Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Aplicação do rodizio no Rio Meia Ponte só ocorrerá em último caso

Vazão do Meia Ponte está 75% abaixo da média. Segundo a Saneago, a queda da vazão é um problema ambiental e devem ser realizadas ações no âmbito estadual

Postado em: 31-08-2018 às 06h00
Por: Fabianne Salazar
Imagem Ilustrando a Notícia: Aplicação do rodizio no Rio Meia Ponte só ocorrerá em último caso
Vazão do Meia Ponte está 75% abaixo da média. Segundo a Saneago, a queda da vazão é um problema ambiental e devem ser realizadas ações no âmbito estadual

Dados da Saneago constatam que o vazão atual do rio é melhor que a do mesmo período do ano passado. (Foto: Divulgação)

Gabriel Araújo*

Mesmo com a vazão bem abaixo da média, Saneago alega que a aplicação do rodízio da água abastecida pelo Rio Meia Ponte só deve ocorrer em último caso. Dados da Saneago constatam que o a vazão atual do rio, apesar de baixa, é melhor que a do mesmo período do ano passado, quando bairros da Grande Goiânia sofreram no abastecimento.

Continua após a publicidade

Segundo a Saneago, a queda da vazão do Rio Meia Ponte é um problema ambiental e devem ser realizadas ações no âmbito estadual para a preservação do rio. “A queda da vazão é uma questão de hidrológica da bacia, que não produz a quantidade de água usual. A Saneago já realizou investimentos em infraestrutura e está fazendo o máximo a partir da situação, com a população reduzindo o consumo e ações que devem garantir o abastecimento”, afirmou a engenheira Juliana Matos, assessora de expansão do órgão.

A vazão atual do Rio Meia Ponte é de 3.500 litros por segundo, o que é menos da metade do volume médio, de 10 mil litros por segundo. O sistema Meia Ponte é responsável pelo abastecimento de 52% da população da Grande Goiânia e, junto com o Mauro Borges, abastece cerca de 1,6 milhão de pessoas nos municípios de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Goianira e Trindade.

Juliana ainda lembra que as ações tomadas já mostraram bons resultados. “É importante dizer que as ações tomadas pela Saneago e os órgãos estaduais já mostraram resultados. A população já reduziu o consumo em 7% e estamos monitorando o rio 24 horas por dia, o que nos garante um período de ação para assegurar que ninguém seja prejudicado”, finalizou.

De acordo com a Saneago, os clientes residenciais são os maiores consumidores de água tratada no Estado, representando 87,27% do volume de água faturado pela Companhia. Os clientes comerciais representam 5,79% e os clientes públicos (órgãos da administração pública federal, estadual ou municipal, templos religiosos e entidades declaradas de utilidade pública) são 4,55% do total. As indústrias são responsáveis pelo consumo de apenas 1,32%.

Conforme informado pelo presidente interino da Saneago, Marcelo Mesquita, a possibilidade de rodízio ainda é mínima, mas que, segundo planejamento do órgão, rodízio deve ser informado com 72 horas antecedência e aprovado pela Agência Goiana de Regulação (AGR). “A Saneago planeja para que, se a vazão do Meia Ponte ficar abaixo de 1,5 mil litros por segundo, será submetido a rodízio. Hoje estamos muito longe disso. O rodízio, se houver, vai atuar apenas na área do Meia Ponte. Há expectativa de passar pela estiagem sem prejudicar o abastecimento”, afirmou na apresentação do plano de racionamento.

Crise Hídrica

Os reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste do país estão com níveis médios de 28,58% da capacidade, o que equivale a um aumento de 0,1% em relação ao mesmo período do ano passado. As hidrelétricas de Furnas e Serra da Mesa trabalham com 23,65% e 18,92% do volume útil.

Os reservatórios da região nordeste são os mais prejudicados pela crise hídrica que afeta o país desde 2014. A média de operação subiu pouco em relação ao ano passado, mas a capacidade dos reservatórios ainda está em 32,07% em média, somente o reservatório de Itaparica se encontra com 21,41% de sua capacidade.

Essa é uma das piores secas no período de um século e afeta o fornecimento energético de diversas regiões do estado, fazendo com que a bandeira na conta de luz permaneça vermelha.

 Ações humanas pioram a qualidade da água no Estado

De acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), cerca de 85% das bacias hidrográficas existentes no Estado estão com qualidade ruim ou péssima. Pesquisa realizada para apresentação de tese de doutorado da professora Karla Cruvinel analisou 126 bacias em 122 municípios de Goiás e constatou que as bacias localizadas na região Oeste e Sul de Goiás são as que apresentaram a maior incidência de péssima qualidade.

De acordo com a pesquisadora, o objetivo de analisar as bacias foi entender o estágio de qualidade hidrográfica no Estado. “Conclusivamente, pode-se dizer que a grande parcela das bacias estudadas estão enquadradas em condição péssima, o que fica evidente a degradação devido ao processo de ocupação dessas áreas e a ausência de planejamento”, escreveu.

A bacia do Rio Meia Ponte, um dos principais mananciais de abastecimento da Capital, possui uma área de 1.637,78 km². O rio, que nasce na Serra dos Brandões entre os municípios de Itauçu e Taquaral de Goiás, a 60 km de Goiânia, atravessa 17 municípios antes de chegar à Capital. De acordo com o estudo, o Rio Meia Ponte possui seis classes de uso e ocupação do solo, como a agricultura, que representa 43,71%, a pastagem, com seus 39,98%, a floresta que equivale apenas a 11,90%, além do zoneamento Urbano, com 3,35%, cerrado 0,9% e água 0,14%.

Além do problema da qualidade, outro problema que já afeta de forma grave o abastecimento em todo o estado é o volume de chuvas que vem diminuindo desde 2015, quando choveu cerca de 8 mil e 500 milímetros, e já é 10% menor que o registrado nos sete primeiros meses de 2017. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) o último grande pico de chuvas foi em 2004, quando choveu mais de 12 mil milímetros.

Agrotóxicos

Em um estudo realizado em 2011, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) afirmou que os resíduos de agrotóxicos são a segunda principal fonte de contaminação das águas brasileiras, atrás apenas do esgoto sanitário. Se levarmos em consideração a afirmação das Organização das Nações Unidas (ONU) de que a agricultura é o setor que mais consome água doce no Brasil, com cerca de 70% de toda água consumida, a utilização de agrotóxicos pode se tornar uma dos maiores problemas ambientais do país.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicaram, em 2016, diretrizes para o combate ao uso de agrotóxicos no mundo. De acordo com as organizações, é preciso localizar os responsáveis pela maior parte das intoxicações humanas no mundo e, em muitos casos, retirar o produto do mercado de forma gradual. Além disso, e ainda mais importante, é preciso uma ação global unificada, onde os países devam atualizar resoluções sobre o controle e fiscalização destes venenos.

Na mesma época, a FAO também lançou um conjunto de ferramentas para o Registro de Praguicidas para ajudar os países a realizar avaliações de perigos e riscos, em seus processos nacionais de aprovação de praguicidas. A organização afirmou ainda que essas ferramentas poderiam ser utilizadas para reavaliar produtos já aprovados, mas que são considerados muito perigosos.

Purificação

Na busca por retirar resíduos tóxicos da água, uma pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG) descobriu que a casca de coco verde tem a capacidade de absorver o agrotóxico parationa matílica durante o processo de filtragem. 

Segundo a responsável pelo estudo, Josiane Moreira Cardoso, afirmou que as legislações atuais não impedem o uso indiscriminado de agrotóxicos no país, o que responde por grande parte dos casos de contaminação da água. “A maioria dos agrotóxicos são altamente tóxicos, mesmo em baixas concentrações. Em relação à parationa metílica não é diferente e por ser um produto solúvel em água, só pode ser identificado através de técnicas específicas. Existem legislações que regulamentam o uso e o descarte dos agrotóxicos, porém, essas normas são amplamente desrespeitadas”, contou.

Dados do estudo contataram que o processo de absorção do agrotóxico começa com o contato entre a água e a fibra de coco, que passam por um processo de 30 minutos em uma mesa agitadora. “O aproveitamento desse material vegetal como adsorvente alternativo poderia ajudar a minimizar o acúmulo de resíduos no ambiente”, completou. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

  

Veja Também