PF desmantela bilionário esquema de extração de ouro em terras indígenas

Operação criminosa movimentou cerca de R$ 15 bilhões

Postado em: 18-10-2023 às 08h30
Por: Tathyane Melo
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A operação que contou com a ação de 92 policiais federais resultou no cumprimento de 12 mandados de prisão preventiva e 21 mandados de busca e apreensão em Goiás, Pará, São Paulo e no Distrito Federal | Foto: Divulgação

Na última terça-feira (17), a Polícia Federal deflagrou uma operação que resultou na prisão de três suspeitos ligados a uma organização criminosa que movimentou cerca de R$ 15 bilhões com a extração ilegal de ouro em terras indígenas, incluindo a Terra Indígena Yanomami. A operação é resultado de investigações iniciadas em junho do ano passado, quando um homem foi detido com 8 quilos de ouro em Anápolis, Goiás.

De acordo com o delegado Alex Cerqueira, um dos responsáveis pelo caso, os investigados desempenham papéis específicos na organização criminosa. “Dentro da organização criminosa, são indivíduos responsáveis por trazer o minério, negociá-lo e revendê-lo”, explicou o delegado. O esquema incluía a compra do minério no local de extração, seu transporte para Goiás, onde era revendido a empresas de joalheria no Distrito Federal e em São Paulo. Também haviam envolvidos no beneficiamento do minério e sua entrega aos consumidores finais.

A operação que contou com a ação de 92 policiais federais resultou no cumprimento de 12 mandados de prisão preventiva e 21 mandados de busca e apreensão em Goiás, Pará, São Paulo e no Distrito Federal. Além disso, a Justiça determinou o sequestro judicial de 15 veículos de luxo avaliados em mais de R$ 4 milhões e de 9 aeronaves avaliadas em mais de R$ 15 milhões.

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Extração ilegal de ouro em terras indígenas

A organização criminosa atuava na extração ilegal de ouro de terras indígenas localizadas nos estados do Pará e Roraima, incluindo a Terra Indígena Yanomami. A extração era feita por garimpeiros e posteriormente transportada para Goiás por meio de veículos adaptados e aeronaves. A organização era responsável por intermediar todo o processo, desde a extração até a venda do minério.

A PF informou que às investigações prosseguem com o intuito de identificar outros possíveis envolvidos no esquema, incluindo as joalherias que adquiriram ouro ilegalmente. Caso seja comprovado a participação dos investigados, eles poderão responder por crimes relacionados à organização criminosa, lavagem de dinheiro, comercialização e exportação ilegais de ouro extraído de reservas indígenas e crime contra a ordem tributária e extração ilegal de minérios.

Essa ofensiva da PF não se limitou à operação atual. A instituição também desencadeou a Operação Lupi, que busca elucidar o funcionamento de uma organização criminosa que atua na extração ilegal de ouro. As investigações foram desdobramentos das operações Kukuanaland e Bullion, realizadas em fevereiro e maio do mesmo ano. A Operação Lupi envolveu cinco mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva, todos expedidos pela Vara Única da Justiça Federal em Gurupi, Tocantins. O grupo criminoso, cuja existência foi identificada, está envolvido em atividades ilegais que incluem a extração do minério em áreas proibidas, falsidade ideológica e a lavagem do dinheiro obtido.

Uma das linhas de investigação se concentra na falsificação de documentos, nos quais o grupo alegava que o ouro extraído ilegalmente de reservas indígenas e unidades de conservação federal era proveniente de áreas autorizadas. Além disso, o processo de “esquentamento” do ouro ilegal envolvia a alegação de uma origem diferente da real, buscando ludibriar as autoridades e compradores. O objetivo da operação é identificar os principais envolvidos na exportação do ouro ilegal, desmantelar a organização criminosa, recuperar ativos financeiros e impedir que o grupo continue suas atividades ilícitas.

Além dessas duas operações, a Polícia Federal desencadeou a Operação Emboabas, que também teve como foco a repressão de esquemas criminosos relacionados à mineração ilegal de ouro. Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e 16 mandados de busca no município de Anápolis e em diversas cidades do Brasil. A investigação identificou indícios de contrabando de ouro com destino à Europa.

A organização criminosa adquiria ouro de terras indígenas e leitos de rios, utilizando dragas para sua extração. Através de fraude, o grupo declarava que o ouro era extraído em permissões de lavra garimpeira regularmente constituídas. A operação também identificou que o principal envolvido no esquema promovia a legalização do ouro ilegal através de um processo complexo de falsificação de documentos.

A extração ilegal de recursos naturais, como o ouro, além de ato criminal, é uma grave ameaça ao meio ambiente e às comunidades indígenas que habitam essas áreas. A identidade dos suspeitos não foi divulgada, e até o momento, não foi possível localizar a defesa dos envolvidos. A Polícia Federal continuará aprofundando as investigações para responsabilizar os envolvidos no esquema bilionário.

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