Evento em Goiânia debate como saberes ancestrais podem auxiliar na cura de doenças

Encontro Municipal do Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra ocorreu nesta quarta-feira (25)

Postado em: 26-10-2023 às 08h20
Por: Ronilma Pinheiro
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Encontro Municipal do Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra ocorreu nesta quarta-feira (25) | Foto: Freepik

“Um Diálogo sobre os Saberes Ancestrais: Mãos que Curam, Ervas e Raízes que Renovam a Saúde Mental e Física”, esse foi o título do primeiro Encontro Municipal do Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra, que aconteceu nesta quarta-feira (25), em Goiânia.

O evento promovido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas (SMDHPA), tratou de saúde, importância da saúde mental e física, bem-estar e tradições culturais da população negra, destacando os saberes ancestrais transmitidos ao longo das gerações desse povo.

Ao longo do evento, temas como os saberes ancestrais e as práticas tradicionais de cura, incluindo métodos que utilizam ervas medicinais foram discutidos, além do debate sobre políticas públicas para a saúde mental e física da população negra; bem como oficinas práticas e demonstrações de técnicas de cura.

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A superintendente Ângela Café explica que a iniciativa é resultado de um trabalho de pesquisa que vem sendo desenvolvido, onde a secretaria faz um mapeamento da cultura afro-brasileira em Goiânia. Uma das populações pesquisadas foi a população negra que realiza trabalhos com manipulação de ervas. “É uma experiência secular, por isso realizamos esse encontro para ouvirmos essas expertises”, afirma a superintendente. Ângela disse ainda que espera que haja continuidade do projeto nos próximos anos.

Segundo ela, à medida que um encontro como este é promovido, o diálogo é proporcionado, tanto entre as  pessoas que fazem esse tipo de medicina curativa e a academia, uma vez que entidades educacionais, como a Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Estadual (UEG) e o Instituto Goiano (IFG) foram convidados a participar do evento, tanto entre a população de modo geral, que é beneficiada com estes saberes.

“Quantos de nós já tivemos experiências nesse sentido? Todo mundo usa um chazinho ou um unguento de forma não convencional”, destaca a superintendente.

A superintendente pontua ainda a importância de ouvir também a comunidade que trabalha com as ervas,  com o objetivo de entender quais as políticas públicas necessárias para essas pessoas e saber se elas têm dificuldades em obter essas ervas. 

Adelbiane Conceição Campos, gerente de Articulação de ações temáticas de Igualdade Racial da Superintendência, disse ao jornal O Hoje que o projeto surgiu a partir de uma pesquisa de mestrado realizada por ela enquanto estudante de história da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Adelbiane, mais conhecida como Bia, é mestre em História pelo Programa de Mestrado em Estudos Culturais Memória e Patrimônio – PROMEP, da UEG.

Ela foi uma das palestrantes do encontro, onde trouxe a discussão sobre a cura por meio das ervas medicinais do cerrado, que é parte da sua pesquisa. “A minha pesquisa de mestrado é sobre o poder de cura das ervas medicinais. A pesquisa foi relacionada ao saber ancestral. Esse saber ancestral vem dos africanos e indígenas que chegaram no Brasil”, explica a gerente.

O resultado da pesquisa de Bia é um catálogo de ervas e benzedeiras que utilizam das ervas tanto em terreiros de religiões de matriz africanas como a umbanda e o candomblé, quanto nos chás das mães e avós que utilizam desses remédios “para curar uma gripe ou usar em crianças que nascem com icterícia”, por exemplo. 

Como o evento foi voltado para a saúde da população negra, os cuidados das ervas medicinais e como as pessoas negras e indígenas tratavam e tratam até hoje a saúde dentro dessa linha curativa, foram trazidos para o debate. “Então, são estratégias que vêm de pessoas negras, de tradições, que vêm se reinventando ao longo dos anos para solucionar problemas de saúde, como o benzimento e a cura através das ervas medicinais”, detalha.

Também fizeram parte da programação do evento: rodas de conversas com representantes de terreiros, onde foram abordadas questões sobre os cuidados da saúde mental, física e espiritual; além de rodas de conversas sobre benzimentos.

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