Qual o destino da Serrinha depois de desocupação

Preservação do Morro da Serrinha é um desafio ambiental para Goiânia

Postado em: 06-10-2023 às 08h00
Por: Tathyane Melo
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Morro da Serrinha enfrenta desafios e debates quanto ao seu futuro: especialista explica sobre as possíveis possibilidades ambientais do local | Foto: Wagner Pereira

O Morro da Serrinha, situado na parte sul do município de Goiânia, é um tesouro natural que desafia a paisagem urbana da cidade. Com uma altitude de 816 metros e uma área de 107.698 m², este morro, cercado por vestígios do Cerrado, é mais do que uma característica geográfica, é um marco histórico e ambiental que merece nossa atenção.

Em 1930, Pedro Ludovico Teixeira, o fundador da cidade de Goiânia, ficou hipnotizado pelo horizonte proporcionado pelo Morro da Serrinha. Foi nesse momento que ele escolheu este local para a construção da nova capital do estado. Assim, o morro tornou-se uma parte fundamental da história da cidade e de sua identidade.

Além de seu significado histórico, o Morro da Serrinha desempenha um papel essencial na conservação do Cerrado. Como uma das últimas áreas remanescentes com vegetação nativa, desempenha um papel crucial na manutenção da biodiversidade.

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Carlos de Melo e Silva Neto, biólogo e botânico, ressalta a importância do Morro para o ecossistema: “O Morro do Serrinha é uma área importante para a cidade e para o Cerrado. Sua vegetação nativa é essencial para a biodiversidade do Cerrado, um bioma ameaçado. Além disso, devido à sua declividade, é uma área de recarga de água, com possíveis nascentes”, aponta.

No que diz respeito à vegetação, o biólogo destaca a diversidade de espécies nativas na área, incluindo árvores como o pau-terra e frutos como o jatobá e o pequi. No entanto, ele observa a presença de espécies invasoras, como a braquiária, que representam uma ameaça à vegetação nativa e aumentam o risco de queimadas.

Carlos menciona a presença ocasional de animais nativos, como tamanduás, tatus e lobos-guará, que, aliás, (não são vistos a muito tempo). O biólogo ainda enfatiza a importância de um plano de manejo cuidadosamente elaborado, considerando aspectos como o entorno, o acesso, a prevenção de incêndios, o gerenciamento de resíduos sólidos e o envolvimento da comunidade. Ele acredita que todas essas questões devem ser abordadas em um estudo de longo prazo.

Entretanto, o Morro da Serrinha não está livre de desafios. Nos últimos anos, a área tem sido alvo de ocupações e interesse imobiliário. O espaço, outrora um local de concentração ambiental, agora abriga orações, retiros espirituais e barracas de sem-tetos. Essa situação levou à necessidade de uma desocupação recente.

Com essa desocupação em curso, surgem perguntas sobre o futuro do Morro da Serrinha. É possível que se torne um local para a construção imobiliária? Deve ser preservado como um parque urbano, permitindo o acesso público e atividades diversificadas em conjunto ao meio ambiente? Ou deve ser estritamente protegido como uma área de conservação?

Carlos Neto destaca a necessidade de planejamento cuidadoso: “Qualquer atividade de especulação imobiliária é muito agressiva, muito problemática para a área. Só vai acarretar mais e mais os problemas na região ambiental e prejudicar a infiltração de água e se por acaso vier acontecer desmatamento, afetaria a qualidade do ar, o entorno, o adensamento populacional também, aquela região já é muito prejudicada com trânsito, é muito complicado”, explica.

Em vez disso, Carlos defende que a área permaneça pública, com um parque que combine conservação e atividades de baixo impacto, como trilhas e mirantes. Ele explica que essa abordagem preservaria as características originais do local e permitiria que a comunidade se apropriasse desse tesouro natural. Além disso, ele sugere que a gestão pública cuide da restauração de áreas de Cerrado degradadas e da proteção de nascentes que podem existir na região.

Mais do que uma montanha na cidade, o Morro da Serrinha é parte da identidade de Goiânia, uma fortaleza que – tenta – permanecer ecológica, e um lembrete da importância de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação ambiental. Sua preservação e o planejamento futuro devem ser baseados em uma compreensão completa de sua história, ecologia e valor para a comunidade.

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