Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos

Nove escritores convidados contam histórias que os ligam à nonagenária Goiânia

Postado em: 24-10-2023 às 13h00
Por: Redação
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Foto: Reprodução

Sinésio Dioliveira

Tomara que o poeta Manoel de Barros não se importe de eu ter buscado em seus versos o título desta crônica. O poeta diz: “Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. / Tenho abundância de ser feliz por isso”. Não há como só gostar de passarinhos e excluir as árvores. E Manoel sabe disso ao dizer: “Meu quintal é maior do que o mundo”. É no quintal que estão as árvores, as quais são a morada dos pássaros e de outros bichos.

Assim como há o famoso analfabetismo funcional, que é aquele em que a pessoa não possui capacidade intelectual para entender o que lê, há também o analfabetismo ambiental, termo cuja origem se deu na conferência Rio-92,  e que relacionado às pessoas descompromissadas com as questões socioambientais. Enquanto o funcional gera o atrofiamento mental, o ambiental causa doenças (e mortes) às árvores. O que repercute na qualidade de vida humana, haja vista que as árvores são vitais à nossa sobrevivência. 

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As equipes da Equatorial que saem pelos bairros de Goiânia fazendo podas de árvores são explicitamente analfabetos ambientais. Além desse pecado ambiental, por sinal muito perigoso à sobrevivência das árvores vitimadas pelas motosserras, há ainda o fato de a empresa não estar oferecendo energia conforme a demanda do Estado. 

Na rua em que moro no Centro, as motosserras da Equatorial fizeram um estrago numa sibipiruna. Vi a cena bem de perto. Estava em casa e ouvi a zoeira mortal das máquinas malignas. Saí à janela e assisti, entristecido, ao gesto destrutivo dos dendroclastas.

A árvore praticamente ficou sem folhas. Fato que, com certeza, vai resultar em risco à sua saúde da espécie, haja vista que são as folhas, por meio da fotossíntese, que levam seiva elaborada às raízes e outras partes, processo que a biologia chama de floema. Paralelo a este processo, há outro, o xilema, que fica sob a responsabilidade das raízes, que fazem a seiva bruta – água e sais minerais – chegar até as folhas.

As pombinhas arribaçãs que gostavam de se aninhar nos galhos da sibipiruna vão ter de buscar outra alternativa, inclusive os galhinhos secos da árvore são muito utilizados para construção de ninhos. As abelhas iraí que viviam num buraco do tronco da espécie não terão flores tão cedo para buscar alimento.

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