Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Conheça lugar em que moram 400 cobras em Goiânia

Com mais de 400 serpentes, o Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas da PUC Goiás é responsável por pesquisas e preservação de espécies

Postado em: 23-10-2023 às 08h30
Por: Tathyane Melo
Imagem Ilustrando a Notícia: Conheça lugar em que moram 400 cobras em Goiânia
Com mais de 400 serpentes, o Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas da PUC Goiás é responsável por pesquisas e preservação de espécies | Foto: Leandro Braz/O Hoje

O Brasil, com sua vasta diversidade de fauna e flora, é o lar de cerca de quatro centenas de espécies de serpentes, algumas das quais possuem veneno potencialmente perigoso. Cuidar desses répteis exige um esforço considerável, e a história do estado de Goiás é marcada por esses desafios e ações dedicadas à pesquisa e ao tratamento de acidentes com serpentes venenosas.

Voltando um pouco nos longos anos de história do país e retornando à 1985, o país testemunhou uma crise alarmante: a falta generalizada de soros antiofídicos em território nacional. Essa crise começou a se desenhar em 1983, quando a iniciativa privada desativou sua área de produção de imunobiológicos. E, em meio a esse momento, um grupo de professores e alunos de Biologia e Biomedicina da Universidade Católica de Goiás (PUC) criaram o Centro de Estudos de Animais Peçonhentos (CEAP).

O local, a partir de 1987, passou a integrar o Grupo de Trabalho de Distribuição Geográfica do Programa Nacional de Ofidismo do Ministério da Saúde como a única instituição não pública do país. Essa colaboração resultou na criação do Núcleo Regional de Ofiologia de Goiânia (NUROG/MS).

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Foi então que no dia 18 de outubro de 1988, o Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas (CEPB) foi oficialmente estabelecido e hoje, desempenha um papel essencial na pesquisa e no tratamento de acidentes envolvendo serpentes venenosas. O jornal O Hoje conversou com um dos responsáveis pelo local e sua direção, Hélder Lúcio Rodrigues Silva, coordenador do curso de Ciências Biológicas Licenciatura e um herpetólogo, especializado em répteis e anfíbios. Ele compartilhou sua experiência e conhecimento sobre o Serpentário do CEPB.

O Serpentário do Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas (CEPB) da PUC Goiás abriga uma coleção impressionante de mais de 400 serpentes vivas, incluindo cerca de 8 espécies venenosas e não venenosas. A maioria dessas serpentes são jararacas, cascavéis, corais e urutus.

Hélder enfatiza que o Serpentário do CEPB desempenha um papel vital na pesquisa e no tratamento de acidentes com serpentes. “São realizados estudos sobre venenos de serpentes, investigamos a distribuição geográfica e a taxonomia desses animais e mantemos uma coleção científica que inclui mais de 35.000 animais e colaborações com pesquisadores de todo o Brasil”, diz.

O serpentário conta com, além da administração de Hélder, de dois outros funcionários, Marta, uma biomédica, e Raimundo, um técnico especializado em serpentes. Além disso, o local envolve regularmente cerca de 8 a 10 alunos de graduação, que realizam iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso (TCC) e estágios supervisionados no CEPB.

Com 37 anos de histórias vividas enquanto trabalha no local, Hélder detalha sobre seu interesse em herpetologia, a área que envolve o estudo de répteis e anfíbios, que o atraiu para o CEPB: “Sempre gostei de animais e da área de zoologia. Quando comecei meus estudos de biologia, o serpentário já havia sido criado há cerca de um ano antes de eu entrar. Eu comecei lá em 1986 e estou lá até hoje. Comecei como estagiário voluntário,” explica.

Hélder Silva finaliza contando uma curiosidade sobre as serpentes e seu comportamento: “As jararacas são uma das espécies mais agressivas e temos 5 tipos delas aqui em Goiás. Inclusive, são muito mais agressivas que cascavéis e corais verdadeiras, e para exemplificar com números, os ataques delas são muito maiores, porém, isso tudo com taxas de mortalidade muito baixas e os estudos ajudam muito na segurança”, diz.

Hoje, o CEPB continua sua missão de pesquisa e tratamento de acidentes com serpentes, além de fornecer educação e recursos para a comunidade em geral. O serpentário está aberto ao público das 8h às 11h e das 13h às 17h, oferecendo a oportunidade de aprender mais sobre esses fascinantes animais e as pesquisas que ocorrem no CEPB.

Biomédica é genuína guardiã de serpentes

No coração de Goiânia, o Serpentário do Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas (CEPB) Universidade Católica de Goiás (PUC), têm uma história de dedicação e conhecimento perdura há décadas. Há 37 anos, a biomédica doutoranda em Biologia Animal, Marta Regina Magalhães, ingressou nessa fascinante jornada de pesquisa e cuidado com serpentes. Sua paixão por esses répteis e seu trabalho dedicado no estudo de seus venenos transformaram-na em uma referência na área.

Foto: Leandro Braz/O Hoje

Em uma conversa com o Jornal O Hoje, Marta compartilhou detalhes de seu trabalho: “A gente trabalha mais com pesquisa na parte de identificação de molécula bioativa. Conhecimentos que podem ser utilizados como medicamento,” explica. No CEPB, Marta concentra sua pesquisa no veneno das serpentes, explorando seu potencial como analgésico e anti-inflamatório.

A biomédica nos detalha sobre uma descoberta notável no CEPB, a identificação de um analgésico no veneno da cascavel do estado de Goiás, que também possui propriedades anti-inflamatórias. Esse achado, que representa um passo em direção a potenciais tratamentos médicos, está em período de pesquisas e análises e representa o resultado do trabalho incansável da equipe do serpentário.

O serpentário abriga uma variedade de espécies de serpentes, todas devidamente registradas e cuidadas com carinho. Além disso, o CEPB desempenha um papel fundamental na educação e conscientização pública sobre a importância das serpentes. Durante nossa visita ao local, Marta compartilhou detalhes sobre a vida das serpentes, seu comportamento e seus hábitos alimentares. Cada espécie tem suas particularidades, como exemplificado pela especialista: “As cascavéis e jararacas dão à luz aos seus filhotes. Mas a cobra coral e o urutu botam ovos”, detalha a especialista.

Nos guiando, Marta nos leva até uma das serpentes mais notáveis do serpentário, apelidada carinhosamente de ‘Rebeca’, está uma cascavel albina que chegou em 2012 trazida de Jataí e que não estava querendo se alimentar, isso, até chegar ao local. Seu potencial genético como albina é motivo que chama atenção e curiosidade de quem a conhece, e, além disso, existe uma expectativa sobre ela, pois, ao cruzar com seus filhotes, há a possibilidade de obter descendentes albinos, que são altamente valorizados devido à sua genética única. Com uma gestação que dura cerca de 6 meses, a biomédica conta que quando o animal está mais “gordinho” é quando eles percebem que vem filhotes por aí.

“A gente brinca aqui que as ‘loiras’, essas cobras mais branquinhas, inclusive a Rebeca né, são as mais nervosas, mais bravinhas, são cheias de personalidade! Mas isso é apenas um descontração entre a gente aqui, não tem nada científico sobre”, conta a especialista bem humorada com um brilho no olhar em direção a famosa cascavel albina.

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