Musicoterapia contribui para tratamento contra vício em drogas e depressão

Lei promulgada na Câmara Municipal traz luz para a importância do uso da técnica para cuidado de pessoas que normalmente não respondem a tratamentos com medicamentos, por exemplo

Postado em: 27-10-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
Imagem Ilustrando a Notícia: Musicoterapia contribui para tratamento contra vício em drogas e depressão
A Musicoterapia é uma ciência que utiliza a música para, acima de tudo, desenvolver as potencialidades do indivíduo | Foto: Arquivo Pessoal

Fernanda Ortins Silva tem uma lista grande de histórias de homens e mulheres que foram transformadas pela musicoterapia há quase duas décadas como musicoterapeuta. Formada em Música pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a musicoterapeuta plantou, no método, chances de mudar o destino de pessoas que estavam enfiadas na depressão, perdidas nas drogas ou adoecidas sem qualquer perspectiva. 

Foi assim com Davande Mendes, de 58 anos, ex-viciada em drogas. Ela conheceu Fernanda Ortins há cerca de seis anos, através do Caps Negrão de Lima em Goiânia, estabelecimento de saúde de atenção psicossocial. A mulher define o encontro como um “acolhimento genuíno”. “Ela me fez sentir aceita e a ter esperança de voltar a vida com dignidade e esperança, apesar de ser uma profissão pouco conhecida ela pode sim mudar a vida de pessoas”, afirma.

Depois de passar pelas sessões de musicoterapia com a profissional,  Davande Mendes pode voltar a ter a vida normal que tinha antes de se entregar aos vícios. “Eu aprendi a estar limpa, voltei a vida e hoje tenho um trabalho. Me reeducar era a meta”, relata a mulher ao comemorar que venceu o período obscuro em que viveu por anos.

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Para ela, a musicoterapeuta foi como uma luz no fim do túnel, que chegou no momento em que talvez não houvesse mais soluções para a sua vida. “Encontrei a Dra Fernanda, pessoa que se doa além do comum e isto chamou minha atenção”, relata. “Era uma pessoa normal, desconhecida, que estava ali pronta para te dar a mão sem querer algo em troca”, acrescenta. 

A Musicoterapia é uma ciência que utiliza a música para, acima de tudo, desenvolver as potencialidades do indivíduo. Dar sentido à vida. Na musicoterapia, todos os elementos musicais são utilizados, até mesmo o silêncio, como afirma a psicoterapeuta.

Esse tipo de tratamento consiste no uso da música e seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) para gerar estímulos cerebrais, o que é assegurado, agora, pela Lei 11.059, de autoria da vereadora Sabrina Garcez, em Goiânia. A lei foi promulgada pelo presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Romário Policarpo (Patriota) e o texto foi publicado na última segunda-feira (23) no Diário Oficial do Município (DOM).

O objetivo da nova legislação é atender pessoas com deficiência, transtornos mentais, doenças crônicas, síndromes, Transtorno do Espectro Autista (TEA), neonatos e gestantes. “A musicoterapia tem um poder terapêutico indiscutível. Os benefícios são alcançados a curto, médio e longo prazo, e os resultados podem ser mantidos por toda a vida”, comemora a vereadora Sabrina Garcez.  Além disso, a Secretaria Municipal de Educação (SME) deverá destinar funcionários certificados para o desempenho da atividade, segundo o texto.

Para Fernanda Ortins, quando se cria uma lei pensando em políticas públicas, é possível pensar numa história, numa continuidade de atendimento à população que precisa. “É possível garantir às crianças, adultos, idosos, um melhor tratamento e acompanhamento para lidar consigo, com a escola e com o mundo”, afirma.  A especialista destaca ainda a sensibilidade da vereadora em propor a lei e pontua que é necessário criar cada vez mais políticas públicas que possam atender de maneira efetiva a população.

Através da música, os aspectos físicos, mentais, sociais, culturais e emocionais do indivíduo, podem ser desenvolvidos, segundo Fernanda Ortins. “Nós vamos até o tempo mental do paciente, onde ele está mentalmente, cognitiva, emocionalmente, para que a gente possa partir daquele tempo que o paciente está, começar a desenvolver os estímulos”, explica. A técnica pode ser realizada individualmente ou em grupo, e objetiva facilitar a organização e a forma de se relacionar dos pacientes.

“Nós vamos utilizar o ritmo, a melodia, a harmonia, músicas prontas que a gente pode fazer recriação, audição musical. Nós podemos compor, nós podemos improvisar”, detalha a musicoterapeuta. Para isso, são usados instrumentos musicais como violão, flauta, piano, instrumentos de percussão, ou até mesmo instrumentos não convencionais como o próprio corpo do paciente. “Os sons que ele produz, a voz e todos os elementos que compõem o ser humano, também são utilizados”, acrescenta.

A musicoterapia vai de encontro às necessidades e demandas de cada pessoa, independente da idade ou patologia. Ela é utilizada em diversas áreas que haja demanda, seja na recuperação da saúde, reabilitação, ou simplesmente para uma melhor condição de vida. “A musicoterapia é para quem deseja se conhecer melhor, se compreender melhor e tentar ser uma pessoa melhor”, pontua Fernanda Ortins.

No caso de quem sofre com o Transtorno do Espectro Autista, o tratamento com a musicoterapia vai depender da necessidade e nível de cada uma deles. Existem aqueles autistas que não falam, por exemplo e nesses casos, a terapia vai estimular a fala, partindo dos aspectos não verbais. “ Partimos da conversa entre os instrumentos musicais. A pessoa toca, eu toco, nós tocamos juntos”, exemplifica.

A partir desta atividade os recursos da pessoa são ampliados e aquele que tem dificuldades de se comunicar passa a entender que há momentos de falar e de ouvir o outro. “E a gente não precisa fazer isso através do verbal, a gente faz isso através do musical. E aí ela começa a adquirir habilidades para que ela possa saber esperar o outro falar”, explica.

Para Fernanda, a atividade não se trata apenas de um treinamento, mas de uma vivência, experiência musical que passa a ser uma experiência de vida.

As sessões, podem ser individuais ou em grupo, depende da necessidade de cada paciente. “ Se eu tenho um paciente não verbal, com deficiência, paralisia, que eu preciso trabalhar com ela a comunicação, o movimento, o ritmo, o corpo, então eu vou planejar uma sessão específica para ela. Essa sessão será individual”, explica.

Para os atendimentos em grupos, depende do que cada pessoa traz para o atendimento. Em um grupo de adolescentes infratores, com dependência de álcool e outras drogas, por exemplo, é preciso falar sobre raiva, medos, sobre os pais, os conflitos, sobre a pressão da escola e pressão dos pais, segundo a especialista.

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