Goiânia: cidade que plantou livros

Nove escritores convidados contam histórias que os ligam à nonagenária Goiânia

Postado em: 24-10-2023 às 12h00
Por: Redação
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Foto: Alois Feichtenberger/Acervo MIS GO

Ademir Luiz

Goiânia foi idealizada por Pedro Ludovico como uma cidade difusora da modernidade, da arte e da cultura. Não por acaso, foi batizada com o nome de um livro: o poema épico Goyania, lançado por Manuel Lopes de Carvalho Ramos em 1896. No poema, a viagem exploratória do bandeirante Bartolomeu Bueno, o Anhanguera, pelas terras dos índios goyazes tornou-se uma saga aventuresca, trágica e romântica. No dia 24 de outubro de 1933, na cerimônia de lançamento de sua pedra fundamental, um exemplar do livro foi enterrado sob o monumento do marco zero da nova capital, localizado na atual Praça do Cruzeiro. Esse ato acabou se revelando, literalmente, como justiça poética. 

No mesmo ano, o jornal O Social, da cidade de Goiás, instituiu um concurso para escolher o nome da nova capital de Goiás. Entre as muitas sugestões apresentadas, os nomes mais votados pelo público foram Petrônia, sugestão do poeta Léo Lynce, com 105 votos, Anhanguera com 26 votos, Heliópolis com 16 votos, Crisópolis com 13 votos e Tupirama com 10 votos. Goiânia, a sugestão apresentada pelo professor Alfredo de Castro, sob o pseudônimo Caramuru Silva do Brasil, recebeu apenas dois votos, um do próprio autor da sugestão e outro da professora Zanira Campo Rios. Provavelmente, a palavra se origina da expressão tupi-guarani “guyanna”, que significa “terra de muitas águas”.

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Em sua justificativa, Alfredo de Castro escreveu:

“GOIÂNIA: Qual o nome que pela sua significação, sua sonoridade, fácil grafia e sentido histórico, melhor se adaptaria à cidade nova que será a capital do Estado? Haverá, é certo, copiosa lista de denominações para a nova urbs. Nenhuma, porém, conservará o sabor histórico, a cor local, o significado regional desta palavra, curta, sonora, que reflete com serenidade a ideia de nossa origem. A solução de continuidade histórica que adviria da imposição de um apelido, talvez interessante e valioso, sob vários aspectos, à mais importante cidade do Estado, não deixaria de arranhar, sequer de leve, o estranhado amor que devotamos ao culto sagrado das nossas tradições. GOIÂNIA – Nova Goiás, prolongamento da histórica Vila Boa, monumento grandioso que simbolizará a glória da origem de todos os goianos. Goiás, 10-10-33. Caramuru Silva do Brasil.”

A proposta se alicerça na noção de continuidade. Goiânia, a nova Cidade de Goiás, a Vila Boa do futuro que não nega as tradições. Apesar da baixa votação popular, não se sabe exatamente o motivo, o nome Goiânia foi escolhido por Pedro Ludovico Teixeira. Oficialmente, a cidade permaneceu sem nome, sendo chamada apenas de “futura capital” ou “nova cidade” nos documentos oficiais, até o dia 02 de agosto de 1935, quando foi oficialmente batizada por força do artigo 1º do decreto estadual número 327. A força do livro enterrado emergiu e abraçou toda a cidade que era construída no cerrado.     

A modernidade goiana foi inaugurada pelo enterramento (vivo?) de um livro. Não de um livro qualquer, mas de um poema épico, o primeiro gênero literário concebido pela humanidade. Uma modernidade tão goiana, composta de aquéns e de aléns do moderno.

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