Como depressão pós-parto afetou relação entre mãe e bebê

A farmacêutica de 26 anos Maria Teresa Pimentel passou por pesadelo que parecia longe da realidade, mas o amor pela filha a fez superar o quadro depressivo

Postado em: 17-10-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Como depressão pós-parto afetou relação entre mãe e bebê
O sonho de ser mãe, sempre fez parte dos objetivos de vida da farmacêutica de 26 anos, Maria Teresa Pimentel | Foto: Arquivo Pessoal

Desde os primórdios da sociedade que a chegada de um bebê promove diversas sensações no seio familiar. Para os pais, é um herdeiro, que trará alegria para casa, para os avós, um privilégio de poder conhecer o membro da terceira geração. Para os irmãos dos pais da criança, o fato de serem tios pode ser animador. No entanto, com todos os olhares voltados para o recém-nascido, a mãe, muitas vezes passa pelas dores do puerpério sozinha.

O sonho de ser mãe, sempre fez parte dos objetivos de vida da farmacêutica de 26 anos, Maria Teresa Pimentel. Logo que casou com o  médico residente em psiquiatria Matheus Pimentel o sonho tornou-se realidade e ganhou o nome de Clara Teixeira Pimentel. No entanto, apesar do amor pela filha, de todo o apoio recebido do esposo e da rede de apoio, a farmacêutica não conseguiu fugir da depressão pós-parto. “A gente até previne, mas nunca temos 100% certeza de que não passaremos por algo do tipo”, afirma a mãe da Clarinha de 11 meses. “A gente não escolhe ter  baby blues ou depressão pós-parto”, reflete.

A história de Maria Teresa com a depressão pós-parto começou por volta dos três primeiros meses após dar à luz. As mudanças de humor, estresse e as emoções à flor da pele, começaram a interferir na relação da mãe com a filha. Nesse momento, a mulher acendeu o sinal de alerta e percebeu que precisava de ajuda. “Foi um período marcado por falta de paciência, conflitos e humor instável. Qualquer coisa me fazia chorar, me fazia perder a paciência e isso foi interferindo diretamente na minha relação com a minha filha, onde inclusive a amamentação foi prejudicada”, relata a mãe.

Continua após a publicidade

Para sair desse quadro, a farmacêutica contou com a ajuda do esposo, juntamente com uma equipe de especialistas como psicólogo, ginecologista e pediatra, que se empenharam em tratar a doença que prejudicava o funcionamento de toda a família.

Maria Teresa  destaca ainda a importância da rede de apoio para o seu tratamento. “Primeiramente o meu esposo, depois a minha mãe. É necessário que se tenha uma rede de apoio em uma circunstância como esta, porque há um caráter hormonal envolvido que faz com que a mãe fique fragilizada demais”, destaca.

As causas dos problemas mentais dessas mulheres estão relacionadas, na maioria das vezes, com a oscilação hormonal em decorrência da gravidez e do parto. “Tem a diminuição dos hormônios, que estão bem altos na gravidez, cansaço físico e as cobranças”, detalha a médica pediatra Giselle Pulice de Barros Lôbo, ao falar dos fatores que desencadeiam os distúrbios mentais após o parto.

“Ele foi o meu grande companheiro, sem ele eu não teria conseguido passar por tudo isso. Eu acredito muito no poder da família. Quando a família se ajuda, ela prospera”, afirma a farmacêutica ao falar do papel do marido em sua recuperação. “Quando a gente fala de maternidade e paternidade, só podemos levar isso juntos, pois o fardo ameniza”, acrescenta.

Além do apoio familiar, bem como a rede de apoio que auxilia nos cuidados da criança e apoio à mãe, outro aspecto que pode diminuir ou até mesmo evitar essas problemáticas, é a relação com o parceiro, segundo a médica. Então, acompanhar a mãe nas consultas, manter contato emocional e físico com a criança, ajudar nas funções, são atos que fazem total diferença na qualidade de vida da puérpera. “Essas mães passam melhor por esse período do que as que chegam sozinhas nos consultórios”, reitera. 

Diante do cenário de dor e sofrimento, o amor pela filha Clarinha permaneceu intacto segundo a mãe. Esse amor foi essencial para que Maria entendesse que precisava sair daquele quadro depressivo que fez com que a farmacêutica chegasse a pensar em tirar a própria vida. “Eu sempre amei ela. A minha filha foi muito desejada”, afirma.

A farmacêutica queria tanto ser mãe, que precisou se submeter a tratamentos para conseguir engravidar. “Eu tinha uma deficiência hormonal e precisei fazer alguns tratamentos”, conta. O médico havia dito que a mulher não iria engravidar com facilidade, no entanto, ainda na lua de mel do casal, Maria engravidou.

A espiritualidade da mãe, também foi importante na recuperação da mulher. “Ter uma religião, ter uma vida espiritual é essencial em momentos difíceis e durante a vida mesmo, mas principalmente em momentos difíceis, assim como esse”, diz.

“Hoje eu estou bem. Nós estamos bem, como família. E eu já desejo ter mais filhos e inclusive espero tê-los”, conta. 

Diferença entre Baby Blues e depressão pós-parto

A médica pediatra Giselle Pulice de Barros Lôbo, diz que nos primeiros meses do puerpério o médico pediatra desenvolve um papel importante na vida da mãe, que geralmente não tem contato com outro especialista durante algum tempo, já que após o parto, a rotina se resume aos cuidados do recém-nascido, bem como levá-lo com frequência ao médico.

Desse modo, o profissional precisa ficar atento ao estado psicológico da mãe. “Porque muito dificilmente essa mãe com os cuidados intensos ali com o bebê vai procurar outro tipo de médico. Então, faz parte da nossa avaliação inicial também ver como essa mãe está”, afirma a especialista.

Com tanta atenção voltada para o recém-nascido, um olhar especial sobre a mãe na maioria das vezes é negligenciado e isso pode trazer sérias consequências. “Quando a gente deixa essa mãe de lado e foca só no neném muitas vezes elas ficam despercebidas tanto pelos familiares quanto pelos amigos e em alguns casos, até mesmo pelo médico. Essa mãe precisa de ajuda”, explica.

Inseguranças e preocupações em relação ao cuidado do bebê são comuns para os pais, e principalmente para a mãe nesta fase, pelo menos é o que afirma Giselle Pulice. No entanto, se sentir triste, rebaixada, uma péssima, ou ter frequentes mudanças de humor, pode ser as primeiras características do Baby Blues ou de depressão pós-parto.A pediatra explica a diferença entre os dois distúrbios emocionais. Segundo ela, a distinção é uma linha tênue em relação a intensidade dos sintomas. Enquanto o baby blues pode causar sentimento de desesperança, a depressão pós-parto causa a falta de vontade de viver. “A mãe com baby blues normalmente consegue manter sua rotina diária e de cuidados com o bebê, enquanto a mãe em processo de depressão pós-parto dificilmente conseguirá seguir a rotina”, explica. O tempo é outro fator que diferencia os dois transtornos. A puérpera com baby blues tende a melhorar após três semanas, enquanto na depressão os sintomas podem se prolongar por meses, podendo ser necessário ajuda médica, afirma a especialista.

Veja Também