Religiosos têm até sexta-feira para sair pacificamente do Morro do Serrinha

Grupos que ergueram templos e barracas no Morro do Serrinha entram em impasse para deixar local após decisão da Justiça goiana

Postado em: 03-10-2023 às 08h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
Imagem Ilustrando a Notícia: Religiosos têm até sexta-feira para sair pacificamente do Morro do Serrinha
Algumas barracas já foram desmanchados ao passo que prazo de permanência se expira | Foto: Leandro Braz

Morro do Serrinha, um sinônimo de religião para alguns, bandidagem para outros e moradia para poucos. Independente da interpretação, ela acaba nesta semana. Por ordem do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), o local deve ser desocupado até sexta-feira (6/10). 

Independente da compreensão, a reportagem do O Hoje foi nesta segunda-feira (2/10) ao Morro do Serrinha para entender melhor como os ocupantes da área estão se preparando para a reintegração de posse. Muitos deles já haviam saído com antecedência, sobrando apenas dois grupos religiosos, um a “Tenda Primeiro é Deus” e o outro um grupo de missionários e habitantes temporários.

Quando a reportagem do jornal O Hoje chegou ao morro, havia um clima de fervor religioso. Membros da “Tenda Primeiro a Deus” estavam em comunhão com seus fiéis em uma cerimônia evangélica, onde, no meio de orações, gritavam “Glória a Deus”. Cerca de 10 pessoas estavam em uma tenda com chão de cimento e teto de lona, e mais algumas fora do local orando. 

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O pastor João Batista disse que o grupo conseguiu, com TJGO, uma desocupação pacífica. Ele disse, contudo, que um outro grupo religioso estava querendo “peitar a Justiça”. O líder usou a justificativa de ter permanecido na área por ajudar os desamparados que habitavam lá. No ano de 2022 uma outra equipe do O Hoje visitou o local, onde nem se imaginava que, menos de um ano depois, haveria a reintegração de posse. 

A persistência dos religiosos 

O outro grupo com a qual a reportagem conversou, que faz parte da comunidade de habitantes sem-teto, e representada pelo Pastor Marcos, e fala que estão disponíveis para cumprir o que foi determinado. O que a equipe encontrou, representava os habitantes antes da chegada do ministério. De acordo com o porta-voz, alguns moravam a mais de 14 anos, outros 9 e 7 anos. “Eu tenho sete anos, tem pessoas que já têm nove, tem pessoas que têm quatorze anos, e nós já temos um período bom, e fazemos oração.”

De acordo com o líder, não houve acordo entre a sua comunidade e a Justiça além de não receberem os benefícios. 

“Nós estamos aqui, tem muitos moradores que não participaram das reuniões, estavam ausentes. E o que foi determinado, escrito, e falando que a maioria recebeu o benefício, não receberam o benefício porque até então nós não tínhamos lugar para ir. E o único lugar que nós temos é na barraca de campo. Se nós sairmos daqui, nós vamos para onde?” 

Contudo, segundo relatou o TJGO, haviam oferecido uma negociação, mas o grupo não aceitou e relatou não acatar a ordem. A negociação envolvia auxílio como o Bolsa Família, Aluguel Social e cadastramento do CadÚnico, além de residência da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi). Segundo o órgão, apenas a “Tenda Primeiro Deus” aceitou a proposta. 

Outro ponto levantado pelo pastor Marco foi em relação aos animais de estimação acolhidos pelos moradores. “Tem o Jumá, que tem os cachorros, os animais deles, que são mais de vinte e cinco cachorros, que ele cuida. Não é uma situação só de gente, né, também envolve os animais também, porque ele fica preocupado, porque falou que é um problema. E coloca aonde, aonde que eu vou deixar, né? Não pode soltar na rua?”

Entretanto, a Justiça também relatou ter avaliado os bichos e seu bom estado, mas sem nenhuma afirmativa do que poderão fazer para o cuidado dos animais. Este relato foi visto pela equipe do jornal após avistar vários cachorros no local andando lado a lado com os moradores. Contudo, se até na sexta não forem desocupados, equipes da Polícia Militar irão ter aval para fazer a retirada forçada das pessoas.

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