Ludovico, a oposição e a construção de Goiânia 

A história desafiadora de mudança da capital do estado de Goiás teve alguns obstáculos comuns à política de qualquer época

Postado em: 24-10-2023 às 10h30
Por: Yago Sales
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A transferência da capital se transformou em um ato político tanto para Vargas quanto para Ludovico | Foto: Reprodução

A construção de Goiânia mobilizou a política brasileira na década de 1930, deixando um rastro de ousadia e, principalmente, a importância da parceria entre políticos goianos com bambambans da vez. Sob o argumento do progresso, Pedro Ludovico Teixeira, contemporâneo de Getúlio Vargas, que foi um dos personagens mais emblemáticos da política nacional, conseguiu apoio dele, presidente da República na ocasião, para transferir, de Vila Boa – atual Cidade de Goiás – para dali a 142 km, bem ao lado de Campinas. 

A transferência da capital se transformou em um ato político tanto para Vargas quanto para Ludovico. O anseio de ambos, em meio à turbulência causada pela Marcha para o Oeste, um projeto encabeçado por Getúlio Vargas para contribuir para o desenvolvimento do Brasil. À época, Vargas, em uma primeira fase de sua morada no Catete, no Rio de Janeiro, como um presidente ditador. 

Por aqui, Ludovico era interventor. Goiânia, com isso, seria um bebezinho que qualquer político adoraria exibir para os planos de quem tinha, como razão de estar no poder – como era para Vargas – exibir para o estrangeiro. 

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Tudo que envolve a criação do zero de uma cidade – e é tão comum, não é?, um feito assim? – é muito complexo para um texto que visa tentar, tão somente tentar, relembrar alguns atos políticos. 

A gente sabe que tudo começou em 1930, com o Dr. Pinheiro Chagas, e finalizada em 1942, com o Batismo Cultural comandado por Pedro Ludovico. 

Outro contexto bom de relembrar é que a cidade foi concebida em meio aos traumas da Primeira Guerra Mundial e durante a sangrenta Segunda Guerra Mundial. Ali tudo inspirava a necessidade de inovar, transformar e criar. E é por isso que é tão importante preservar a arquitetura Art Déco da nonagenária Goiânia. 

Planejada para 50  mil habitantes, como dizia Pedro Ludovico Teixeira, uma coisa surpreende até hoje: a capacidade de o político, homenageado com uma estátua na Praça Cívica montado em um cavalo de bronze, de conseguir alcançar. 

Alguns lembretes, conforme a historiografia. Era 13 de janeiro de 1933 quando o governo federal autorizou uma pequena fortuna para dar início à construção da capital. Evidentemente que nem todo mundo estava  rindo para as paredes com o projeto. E havia os conhecidos como “antimudancistas”. A pressão também foi jurídica, quando um grupo oposicionista buscou impetrar recursos no Conselho

Consultivo do Estado (órgão controlador dos interventores durante a ditadura) e até mesmo junto ao Governo Provisório no Rio de Janeiro. Nada parecia abalar a intenção.

O evento de lançamento da “pedra fundamental” da cidade, em 24 de outubro de 1933. Era a consolidação do sonho do poderio político e, àquela altura, da maioria dos goianos, de cidadãos comuns à elite econômica e intelectual. 

Naqueles dias havia também um daqueles processos eleitorais do início da século XX. Dois partidos se dividiram entre o pequeno eleitorado para escolher deputados, num pleito em outubro de 1934. Disputaram os situacionistas e o Partido Social Republicanos (PSR) que, inclusive, tinha como slogan bem sugestivo: “Goiás é o corpo de que Goiânia é a cabeça”. 

A oposição, que contava com gente graúda, como caiadistas, se chama Coligação Libertadora Goiana. A história também lembra alguns slogans deles, como “pau nos mudancistas” e “o povo sacrificado de Vila Boa.” A maioria dos parlamentares eleitos escolheram, em eleição indireta, Pedro Ludovico como governador. Era em conformidade à Constituição de 1934.

Logo depois, a 14 de novembro de 1935, um professor, entusiasta com a mudança da capital, Venerando de Freitas, assumiu o posto de primeiro prefeito de Goiânia por escolha de Pedro Ludovico Teixeira. Para não causar transtornos, gritaria dos oposicionistas, Ludovico se instalou, sem que a imprensa soubesse, em Goiânia, de onde despacharia. 

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