenheiro florestal Rodrigo Carlos Batista de Sousa, que é mestre em Genética de Plantas e doutorando do Programa de Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás destaca que a principal diferença entre o Cerrado Goiano e a Mata Atlântica reside na fitofisionomia. “A Mata Atlântica apresenta a Floresta Ombrofila Mista, caracterizada como Floresta de Araucária, que possui um clima específico com chuvas ao longo do ano e é composta por espécies de Gymnosperma e coníferas. Enquanto isso, o Cerrado é um bioma com características diferentes em termos de vegetação e fauna”. 

Sobre a identificação da Mata Atlântica em Goiás, Juliana Ramalho menciona que existem diferenças climáticas, principalmente no sudeste e sudoeste do estado, onde há maior influência das massas de ar úmidas. No entanto, Goiás conta principalmente com “floresta estacional decidual e semidecidual”, diferenciando-se de estados totalmente cobertos pela diversidade das fisionomias da Mata Atlântica.

Em paralelo às ações governamentais, é imperativo que o setor privado mantenha-se nas diretrizes legais estabelecidas, as quais proíbem a remoção de vegetação não autorizada por meio de licenciamento ambiental e asseguram a preservação das áreas de preservação permanente (APPs) e das reservas legais em suas propriedades. Cumprir essas regulamentações desempenha um papel fundamental na conservação ambiental, garantindo a integridade dessas áreas críticas para a biodiversidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos essenciais.

Entrevista/ Engenheiro Florestal Rodrigo Carlos Batista

O que se pode fazer para preservar a Mata Atlântica de Goiás?

Imagem: Arquivo pessoal

Para preservar a Mata Atlântica em Goiás, é fundamental intensificar as atividades de fiscalização e aprimorar a legislação relacionada a esse bioma. Atualmente, apenas cerca de 3% do território goiano é coberto pela Mata Atlântica, o que representa uma representatividade reduzida de remanescentes florestais. Além das medidas legislativas, é essencial implementar projetos de recuperação de vegetação nativa para reverter a degradação das áreas desmatadas.

Qual a diferença mais marcante da fauna e flora do Cerrado Goiano para a fauna e flora da Mata Atlântica?

A principal diferença entre o Cerrado Goiano e a Mata Atlântica reside na fitofisionomia. A Mata Atlântica apresenta a Floresta Ombrofila Mista, caracterizada como Floresta de Araucária, que possui um clima específico com chuvas ao longo do ano e é composta por espécies de Gymnosperma e coníferas. Enquanto isso, o Cerrado é um bioma com características diferentes em termos de vegetação e fauna.

Como é possível identificar a Mata Atlântica de Goiás? Espécies de fauna e flora diferentes? O clima é diferente nesse ambiente?

A Mata Atlântica em Goiás pode ser identificada com base em mapas publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que delimitam a área de aplicação da Lei N° 11.428 de 2006. Nessa região, é possível identificar fitofisionomias como Floresta estacional decidual e semidecidual, além de espécies que ocorrem tanto no Cerrado quanto na Mata Atlântica, como o Jequitibá-rosa (Cariniana legalis).

O clima mais quente do ano, como o atual, pode prejudicar a saúde da floresta?

Sim, as mudanças climáticas, como o aumento da temperatura, podem afetar a saúde das florestas. As florestas dependem do clima para o florescimento, a frutificação das árvores e a reprodução de animais. Com as mudanças climáticas, diversas espécies da fauna e flora podem sofrer impactos biológicos, o que já estamos observando atualmente. Portanto, o clima mais quente pode representar uma ameaça para a Mata Atlântica em Goiás e requer atenção para sua preservação.

O que a população pode fazer para ajudar a proteger a Mata Atlântica em Goiás?

Para contribuir com a proteção da Mata Atlântica em Goiás, a população pode se envolver em projetos de recuperação e, principalmente, reduzir o desmatamento. A Mata Atlântica é um dos biomas mais afetados nas últimas décadas, e a conscientização sobre a importância da conservação e manutenção desse bioma é crucial para evitar danos ambientais mais graves.

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