Em Goiás, somente 45,4% das mulheres tomaram a segunda dose da vacina contra o HPV em 2023

O vírus acomete aproximadamente 75% da população sexualmente ativa e que se expõem ao vírus, diz especialista

Postado em: 25-10-2023 às 08h20
Por: Ronilma Pinheiro
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O vírus acomete aproximadamente 75% da população sexualmente ativa e que se expõem ao vírus, diz especialista | Foto: Divulgação

O HPV ou Papilomavírus humano, corresponde a um conjunto de vírus sexualmente transmissíveis que infectam pele ou mucosa, provocando verrugas ou lesões. Estas, por sua vez, podem desencadear diversas doenças, como os cânceres, por exemplo.

A oncologista do Cebrom Oncolínicas, Lanuscia Santana, afirma que o HPV pertence a uma ampla família de vírus diferentes que podem infectar a pele dos órgãos genitais. “Quase todos os tipos foram estudados e hoje sabemos que o grupo de HPV que causa lesão pré-cancerígena ou cancerígena (chamado grupo de alto risco oncogênico) não é o mesmo que geralmente causa as verrugas genitais (chamado de grupo de baixo risco oncogênico)”, explica a especialista.

Além disso, é importante ressaltar que o HPV é um vírus de DNA, já descrito em mais de 200 tipos, agrupados pelo potencial oncogênico, ou seja, que causa ou leva ao surgimento de uma neoplasia, segundo Lanuscia Santana. “Aproximadamente 45 tipos infectam o epitélio do trato anogenital masculino e feminino e podem ser classificados como de baixo risco”, afirma. Em 95% dos casos, as verrugas genitais são causadas por HPV do grupo de baixo risco, segundo a oncologista.

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O HPV está relacionado a 5% de todos os tipos de câncer no mundo, sendo responsável por 99% dos casos de câncer de colo do útero, destaca Lanuscia. “É atribuído potencial oncogênico para alguns tipos de cânceres de colo de útero (carcinoma espinocelular), vulva e vagina, pênis, ânus, laringe, faringe e cavidade oral”, diz.

Oncologista do Cebrom Oncolínicas, Lanuscia Santana | Foto: Arquivo pessoal

Dentre as principais causas desse vírus, estão os homens, que contribuem para a infecção nas mulheres. “Estima-se que mais de 70% dos parceiros de mulheres com infecção cervical por HPV são portadores do DNA deste vírus”, revela a oncologista. O ato sexual sem proteção, início precoce da vida sexual, número de parceiros sexuais, higiene genital inadequada, alterações da imunidade celular, ausência da circuncisão masculina, tabagismo e presença de outras DSTs, são alguns fatores de risco dessas infecções.

No caso do contato sexual sem proteção, há a penetração do vírus na camada profunda do tecido epitelial, tecidos constituídos por células geralmente poliédricas, justapostas, entre as quais se encontra pouca matriz extracelular. Entretanto, a transmissão pode ocorrer pelo contato direto ou indireto com lesões em outras partes do corpo. “Ainda é descrita a transmissão vertical durante a gestação ou no momento do parto”, acrescenta.

Em relação à incidência dos casos, a especialista afirma que ocorre em aproximadamente 75% da população sexualmente ativa exposta ao vírus. No Brasil, a cada ano, são registrados 137 mil novos casos de infecção por HPV, segundo o Ministério da Saúde.

Sintomas, diagnóstico e tratamentos

De acordo com a oncologista, a maior parte das infecções por HPV se manifesta de uma forma benigna e geralmente subclínica, ou seja, que não produz manifestações ou efeitos detectáveis através de exames clínicos regulares. “Pode ainda se manifestar clinicamente como lesões tipo “couve-flor”, popularmente conhecida como “crista de galo”, em qualquer parte do genital masculino e região perianal, podendo ocorrer ainda na boca, sendo imprescindível a avaliação de todos os locais do corpo”, detalha.

Para detectar o vírus no corpo, o paciente precisa se submeter a um exame físico detalhado dos genitais, região perianal e boca. Além disso, na avaliação do paciente inclui informações sobre o número de parceiros sexuais, tipos de práticas sexuais e a presença de DSTs no passado.

No que diz respeito a tratamentos, a médica explica que de modo geral não existem medicamentos por via oral capazes de eliminar infecções por vírus. “A maioria das medicações contra qualquer tipo de vírus atua na redução da carga viral e/ou estimulando o sistema imunológico a ficar mais forte e assim conseguir eliminar o vírus”, explica. 

A vacina contra o vírus é oferecida gratuitamente para meninos e meninas de 9 a 14 anos, com o esquema vacinal composto por duas doses, com intervalo de seis meses. Também é aplicada em homens e mulheres com HIV de 9 a 45 anos de idade. Nestes casos o esquema é de 3 doses.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), a cobertura vacinal de mulheres em Goiás é de 62,05% para a primeira dose e 45,45% para a segunda, em 2023. Em relação ao público masculino, 33,94% dos homens tomaram a primeira dose e 18,48% tomaram a segunda.

Após contrair vírus HPV, mulher alerta para prevenção

Dalva Isabela Alves, de 47 anos, descobriu o HPV em seu corpo em 2017 enquanto fazia exames de prevenção e logo também soube que o vírus desencadeou em um câncer de colo do útero. “Fiz a biópsia e deu carcinoma grau 3”, conta a mulher. Ao receber o diagnóstico, um turbilhão de coisas passou pela cabeça de Dalva, que era casada na época. “Primeiramente eu achei que o meu mundo ia desabar, porém a minha família ficou totalmente do meu lado. Assim, eu consegui vencer”, narra. Como a principal forma de transmissão é por meio do ato sexual, a mulher achou que poderia ter contraído o vírus devido à traição no casamento, que posteriormente, chegou ao fim.

“Tinha dois anos que eu não fazia o meu preventivo. E foi nesses dois anos que eu peguei tudo isso”, afirma Dalva, que atualmente alerta as mulheres a se protegerem contra o vírus. “ O alerta que eu faço é que cada mulher, faça a prevenção de ano em ano e que independente do parceiro, nunca faça relações sexuais sem camisinha”.

Dalva Isabela Alves, de 47 anos, descobriu o HPV em seu corpo em 2017 | Foto: Arquivo pessoal

Dessa forma, é preciso se proteger do vírus. Esta proteção implica em tomar a vacina HPV que tem como objetivo evitar a infecção. A vacina aprovada no Brasil é indicada para meninas e mulheres de 9 a 45 anos e para meninos e homens de 9 a 45 anos de idade. “É administrada por via intramuscular e pode ser feita no braço ou na coxa”, explica a médica a Lanuscia Santana, oncologista do Cebrom Oncoclínicas.

Lanuscia Santana destaca ainda que, para pacientes com idade abaixo de 15 anos completos, são duas doses com 6 meses de intervalo. Já para pacientes com 15 anos ou mais são 3 doses: a segunda um ou dois meses depois da primeira e a terceira dose 6 meses após a primeira. “A vacina nonavalente, que oferece proteção contra 9 tipos do vírus, já foi aprovada pelo Ministério da saúde e  está disponível no Brasil”, pontua.

Dalva conta que esteve casada durante 25 anos. “Nunca traí o meu marido e peguei um HPV. Inicialmente eu nem estava acreditando porque eu confiava plenamente no meu marido”, relata.

“Quando eles me falaram que eu peguei um câncer de colo de útero pelo HPV, simplesmente o meu mundo caiu, que eu sabia que era uma doença transmissível e que eu nunca tinha traído o meu marido”, relembra. “Então eu peço para as mulheres que nunca transe sem camisinha, mesmo que seja com seu parceiro”, alerta.

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