Como as redes sociais impactam a saúde mental

Jovem que precisou se ausentar da internet para recuperar a saúde mental define o ambiente virtual como algo “desafiador”

Postado em: 31-10-2023 às 08h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Jonas Silva Júnior de 21 anos até que tentou ficar um tempo distante das redes, mas foi suficiente para perceber os próprios limites no ambiente virtual | Foto: Leandro Braz

Basta um clique para elas romperem barreiras geográficas, conectando pessoas em todo o mundo por uma extensa rede de comunicação. Elas aproximam aqueles que estão longe e criam relacionamentos. Curtidas, comentários, compartilhamentos, inúmeras postagens por dia, seja da vida pessoal, do negócio próprio ou mesmo de corporações assessoradas. Tudo isso faz parte do universo das redes sociais, onde tudo acontece o tempo todo.

Os conteúdos são infinitos. Têm para todos os gostos. Educativos, informativos, estéticos, esportivos, gamers. Parece o ambiente perfeito para se estar. O que poderia então fazer com que alguém por si só, tomasse a iniciativa de desconectar-se dessa rede tão ampla e cheia de coisas a oferecer? Afinal de contas, estar conectado é sinônimo de contemporaneidade, de estar bem informado, de fazer parte do novo, principalmente quando se trata de um jovem de 16 anos.

Esta foi a decisão de Jonas Silva Júnior, hoje com 21 anos, há cerca de cinco anos, quando percebeu que o mundo virtual o estava adoecendo. O estudante de Inteligência Artificial na Universidade Federal de Goiás (UFG) que desde 2012 interagia com amigos nas redes sociais, decidiu que em 2018 era a hora de fazer uma pausa, de parar para respirar um pouco, ou de recalcular a rota no mundo onde tudo é tão perfeito.

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Para Jonas, as comparações eram inevitáveis, já que segundo ele, as pessoas estão sempre alimentando a ideia de vida e corpo perfeitos, e querem a todo custo demonstrar que não têm problemas reais. “Quando estamos ‘off-line’ nos deparamos com uma realidade diferente do que se é cultivado dentro do mundo ‘online’”, afirma o estudante.

Ambiente tóxico

Jonas destaca também a toxicidade no mundo virtual entre os usuários que comentam suas opiniões sem se preocupar com quem vão ofender ou prejudicar. “Muitos usuários ainda acham que as redes sociais são uma terra sem lei, onde podem despejar ódio e preconceito em forma de opinião, já lidei com diferença de opinião e as pessoas se tornam agressivas”, relembra.

Ele define o ambiente virtual como algo “desafiador”, que requer das pessoas uma inteligência emocional grande para lidar com ele”. Na época, o jovem não procurou ajuda médica, e precisou lidar com a situação sozinho – em que chegou a ser alvo de ataques racistas -, o que culminou no afastamento do ambiente virtual por um tempo. Para ele, foi essencial o afastamento. “Foi necessário, acredito que a toxicidade das redes sociais é prejudicial e nos afastar e tirar um tempo em “off” é sempre necessário”, afirma.

Raimunda Delfino dos Santos Aguiar, Técnica em Assuntos Educacionais do Instituto de Informática da UFG e especialista em psicologia e psicanálise, diz que as redes sociais podem interferir na saúde mental das pessoas, e isso vai depender da quantidade de tempo que essa pessoa passa nesse universo virtual. 

Segundo ela,  quanto maior o tempo gasto nesses ambientes, maior a sensação de que nas 24 horas do dia não cabem todas as tarefas que precisamos executar. “Daí vem a ansiedade, as cobranças internas, a falsa sensação de que todas as outras pessoas que postam vídeos ou fotos no instagram, por exemplo, são felizes, bonitas e bem sucedidas”, diz.

Vazio

Aguiar afirma que, após horas de imersão nas redes sociais, uma sensação de vazio começa a se estabelecer na alma desse indivíduo, que, ao voltar-se para a sua própria vida, seus afazeres, sua família, emprego, dentre outras coisas que fazem parte do cotidiano, deseja encontrar aquela “pseudo perfeição das postagens que ele acabara de ver, os anúncios de produtos, viagens e de coisas inacessíveis a ele”.

A psiquiatra Silvia Marchant, destaca que todo excesso é prejudicial. “É necessário o uso equivalente à sua necessidade e para sua real comunicabilidade. Quando você se afasta das pessoas por causa do uso das redes sociais, você já está em erro”, pontua a especialista.

Quando utilizadas sem moderação, as redes sociais podem acarretar diversas problemáticas à vida do usuário, como a ansiedade, frustração e, consequentemente, a depressão. “A rapidez da informação provoca cansaço mental e até mesmo uma falsa impressão de Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA), por não conseguir acompanhar na velocidade midiática”, destaca Marchant.

A especialista define a rapidez das informações, o que dificulta o processamento e metabolização de todas as emoções provocadas pelo excesso de informações, como um “verdadeiro bombardeio”.

O tempo indicado pela psiquiatra para estar fora das redes sociais ou de telas em geral antes de dormir é de pelo menos 3 horas, uma vez que o cérebro precisa deste “desacelerar”, para poder descansar. Além disso, Marchant pontua que é preciso ter horário de uso das redes, de descanso e de leitura.

Raimunda Delfino, também orienta que, se o uso das redes sociais já se tornou um vício, é necessário criar novos hábitos. “Inserir na rotina, aos poucos, atividades prazerosas, produtivas, que dê a essa pessoa esse sujeito uma recompensa, produza serotonina em seu organismo e ele não precise ir buscar essa recompensa nas redes sociais com tanta frequência, nem gaste horas valiosas do seu dia com isso”, orienta.

No entanto, é importante ressaltar que existem aqueles que têm as redes sociais ou a internet como meio de trabalho. Para essas pessoas, ficar fora desse ambiente, é algo quase impossível. É o caso de Jonas, que precisou voltar para as redes por causa do trabalho de programador. “As redes sociais fazem parte da minha vida profissional e hoje consigo vê-las com o olhar de usuário e de programador”, afirma.

Segundo o jovem, ainda há muito o que melhorar em relação às condutas para combater crimes e violência nas redes sociais, além de impulsionamento no que diz respeito às formas de valorização e o cuidado com a saúde mental. 

Atualmente Jonas faz acompanhamento terapêutico. “Faço terapia pois percebi que a terapia é importante para todos independentemente de qualquer coisa. Cuidar da nossa saúde mental é importantíssimo”, diz.

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