Violinista conta como foi tocar em abrigo antibomba em Israel

Alessandro, que viveu momentos de terror enquanto estava em Israel com a esposa, chegou ao Brasil na última sexta-feira (13)

Postado em: 16-10-2023 às 08h10
Por: Ronilma Pinheiro
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Alessandro, que viveu momentos de terror enquanto estava em Israel com a esposa, chegou ao Brasil na última sexta-feira (13) | Foto: Arquivo pessoal

Pessoas de todo o mundo costumam fazer viagens a Israel, a fim de conhecerem os locais sagrados, seguindo os passos de Jesus em peregrinação de fé e cultura. Jerusalém, a capital do país, faz parte da chamada Terra Santa e, por isso, está no imaginário e no coração de muitos turistas religiosos. 

No último dia 5 de outubro, um grupo de 40 pessoas da igreja presbiteriana de Recife, chegou em Israel, para uma viagem de peregrinação cristã. Nesse grupo, estava o professor de violino da Universidade Federal de Goiás (UFG), Alessandro Borgomanero e sua esposa, Juliana Caetano Borgomanero.

A viagem, que para muitos, é um verdadeiro propósito de vida e que poderia ser um momento para guardar boas memórias, lembranças e experiências, tornou-se um verdadeiro terror para os turistas. “Nós fomos com objetivo de conhecer os lugares. Para a maioria das pessoas era a primeira vez que ia para lá e de repente fomos surpreendidos com essa guerra”, relata o professor.

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Nascido na Itália, filho de pai italiano e mãe alemã, Alessandro é professor de violino da Universidade Federal de Goiás (UFG). Vivendo no Brasil desde os 7 anos, considera-se mais que brasileiro. “Nasci na Itália mas fui criado no Brasil. Tenho um coração brasileiro”, diz o violinista.

Aqui, ele viveu a infância e adolescência. Quando completou 18 anos, Alessandro, que sempre foi apaixonado por música e começou a estudar violino ainda com 5 anos, viajou para Alemanha e posteriormente para a Áustria, para estudar música, onde viveu cerca de 15 anos. Em 1999, o agora violista retornou ao Brasil, foi nesse período que ele conheceu a goiana Juliana Caetano Borgomanero, com quem se casou e teve o filho Leonardo Caetano Borgomanero, que atualmente tem 20 anos de idade.

Alessandro, que viveu momentos de terror enquanto estava em Israel com a esposa, tem um histórico de guerras na família. Ao jornal O Hoje, o violinista conta que o seu falecido pai chegou a lutar na Segunda Guerra Mundial. “Então, tem toda uma relação com a barbaridade que a gente vivenciou lá”, diz.

Durante o período de confinamento no país estrangeiro, as conversas com os familiares do Brasil eram constantes. Certa ocasião, a mãe de Alessandro, uma idosa de 90 anos, relembrou o cenário de guerra em que viveu na sua adolescência. “Minha mãe era adolescente na época da segunda guerra Mundial na Alemanha. Ela se lembrou dos cenários de guerra em que viveu, onde chegou a se esconder em abrigos antibombas”, relata o professor. “Então, são ódios, tragédias, crueldade e desastres, que se repetem ao longo dos anos”, reflete.

Em meio ao caos, o alento veio da música, quando Alessandro, alí mesmo no hotel em que estava confinado, resolveu fazer um concerto informalmente, para aquelas pessoas. “Eu tô lá tocando de camisa gola polo e bermuda, mas através da música, eu consegui em 50 minutos, trazer um pouco de alento aos corações que estavam apertados naquele momento e com saudades dos familiares do Brasil”, lembra.

Sem caminhadas pela cidade, sem visitas aos locais sagrados, confinados em hotel, com risco de serem atingidos por mísseis a qualquer momento, o único lugar que iam era para o subsolo do hotel onde tinha um abrigo antibombas. “Ficávamos lá por 10 a 15 minutos. Era uma situação muito tensa. Cerca de 200 pessoas esperando os ataques ceçarem”, relata o violinista.

Embora existam registros de conflitos, há décadas entre o Hamas e o Estado de Israel, ninguém, nem mesmo o preparadíssimo exército israelita, poderia imaginar que naquele 7 de outubro haveria um ataque com tantos mortos. E sequestros. E uma resposta que colocou o mundo em alerta.

“No primeiro momento imaginamos que a situação poderia melhorar, mas pelo contrário só piorava dia após dia”, conta. “Era uma situação inesperada, um país desconhecido e um conflito desconhecido para nós. Sem dúvidas, isso causa muita pressão”, narra.

Quando o governo israelita começou a decretar o fechamento de escolas, museus e demais locais, aquilo se tornou real para os turistas, que logo precisavam retornar ao país de origem. No entanto, não havia voos disponíveis. A preocupação dos familiares que estavam no Brasil aumentava cada vez, o medo tomava conta daqueles que estavam em solo estrangeiro, e assim, alguns dias se passaram.

Resgate: agradecimento à Força Aérea Brasileira

A esperança de voltar para casa surgiu quando o governo brasileiro anunciou que estava iniciando a operação de repatriação, onde aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) trariam os brasileiros que estavam em Israel, de volta ao país. Assim, na última quinta-feira (12) um avião KC 390 da Fab, com capacidade para transportar 60 pessoas e nove tripulantes saiu de Israel rumo ao Brasil. No voo, estava Alessandro e sua esposa.

Em meio a todo esse caos, a humanidade e sensibilidade dos agentes da Fab se destacaram. Os nove tripulantes da Força Aérea decidiram não usar os seus acentos para cedê-los a mais nove brasileiros que precisavam voltar para casa. “Todos os tenentes e sargentos que estavam no avião vieram de pé durante toda a viagem”, destaca Alessandro. O voo saiu de Tel Aviv, passou por Lisboa, Cabo Verde, Recife e finalmente chegou a Guarulhos que era o destino final.

Na última sexta-feira (13) o violinista e a esposa chegaram ao Brasil e puderam respirar aliviados. “Chegar ao Brasil foi uma sensação de alívio, de tranquilidade, de alegria. Poder voltar, abraçar os entes queridos”, diz Alessandro, enquanto expressa a sua felicidade.

Para Alessandro, a maior experiência que adquiriu com a viagem a Israel, é sobre a importância do amor. “Eu acho que só tem um caminho para resolver esta questão histórica, de guerra. É a mensagem de nosso senhor e Salvador Jesus Cristo, uma mensagem de amor, perdão e de respeito”, diz.

O violista destaca ainda que se o dinheiro gasto em mísseis e armas de guerra, tanto em Israel, quanto na Palestina, fosse investido em função de melhorias para a população, faria uma diferença enorme na vida das pessoas. “A guerra não leva a lugar nenhum”, afirma.

O violinista define o ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel, com sendo “um ataque covarde de um grupo terrorista que matou muitas pessoas inocentes”. “Tem pessoas inocentes pagando um preço muito alto”, enfatiza.

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